O secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, coronel César Roveri, confirmou que há indícios robustos apontando que dois cabos da Polícia Militar teriam facilitado o assalto à agência da cooperativa Sicredi em Brasnorte, ocorrido na tarde da última quinta-feira (31).
As investigações indicam que os militares teriam retardado propositalmente o início da perseguição, possibilitando a fuga do bando e recebendo pagamento criminoso em troca.
Roveri esclareceu durante coletiva de imprensa que os dois cabos eram os únicos policiais militares de plantão na cidade no momento do crime. Segundo ele e o tenente-coronel Murilo Franco, uma série de condutas atípicas observadas durante a ação criminosa despertou a desconfiança das forças de segurança.
Roveri sublinhou a política de “Tolerância Zero” ao comportamento ilítico dentro dos quadros da corporação e afirmou que as ações de reforço à segurança no interior serão intensificadas.
“Conseguimos achar indícios de dois policiais e como sempre eu digo a todos, independente de ser ou não ser servidor público de qualquer secretaria ou instituição de quaqlquer esfera, qualquer pessoa no cometimento do crime, vamos apurar e entregar à justiça para que faça o julgamento”.
Novo Cangaço em Brasnorte
Durante a ação criminosa, quatro homens armados saíram de uma Hilux prata, fortemente armados, portando fuzis, invadiram a agência bancária e fizeram dois funcionários de reféns, como se fossem “escudos”. Após o roubo, o grupo teria se deslocado para um ponto de “resfriamento”, onde abandonou a caminhonete e embarcou em um HB20 para fugir da cidade.
O trajeto seguiu em direção a Juína, onde os dois colaboradores feitos reféns foram libertados. A movimentação atípica chamou a atenção, de acordo com o delegado Sued Dias Júnior. Diferente do que se era esperado, os criminosos teriam retornado para Brasnorte, onde teriam se reunido para concluir a divisão do valor sequestrado.
“Nos chamou a atenção o fato de que, durante a execução do roubo, praticamente não houve disparos de arma de fogo por parte do grupo criminoso. Eles realizaram apenas um disparo, o que consideramos atípico”, afirmou Franco. Ele explicou que, em ações desse tipo, o mais comum é que os criminosos efetuem diversos disparos para intimidar a polícia.
Ainda conforme o tenente-coronel, ao acompanhar a ação pelas câmeras de monitoramento do governo do Estado, foi identificado um delay de 35 segundos entre a saída da caminhonete Hilux usada pelos criminosos e a saída da viatura da PM. “O que seria um tempo considerável, especialmente levando em conta que a viatura estava próxima da agência”, observou.
No decorrer da fuga, o intervalo entre os veículos aumentou. “Após aproximadamente 1.800 metros, que é a distância entre a agência e a última câmera localizada na saída da cidade, constatamos um delay de passagem de cerca de cinco minutos, o que já é um tempo significativo”, disse.
De forma didática, o secretário explicou que um atraso de cinco minutos, considerando velocidade de 120 km/h, representa uma distância de cerca de 10 km, o que seria incompatível com uma ação efetiva de perseguição. “É mais ou menos a distância da Sesp [Centro Político Administrativo], até a Arena Pantanal”, comparou.
Segundo Roveri, uma testemunha teria confirmado a participação dos policiais militares por meio da rede de inteligência da Secretaria de Segurança Pública. Contudo, nenhum dos dois confessou envolvimento. “Eles alegam que estavam no encalço dos criminosos, mas as câmeras do Vigia Mais MT mostram que isso não é bem verdade”, afirmou.
O secretário informou ainda que um oficial será designado para assumir o comando da Polícia Militar em Brasnorte, que no momento está sem comandante. As vagas dos dois cabos, que seguem presos, também serão repostas para garantir a continuidade do policiamento no município.
Reforço no policiamento de Brasnorte
Após o caso, o governo estadual determinou a recomposição do efetivo da Polícia Militar na cidade, que operava com apenas 10 agentes no dia do assalto — abaixo do mínimo estratégico de 14 policiais. O comandante local foi removido, e um novo oficial será enviado para reorganizar o comando local. A reposição do efetivo também atende a uma diretriz estadual de reforço gradual em municípios de pequeno porte, implementada sob orientação do governador Mauro Mendes.
Etapas seguintes
A Polícia Civil segue com investigações para identificar outros integrantes da organização criminosa, assim como localizar e recuperar o dinheiro roubado.
A Polícia Militar aguarda os resultados do processo administrativo aberto na Corregedoria para eventual expulsão ou punições internas aos policiais envolvidos.
Autoridades solicitam colaboração da população para denúncias sobre atividades suspeitas na região.
Fonte.: MT MAIS