Até a semana de 25 de Julho, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, meio ano se passou.
E muitos acontecimentos importantes se fizeram: o governo americano taxando produtos e construindo uma guerra internacional — com impacto em diversos países, incluindo o Brasil —, a partida de um papa e de nossa mulher negra corajosa Preta Gil, conflitos desumanos, que expõe populações inteiras à fome…
Em meio à tanto, nos perguntamos: que mundo é esse?
O racismo estrutural
Que mundo é esse que apresenta de forma sistêmica representações e ações institucionais que perpetuam desigualdades de gênero, sociais e raciais? Ou acentuam lacunas entre diferentes etnias? Para isso usamos um termo reconhecido como racismo estrutural. Situação que frequentemente atinge mais a população negra, pois as ações se acumulam ao longo dos anos.
Historicamente, o Brasil é um mau exemplo no combate ao racismo estrutural. Além de ser o último país das Américas a abolir a escravidão, mantém o mito da democracia racial e não implementou efetivamente políticas públicas de reparação para os descendentes da diáspora africana, deixando esta população ao acaso, com inserções descoordenadas de círculos econômicos, sociais e educativos.
Diante desse cenário, torna-se fundamental uma escuta ativa para compreender os efeitos do racismo estrutural e também do racismo institucional, que acontece nas empresas e que interfere na saúde biológica e mental da população negra brasileira.
O efeito do racismo estrutural em dados
O racismo presente em nosso país impõe barreiras para o pleno acesso da população negra à saúde, educação, alimentação, trabalho e entre outros setores da sociedade.
Segundo estudo do IMDS Brasil, no período de 2010 a 2019, a expectativa de vida ao nascer estimada para mulheres brancas foi de 77,26 anos, enquanto para mulheres negras foi de 72,58 anos.
Para os homens, a expectativa de vida ao nascer entre os brancos era de 71,32 anos, enquanto entre os negros foi de 64,8 anos. Essa disparidade evidência como a desigualdade social encurta a longevidade desta população.
As múltiplas formas de exclusão resultam em condições precárias de saúde física e mental, insegurança financeira e profissional, e maior exposição à violência, comprometendo a qualidade e a duração da vida da população negra.
Ainda, diversas experiências negativas causadas pelo racismo provocam um grande sofrimento emocional, o que frequentemente leva a danos psicológicos, como: falta de confiança, ansiedade, depressão, baixa autoestima e identidade racial fragilizada.
Segundo texto de Diana Anunciação e Laise Brito, estas condições levam ao trauma racial, e, quanto mais esta população envelhece, além das rugas ela também carrega as batalhas contra a desigualdade e preconceitos. É uma realidade que não deveria fazer parte do processo de envelhecimento.
+Leia também: Racismo é capaz de acelerar o processo de envelhecimento
Como a política pode mitigar tais impactos
Compreendendo tais fatos, concluímos que são necessárias medidas governamentais focadas na melhoria das condições de vida da população negra. Abordando, sobretudo, os imensos impacto na saúde, de natureza multidimensional, que resultam em sua menor expectativa de vida.
O fortalecimento de políticas públicas é necessário, como tem acontecido com a Política de Saúde da População Negra proposta pela Secretaria de Saúde da Cidade de São Paulo.
Na Secretaria, uma equipe potente alocada na área de Promoção da Saúde liderada por Adalberto Kiochi Aguemi, coordenada por Valdete Ferreira Santos, Tula dos Reis Laurindo e Daniel Almeida dos Santos, atua em frentes como educação permanente em saúde, ampla divulgação do racismo das unidades de saúde, ações técnicas como preenchimento do quesito raça-cor na identificação dos usuários do SUS, ampliação do diagnóstico de anemia falciforme, entre outros.
Por meio de ações concretas, como a acima apresentada, e o compromisso social em prol da equidade racial, será possível construir uma sociedade mais justa e saudável para todos. Este compromisso de transformação social é urgente.
Todas as pessoas, independentemente de sua etnia, precisam desfrutar da vida, do nascer à senescência, com um processo de envelhecimento digno e pleno. A transformação começa com a desconstrução do olhar preconceituoso que historicamente marginaliza os descendentes de África.
Para que ocorra combate ao racismo em todas as suas manifestações, é preciso promover uma mudança cultural profunda, valorizando a diversidade em todas as suas formas, para que a vida não seja um privilégio racial, mas sim, uma jornada de bem estar para todos que a vivenciam.
*Jadson Marques Dantas é obstetriz pela Universidade de São Paulo e mestrando no Programa de Mestrado Profissional em Atenção Primária em Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Este texto foi construído com auxílio dos estudantes do 6º semestre do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo: Lucca Montini Argenton, Marcella Ayres Rosseli, Natália Cogo Gonçalves ,Victor Magoço,Franccini Simi Pissini, Guilherme Franco Zilio, Júlia Malvestio Petersen ,Laura Pedron de Camargo Aranha, Nicole Schena de Oliveira, Gabriela de Souza Lima , Maria Luísa Pedroza Guimarães, Maria Vitória Chacur Araújo Pereira,Mariana Ferreira Marques, Mariana Mantovani Cocenzo Garilli,Adele Cristina P. de Freitas, Ana Carolina da Silva Oliveira, Carlos Augusto Melo, Jose Delfino, Ilgner Lopes de Paula e da docente educadora física Renata Osti.
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Fonte.:Saúde Abril