O ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, 36, conhecido como TH Joias, foi levado nesta quarta-feira (3) para depor na Polícia Federal, que prendeu no mesmo dia o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil).
TH está detido desde setembro sob suspeita de atuar para o CV (Comando Vermelho).
A PF retirou o ex-deputado do Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, e o levou à Superintendência da corporação, na região portuária da cidade. A operação mira suspeitas de vazamento de informações sigilosas que teriam dificultado a investigação que levou à prisão de TH. Bacellar é apontado como responsável por repassar dados internos da apuração, segundo a PF.
O ex-deputado permaneceu pouco menos de duas horas na sede policial —chegou por volta das 13h20 e saiu às 15h— e ficou em silêncio. Seu advogado, Rafael Faria, afirmou que a defesa não havia tido acesso aos autos da operação.
A corporação sustenta que a obstrução das investigações ocorreu porque agentes públicos avisaram o ex-deputado sobre a ofensiva. No dia da deflagração da Operação Zargun, em setembro, o procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José Campos Moreira, já havia dito que houve dificuldade para localizá-lo. Ele não estava em casa, na Barra da Tijuca, quando as equipes chegaram, e só foi encontrado horas depois na residência de um amigo.
TH Jfoi preso em 3 de setembro numa ação conjunta das polícias Civil e Federal, do Ministério Público e da Procuradoria-Geral de Justiça, que deteve outras 14 pessoas —entre elas, um assessor direto do então deputado.
As autoridades afirmam que havia indícios de que o parlamentar usava o mandato para favorecer o Comando Vermelho e realizava tratativas ligadas ao tráfico de drogas e armas.
Segundo a Polícia Civil, as investigações reuniram “provas robustas” de que ele intermediava compra e venda de fuzis, drogas e equipamentos antidrones. Esses dispositivos, conforme a denúncia, eram utilizados para impedir operações policiais em áreas dominadas pela facção. A Promotoria também acusa TH de ter nomeado para cargos na Alerj pessoas investigadas por envolvimento com o CV.
Campos Moreira chegou a afirmar que o mandato do então deputado servia “basicamente, e unicamente” para beneficiar a organização criminosa.
Ainda de acordo com o procurador-geral, no dia anterior à prisão o ex-parlamentar deixou a casa “completamente desarrumada”, o que, para o Ministério Público, sugeria tentativa de fuga e destruição de possíveis vestígios.
Após a prisão, o MDB decidiu expulsá-lo. Nesta quarta-feira (3), a sigla publicou nas redes sociais a sentença que cancelou sua filiação e reafirmou que ele não integra mais o partido pelo qual iniciou sua trajetória política.
Nascido no Morro do Fubá, na zona norte do Rio, TH cresceu no ambiente da joalheria do pai e herdou o negócio após sua morte. Transformou o ateliê em marca de luxo e ganhou notoriedade no meio artístico ao produzir peças personalizadas para celebridades como Neymar, Vini Jr., Adriano Imperador e Ludmilla.
A ascensão, porém, virou alvo de investigação. Parte das joias confeccionadas pela empresa, segundo apurações posteriores, era feita com ouro roubado.
Além do negócio, TH se aproximou do mundo do samba e de projetos sociais. Patrocinava eventos, financiava atletas e músicos, e circulava em camarotes de carnaval. A entrada na política ocorreu por meio do ex-policial Marcos Falcon, então presidente da Portela, morto em 2016 durante campanha à Câmara Municipal.
TH teve 15.015 votos nas eleições de 2022 e herdou a cadeira após a morte do deputado Otoni Moura de Paulo. O suplente imediato, Rafael Picciani (MDB), permaneceu na Secretaria de Esportes e abriu espaço para sua posse. Em 2024, após obter habeas corpus para responder a processos em liberdade, consolidou o mandato e passou a presidir a Comissão de Defesa Civil da Alerj.
Histórico criminal
A prisão deste ano não foi a primeira. Em 2017, TH ficou nove meses detido e foi condenado por lavagem de dinheiro. Na ocasião, investigadores afirmaram que ele usava a joalheria para lavar recursos do tráfico e repassava informações obtidas com policiais a facções rivais —CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos)— mediante pagamento semanal de R$ 11 mil.
Ele também responde a processos por tráfico de drogas, corrupção, formação de quadrilha e comércio ilegal de armas. As autoridades sustentam que, além de intermediar negociações para o Comando Vermelho, TH tinha participação na contabilidade criminosa que movimenta o tráfico no Rio.
Fonte.:Folha de S.Paulo


