
Crédito, Luiz Silveira/STF
- Author, Mariana AlvimMariana Alvim
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
“Se o Bolsonaro precisar de eu levar cigarro pra ele em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto”, afirmou o advogado, durante a sustentação oral defendendo Garnier.
A frase veio após Demóstenes Torres contar uma história que teria ocorrido após sua passagem pela política — ele teve o mandato de senador cassado por acusações de corrupção em 2012.
Em 2016, quatro anos após ser cassado, o STF acatou a tese de sua defesa e anulou as provas da investigação que o acusou.
Segundo Torres, ele estava no aeroporto de Brasília quando avistou Bolsonaro passando por ele, sem parar.
O advogado disse que se sentiu ignorado por Bolsonaro.
“Aí ele parou naquele lugar que passa o raio-X, olhou, me viu, voltou correndo, me deu abraço e falou: ‘Senador, para mim não aconteceu nada'”, relatou Demóstenes Torres à Primeira Turma do STF, emendando então na frase sobre o cigarro.
“É possível gostar do ministro Alexandre de Moraes e ao mesmo tempo gostar do ex-presidente Bolsonaro? Sim, sou eu”, disse, despertando gargalhadas.
Depois, o advogado brincou que seria a única pessoa no Brasil a gostar tanto de Bolsonaro quanto de Moraes.
Assista

Com 1h para defender Garnier, Torres passou 20 minutos elogiando e cumprimentando os ministros da Primeira Turma — incluindo Moraes.
“Quer enfrentar Moraes? Use instrumentos republicanos. Está insatisfeito com suas decisões no STF? Recorra. É o que os advogados têm feito. Supõe saber mais de direito constitucional do que ele? Debata nos autos e audiências, mostre conteúdo intelectual e documentos. Publique artigos e livros. Tudo sem nada de discurso de ódio”, afirmou o advogado, citando trecho de um artigo de sua própria autoria publicado em 2023.
Depois, Torres pediu a “rescisão” da delação do réu Mauro Cid — uma das evidências usadas pela acusação.
Entretanto, ele não explicou a diferença exata entre anulação e rescisão.
“Isso implica no desmonte total da ação penal? Não. Haverá apenas o trabalho de se dizer qual prova foi produzida efetivamente, independente da colaboração viciada”, defendeu.
Torres pediu também que o processo tenha uma “individualização”, ou seja, deixe claro o que cada réu teria feito.
Sem apresentar provas ou qualquer argumento, o advogado disse que o resultado do julgamento, independente de qual seja, “não vai permanecer”.
“Tudo vai passar por uma revisão”, afirmou.

Crédito, Reprodução/TV Justiça
Os altos e baixos de Demóstenes Torres
Figura célebre na política nacional, Torres fez carreira como promotor no Ministério Público de Goiás (MP-GO) e como secretário de Segurança Pública de Goiás, antes de entrar na disputa por cargos eletivos.
Em 2002, foi eleito senador e reeleito oito anos depois, em 2010. Destacou-se como opositor de Lula em meio ao escândalo do Mensalão.
Em 2012, porém, seu nome veio à tona em investigações relacionadas ao empresário Carlinhos Cachoeira, suspeito à época de ter ligações com o jogo do bicho.
Demóstenes foi acusado de agir no Congresso, no Judiciário e no Executivo em favor do empresário.
Em troca, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador teria recebido R$ 3,1 milhões do grupo do empresário, além de presentes.
Em julho de 2012, ele foi cassado pelo Senado, tornando-se o segundo senador na história a ter o mandato cassado pela Casa.
À época, o senador disse que não beneficiou Cachoeira e que não recebeu dinheiro dele. O então parlamentar afirmou que a Polícia Federal teria feito uma “divulgação seletiva” das gravações de suas conversas com Cachoeira, com o objetivo de prejudicá-lo.
A defesa de Demóstenes passou, então, a questionar a validade das gravações como prova no processo uma vez que elas não teriam sido feitas com autorização do STF, a instância supostamente adequada para autorizar esse tipo de medida contra parlamentares com foro privilegiado.
Em 2016, quatro anos após ser cassado, o STF acatou a tese de sua defesa e anulou as provas da investigação ligando seu nome a Carlinhos Cachoeira.
Nos últimos anos, Torres ainda tentou voltar à vida política e se candidatou a deputado federal por Goiás em 2018, mas não conseguiu se eleger. Obteve 27.801 votos, menos de 1% do eleitorado.
Desde então, Torres vem se dedicando novamente à carreira jurídica e hoje comanda um escritório de advocacia com uma equipe de aproximadamente 20 pessoas.
Ele já atuou em casos de repercussão nacional como o do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, condenado a mais 118 anos de prisão por crimes sexuais.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL