A Unesco escolheu a cidade do Rio de Janeiro para sediar a conferência da década do oceano em 2027, promovida pela agência da ONU para a educação, a ciência e a cultura. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (27) durante uma reunião da assembleia da comissão oceanográfica da entidade em Paris.
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A organização do evento será compartilhada com o governo federal, representado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Ainda não há uma data definida.
“O Brasil, uma nação em que o oceano está profundamente enraizado em sua identidade, tem sido uma força motriz em cada etapa da implementação da Década do Oceano, estabelecendo um padrão global para outros países seguirem”, disse Vidar Helgesen, secretário executivo da comissão oceanográfica da Unesco.
A ministra Luciana Santos, do MCTI, comemorou a escolha. “Com uma comunidade de ciência oceânica engajada e influente e o envolvimento ativo de vários setores da sociedade, o Brasil está, assim como a estátua do Cristo Redentor, de braços abertos para recebê-los”, afirmou.
A década do oceano definida pela ONU é o período de 2021 a 2030, voltado à ciência oceânica para o desenvolvimento sustentável. Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície terrestre e têm sido impactados pelas mudanças climáticas.
A conferência que ocorrerá em 2027 no Rio de Janeiro será a terceira sobre a década dos oceanos. A primeira ocorreu de forma online em 2021, devido à pandemia de Covid-19, e a segunda foi realizada em Barcelona em 2024. O evento tem caráter técnico e busca reunir o conhecimento científico sobre os oceanos.
Por outro lado, a conferência das Nações Unidas sobre oceanos, ocorrida em junho deste ano em Nice, tem um perfil mais diplomático, sendo um espaço para tomada de decisões e comprometimentos entre os países.
“Assim como a COP30 está fazendo com que os brasileiros falem e entendam mais sobre o clima, a expectativa é que a conferência da década dos oceanos em 2027 construa em cima do caminho da COP e ajude a mostrar as causas e as consequência do aquecimento”, diz Ronaldo Christofoletti, presidente do grupo de especialistas em cultura oceânica da Unesco.
Segundo ele, a realização da cúpula do clima em novembro deste ano em Belém pesou a favor da candidatura brasileira para sediar o evento sobre oceanos. “O Brasil tem sido um exemplo mundial, tem demonstrado como mobilizar a sociedade para que o assunto seja discutido”, afirma.
Porém, a sombra da possível exploração de petróleo na margem equatorial pode complicar a imagem internacional do país.
“A polêmica sobre a Foz do Amazonas mostra que uma parte da sociedade e do alto escalão do governo ainda não conhece o potencial do oceano para além do petróleo”, afirma Christofoletti, que é professor do Instituto do Mar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
“O impacto maior para o aquecimento dos oceanos é a emissão de gases do efeito estufa. A exploração de petróleo não deveria nem ser uma discussão e precisa cessar.”
Fonte.:Folha de S.Paulo