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7 de novembro de 2025

Restaurante Tacacá do Norte é reduto amazônico no Rio – 06/11/2025 – Restaurantes

Restaurante Tacacá do Norte é reduto amazônico no Rio – 06/11/2025 – Restaurantes

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A culinária paraense e amazônica tem, há décadas, um legítimo representante no Rio de Janeiro. Com donos, chefs e insumos vindos do Pará, o Tacacá do Norte vem apresentando aos cariocas toda a riqueza dessa comida regional desde 1973, sem concessões, com receitas fiéis às originais.

Começando pelo prato mais popular no sudeste, o açaí é oferecido conforme a tradição, como é consumido entre a população ribeirinha, nas barracas de rua e do mercado Ver-o-Peso, em Belém: com a polpa pura e processada, na forma de um creme espesso, servida com peixe frito —filhote, pescada ou pirarucu (R$ 74)—, camarão seco (R$ 67) ou charque (R$ 64).

O garçom explicou que as opções que acompanham o creme são bem salgadas, para “acender” o aroma e o sabor do açaí. Uma porção de farinha d’água (R$ 4) cairia bem porque daria mais consistência ao prato, recomendou.

Aceitei a sugestão e optei pela versão com camarão seco, que cumpriu com louvor o seu papel de salgar e realçar os sabores, e fui acrescentando a farinha, azedinha, feita de mandioca fermentada.

O resultado é uma delícia ainda desconhecida por muita gente de fora da região Norte e que, segundo o gerente, costuma se surpreender positivamente. “É impactante para quem nunca comeu o açaí sem ser doce.”

Caranguejo e peixes amazônicos são servidos de várias formas, seja como belisquetes, entradas ou principais. O pirarucu pode, por exemplo, vir como recheio de um bem fornido pastel (R$ 17), temperado com chicória-do-pará, erva usada no tacacá, ou na chapa, com filé de filhote, charque, camarão e carne (R$ 300). É a mais robusta e mais cara refeição da casa.

Prato de origem indígena que dá nome ao estabelecimento, o tacacá (R$ 39) é um caldo quente, fervendo, feito com tucupi (líquido extraído da mandioca brava), goma de tapioca, camarão seco e jambu. Ele é servido em cuias de madeira, como no Pará. Até vem uma colher ao lado, mas é quase uma gafe utilizá-la.

Toma-se o tacacá, de acidez peculiar que às vezes puxa para o salgado, levando a cuia direto à boca. Palitos e garfinhos de madeira são disponibilizados para o comensal espalhar a goma, engrossando o caldo, e também para pescar camarões e folhas de jambu, erva que provoca certa dormência na boca. Este trecho “tacacá for dummies”, mais didático, pode parecer exagerado, mas o considero importante para quem nunca o experimentou.

Além do tacacá, do açaí e de peixes amazônicos, a casa paraense do bairro do Flamengo tem em seu menu vários pratos típicos regionais, como caranguejo refogado (R$ 80), pato no tucupi (R$ 110) e a maniçoba (R$ 93), uma espécie de feijoada sem feijão.

Ela é feita com carnes salgadas e defumadas e folhas da mandioca (maniva) moídas e cozidas por sete dias, tempo necessário para eliminar o ácido cianídrico da planta, tóxico para o organismo.

Frutas como murici, taperebá, cupuaçu e bacuri dominam o cardápio dos sucos, servidos em copo ou em simpáticas jarras de um litro (de R$ 36 a R$ 50), e também das sobremesas.

Elas podem vir como pudins, sorvetes ou musses. A de bacuri (R$ 22) me trouxe agradável sensação de frescor após uma cuia de tacacá fervente, ainda com a língua um pouco dormente.



Fonte.:Folha de São Paulo

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