
Crédito, Katie Mitchell
- Author, Victoria Cook
- Role, BBC News
A britânica Katie Mitchell passou a ser considerada a paciente de transplante combinado de coração e pulmão com maior tempo de sobrevivência do Reino Unido.
Moradora de Londres, ela passou pela cirurgia há 38 anos, com apenas 15 anos de idade. Mitchell havia sido diagnosticada com uma estranha doença, conhecida como síndrome de Eisenmenger.
Ela destaca que passou o aniversário do seu transplante pensando muito na sua doadora. “Só sei que era uma mulher jovem”, conta Mitchell.
“Sua família tomou a decisão de doar seus órgãos em um momento muito doloroso para eles. Por isso, sou muito agradecida.”
O porta-voz do escritório de transplantes do serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS), Anthony Clarkson, descreveu o procedimento realizado por Mitchell como “raro e complexo”. Ele destaca que sua história demonstra a importância da doação de órgãos.
A síndrome de Eisenmenger é uma complicação associada a uma doença congênita do coração. Mitchell recebeu o diagnóstico aos 11 anos de idade.
Ela tinha pressão alta nas artérias pulmonares, o que causava resistência do fluxo sanguíneo através dos pulmões. Isso gerou danos pulmonares irreversíveis e insuficiência cardíaca.
Quando Mitchell foi diagnosticada, mais de 40 anos atrás, não havia tratamento.
Ela recorda que se sentia tão doente, antes do transplante, que mal conseguia subir escadas. Seus lábios, bochechas e unhas permaneciam azuis, devido à falta de oxigênio no corpo.

Crédito, Katie Mitchell
“Eu não conseguia respirar”, relembra ela. “Levava quase 15 minutos para subir ou descer as escadas e, ali, acabava o meu dia. Depois, precisava ficar quieta.”
“Mas, assim que voltei do transplante, eu estava rosada. Todos observaram. A melhora da respiração foi imediata.”
O transplante de Mitchell ocorreu em setembro de 1987. E, segundo o NHS, quase 40 anos depois, o transplante combinado de coração e pulmão ainda é um procedimento raro e complexo.
No Reino Unido, ocorrem apenas cinco destes procedimentos por ano.
Para Mitchell, “é difícil colocar em palavras como me sinto agora, que sou a pessoa que mais viveu com um transplante duplo no meu país”.
“Meus sentimentos são contraditórios. Conhecidos meus, que passaram pelo mesmo transplante, morreram antes de mim.”
“Penso na família da doadora e no que eles devem ter sentido naquele momento”, destaca ela. “Graças ao transplante de órgãos, ganhei de presente uma vida normal.”
‘História realmente excepcional’
No Reino Unido, 12 pessoas esperam atualmente por um transplante combinado de coração e pulmão. Ao todo, existem mais de 8 mil pacientes na lista de espera de transplantes no país.
Estimativas recentes indicam que, na última década, mais de 800 pessoas perderam a vida em Londres, esperando por um transplante de órgão.
No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que, atualmente, 47,5 mil pessoas aguardam na fila de transplante de órgãos. Outras 33,5 mil pessoas aguardam por transplante de córnea no país.
Entre janeiro e outubro de 2025, o Brasil realizou quase 7,8 mil transplantes de órgãos e 14,1 mil transplantes de córnea.

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“Esta é uma operação grande e o índice de sobrevivência inicial é de cerca de 85%”, explica o cirurgião especialista em transplantes Aaron Ranasinghe.
“Quando os pacientes sobrevivem por um ano, pouco mais da metade continuarão vivos entre 10 e 12 anos. Por isso, o fato de Katie ter alcançado esta marca é fantástico.”
Clarkson destaca que “a história realmente excepcional de Katie demonstra como a doação de órgãos salva e melhora vidas”.
“A maior parte de nós aceitaria um órgão se fosse necessário. Mas não há doadores suficientes.”
“Cada pessoa que doar seus órgãos pode salvar até nove vidas”, segundo Clarkson.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


