Rússia e Ucrânia trocaram acusações neste domingo (20) de violar um cessar-fogo de Páscoa com duração de um dia, anunciado pelo presidente Vladimir Putin. Ambos dizem ter sofrido ataques no período.
Putin, que ordenou a entrada de milhares de tropas russas na Ucrânia em fevereiro de 2022, determinou que as forças russas “suspendessem toda atividade militar” ao longo da linha de frente na guerra, que já dura três anos, até a meia-noite no horário de Moscou (21h do horário local) deste domingo.
O presidente ucraniano Volodimir Zelenski afirmou que a Rússia fingia respeitar o cessar-fogo de Páscoa, mas, na verdade, continuou com centenas de ataques de artilharia na noite de sábado, além de novas agressões no domingo.
Zelenski escreveu na rede social X que a Rússia havia lançado 26 ataques entre a meia-noite e o meio-dia do horário local.
“Ou Putin não tem controle total sobre seu exército, ou a situação demonstra que, na Rússia, não há intenção genuína de encerrar a guerra —apenas interesse em obter cobertura midiática favorável,” disse Zelenski na publicação.
Mais cedo, o presidente ucraniano declarou que o exército russo “tenta criar uma impressão geral de cessar-fogo”, enquanto continua causando perdas à Ucrânia.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que a Ucrânia violou o cessar-fogo mais de mil vezes, causando danos à infraestrutura e provocando a morte de civis.
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Segundo o ministério, as forças ucranianas dispararam contra posições russas 444 vezes e foram contabilizados mais de 900 ataques com drones ucranianos, incluindo ofensivas contra a Crimeia e as regiões russas de fronteira de Bryansk, Kursk e Belgorod.
“Como resultado, há mortos e feridos entre a população civil, além de danos a instalações civis,” disse o ministério.
O exército ucraniano informou mais cedo, neste domingo, que a atividade na linha de frente havia diminuído. Alguns blogueiros militares russos também relataram uma queda substancial na atividade militar.
A agência de notícias Reuters não conseguiu verificar de forma independente os relatos de combate de nenhum dos lados.
O aparente fracasso em manter mesmo um cessar-fogo de Páscoa mostra o quão difícil será para o presidente dos EUA, Donald Trump, alcançar seu objetivo de firmar um acordo duradouro para encerrar o que ele chama de “banho de sangue” da guerra na Ucrânia.
Os EUA abandonarão os esforços para mediar um acordo de paz caso não haja sinais claros de progresso em breve, afirmaram Trump e seu secretário de Estado, Marco Rubio, na sexta-feira (18).
A INVESTIDA DE TRUMP PELA PAZ
Trump, que afirma querer ser lembrado como um pacificador, tem alertado sobre o risco de escalada do conflito —que sua administração agora descreve como uma guerra por procuração entre EUA e Rússia, ecoando a narrativa de Moscou.
No mês passado, após a Ucrânia aceitar a proposta de Trump por uma trégua de 30 dias, Putin declarou que questões cruciais de verificação não haviam sido resolvidas. Tanto Moscou quanto Kiev concordaram com uma pausa sobre ataques a alvos energéticos e no mar, mas cada lado acusa o outro de violá-la.
Zelenski reiterou que está disposto a estender o cessar-fogo por 30 dias, mas afirmou que, se a Rússia continuar lutando no domingo, a Ucrânia também continuará.
Putin orientou seu principal general, Valery Gerasimov, a responder “em total capacidade” caso Kiev violasse a trégua.
A Rússia controla pouco menos de um quinto do território ucraniano, incluindo a Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e as regiões de Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson.
Ao anunciar o cessar-fogo, antes de participar de um serviço de Páscoa, da religião católica ortodoxa, Putin disse que a trégua demonstraria se a Ucrânia está ou não disposta a implementar a paz. Putin agradeceu a Trump, ao presidente chinês Xi Jinping e aos líderes do grupo Brics, de economias emergentes, pelas tentativas de mediação.
A União Europeia reagiu com cautela à declaração de cessar-fogo de Putin, afirmando que Moscou poderia encerrar a guerra imediatamente, se quisesse.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, reiterou o apoio das Nações Unidas a “esforços significativos por uma paz justa, duradoura e abrangente, que respeite plenamente a soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia”.
Neste ano, a Páscoa ocorre no mesmo dia para as igrejas Ortodoxa e Ocidental, e Zelenski incentivou os ucranianos a não perderem a esperança de que a paz retornará algum dia.
“Sabemos o que estamos defendendo. Sabemos pelo que estamos lutando,” disse ele em um vídeo nas redes sociais, usando uma camisa tradicional bordada ucraniana e posando em frente à principal igreja de Kiev, a Catedral de Santa Sofia.
Fonte.:Folha de S.Paulo