
Crédito, Reuters
- Author, Redação*
- Role, BBC News Mundo
Envolto em chamas. Assim amanheceu neste domingo o principal edifício do Governo da Ucrânia em Kiev, após ser atingido por fogo russo pela primeira vez desde o início da guerra em 2022.
O ataque simbólico ocorreu em meio a uma nova onda de bombardeios em massa por parte do Kremlin, confirmou a primeira-ministra ucraniana.
Yulia Svyrydenko informou que o teto e os andares superiores do chamado edifício do Gabinete de Ministros ficaram danificados “devido a um ataque inimigo”, e que os bombeiros trabalhavam para apagar o incêndio provocado pelos mísseis.
A nova onda de bombardeios contra a capital ucraniana deixou pelo menos duas pessoas mortas, entre elas um bebê de apenas alguns meses e sua mãe de 32 anos, informou o prefeito da cidade, Vitaly Klitschko.
As vítimas morreram ao serem atingidas pelo edifício residencial de nove andares no distrito Svyatoshynsky de Kiev onde moravam.
Os socorristas procuram um terceiro corpo, acrescentou.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Sybiha, denunciou que o ocorrido representa “uma séria escalada” do conflito.
“O maior cinismo é que esses ataques brutais acontecem justamente quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump faz todo o possível para conseguir a paz”, escreveu o ministro no X (antigo Twitter).

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Um golpe simbólico
O prédio do Gabinete de Ministros é uma estrutura de dez andares construída na era soviética, entre 1936 e 1938, e abriga os escritórios dos principais funcionários do governo da Ucrânia.
O edifício está localizado a poucos metros da sede da Rada Suprema (Parlamento) e do Palácio Mariyinsky, sede da presidência do país, no que é considerado o distrito governamental da capital.
No início da manhã de domingo, a correspondente da BBC em Kiev, Sarah Rainsford, e sua equipe viram uma grande coluna de fumaça subindo ao céu, bem atrás do emblemático Maidán, a Praça da Independência, onde fica o prédio.
Em seguida, ouviram e viram dois mísseis de cruzeiro russos movendo-se em alta velocidade, antes de outra explosão.
A força aérea ucraniana informou que a Rússia lançou um número recorde de 805 drones e foguetes em sua mais recente ofensiva noturna.
As mesmas fontes militares confirmaram que nove mísseis e 56 veículos não tripulados armados atingiram 37 pontos do país, enquanto os destroços de um avião russo abatido caíram em outras oito áreas.
A primeira-ministra Svyrydenko pediu sanções mais severas contra Moscou e o aumento do fornecimento de armas para seu país.

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Uma mensagem clara
O novo ataque ocorreu poucos dias depois de o presidente russo, Vladimir Putin, endurecer seu alerta ao Ocidente para que não continuasse ajudando militar e economicamente a Ucrânia.
Moscou também atacou Krivói Rog, cidade natal do presidente Volodymyr Zelensky, no centro da Ucrânia, onde três instalações foram atingidas, segundo autoridades locais.
As sirenes de alerta antiaéreo foram acionadas durante a noite em todas as regiões do país.
Na capital da região oriental de Zaporizhzhia, 17 pessoas ficaram feridas durante os ataques, que danificaram 16 blocos de apartamentos, 12 casas, uma creche e fábricas, informou o chefe da administração regional, Ivan Fedorov.
As autoridades de Kiev, em um primeiro balanço provisório, informaram que vários prédios residenciais de vários andares nos distritos de Svyatoshynkyi (oeste) e Darnytskyi (sudeste) ficaram parcialmente destruídos e em chamas após serem atingidos diretamente.
“Os russos estão atacando deliberadamente instalações civis”, declarou Tymur Tkachenko, chefe da administração militar de Kiev, que pediu aos moradores da cidade que permanecessem nos abrigos.
Múltiplas explosões foram ouvidas na capital nas primeiras horas da manhã, incluindo pelo menos uma no centro da cidade, levantando suspeitas de que vários mísseis de cruzeiro conseguiram atravessar as defesas antiaéreas ucranianas.

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Ucrânia também atacou
A Rússia não comentou sobre os ataques relatados na Ucrânia.
No entanto, em comunicado, o Ministério da Defesa russo afirmou ter abatido ou interceptado 69 drones ucranianos em várias regiões do país.
Por sua vez, o chefe da força de drones da Ucrânia, Robert “Magyar” Brovdi, afirmou que um de seus veículos não tripulados danificou um oleoduto na região ocidental russa de Bryansk.
“A instalação é de importância estratégica para o transporte de produtos petrolíferos das refinarias bielorrussas para a Federação Russa”, explicou em sua conta no Telegram.
No início desta semana, Putin rejeitou as propostas ocidentais de enviar uma “força de segurança” à Ucrânia logo após a entrada em vigor de um possível cessar-fogo. A proposta havia sido aprovada em uma cúpula em Paris, destinada a finalizar os planos para as garantias de segurança.
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que 26 aliados da Ucrânia se comprometeram formalmente a enviar tropas “por terra, mar ou ar” para contribuir com a segurança do país assim que os combates cessassem.
Putin tentou abortar a iniciativa, advertindo que qualquer força estrangeira enviada à Ucrânia seria um “alvo legítimo” para seu exército.
Desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala à Ucrânia, em fevereiro de 2022, conseguiu controlar cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a península meridional da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.
*Com informações de Yaroslav Lukov, Rachel Hagan e Vitaliy Shevchenko*

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Fonte.:BBC NEWS BRASIL