10:11 PM
24 de abril de 2025

Silimarina, dente-de-leão e cúrcuma podem me…

Silimarina, dente-de-leão e cúrcuma podem me…

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Com a expansão no mercado de suplementos alimentares, cientistas dos Estados Unidos realizaram um amplo estudo sobre a eficácia e segurança de produtos comercializados pela internet.

A pesquisa, publicada na revista The American Journal of Gastroenterology, teve como recorte específico as cápsulas que prometem realizar o chamado detox do fígado. Os ingredientes mais comuns encontrados nas fórmulas foram a silimarina (ou cardo-mariano), o dente-de-leão e a cúrcuma.

O escrutínio dos suplementos levou a uma conclusão preocupante: as evidências científicas sobre os tais benefícios para a saúde hepática limitadas e inconclusivas.

Especialistas em saúde e nutrição são enfáticos ao recomendarem cautela na utilização desse tipo de produto, uma vez que não há comprovação de que um único alimento específico seja capaz de promover a remoção de toxinas do organismo.

“É importante que a população tenha conhecimento de que suplementos alimentares não são isentos de riscos. O ideal seria mudar o processo regulatório, mas os interesses econômicos são grandes. Outro ponto é formar melhores médicos no Brasil, mas estamos indo no sentido contrário”, avalia o médico hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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Mercado próspero

Para chegar aos resultados, os pesquisadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, identificaram os 20 principais suplementos que prometiam algum tipo de “limpeza” do fígado vendidos pela Amazon.

As substâncias mais comuns encontradas tiveram suas evidências avaliadas a partir de trabalhos disponíveis no acervo científico PubMed. Durante o estudo, foram analisadas também as vendas e a autenticidade das avaliações dos itens pelos usuários.

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Os mais populares geraram vendas anuais totais de mais de 1,4 milhão de unidades com uma receita de superior a 38 milhões de dólares. Todos os artigos alegaram “eliminar toxinas” ou fornecer “desintoxicação/limpeza do fígado”, sendo que 85% alegaram “melhorar a função hepática”.

No estudo, os autores afirmam que o mercado próspero para suplementos voltados ao fígado contrasta com evidências científicas limitadas que apoiem a eficácia.

“Os achados são relevantes porque denunciam o que já sabemos que acontece. Além da futilidade, jogar dinheiro fora e enriquecer pessoas que não têm boa fé, há risco de adoecimento com a proposta de detox do fígado. Já tive pacientes que foram a transplante com maca peruana e erva-mãe-boa, por exemplo”, destaca Paraná.

Além disso, pontuam que a prevalência de alegações de saúde ousadas, alta satisfação do consumidor e vendas significativas destacam a necessidade de avaliação e regulamentação mais rigorosas dos produtos.

“Não existe detoxificação hepática, o fígado tem seus próprios mecanismos para isso. Portanto, não há a mínima indicação de se fazer tratamento detox”, enfatiza o hepatologista.

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Silimarina: benefícios reconhecidos, mas limitados

A silimarina, extraída do cardo-mariano, é um composto conhecido por suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e benéficas ao fígado.

A substância auxilia na proteção e regeneração das células hepáticas, atuando na estabilização das membranas e na redução do estresse oxidativo no órgão. Além disso, pode contribuir para a melhora de doenças hepáticas crônicas, como esteatose hepática e hepatite — mas não faz milagres.

“A suplementação com silimarina é frequentemente indicada como adjuvante em tratamentos para doenças hepáticas crônicas, como hepatite alcoólica, doença hepática gordurosa não alcoólica e cirrose. Também pode ser útil em casos de intoxicação por substâncias tóxicas e medicamentos”, resume a médica nutróloga Eline de Almeida Soriano, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Soriano explica que a planta até pode ter efeito protetor sobre o fígado, mas não substitui tratamentos convencionais. Ela destaca ainda que a ideia de que a silimarina promova um detox completo do fígado é um equívoco.

“Embora ela possa oferecer suporte na regeneração e proteção das células hepáticas, não há evidências científicas robustas de que ela tenha um efeito de desintoxicação abrangente. O fígado saudável já possui mecanismos naturais eficientes de detoxificação”, pontua a nutróloga.

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As funções reais do dente-de-leão

O dente-de-leão é utilizado tradicionalmente como diurético e estimulante da função hepática. Possui compostos antioxidantes e anti-inflamatórios que podem auxiliar na saúde do fígado e na digestão.

A erva também é relatada como um agente potencialmente útil na melhora do metabolismo de gorduras, mas os estudos científicos sobre seus efeitos específicos são ainda limitados.

“Para a maioria das pessoas saudáveis, uma alimentação balanceada é suficiente para fornecer os nutrientes necessários. Já para aqueles com problemas hepáticos diagnosticados, o uso de suplementos pode ser útil, mas deve ser orientado por um profissional de saúde”, frisa Soriano.

Segundo a nutróloga, a ideia de que o dente-de-leão faça uma desintoxicação profunda do fígado é exagerada.

“Embora tenha propriedades antioxidantes e diuréticas que podem auxiliar na eliminação de toxinas, não há evidências científicas consistentes que comprovem que ele realize um ‘detox’ no sentido amplo que muitas pessoas acreditam”, reforça.

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Como a cúrcuma pode ser benéfica?

A cúrcuma, especialmente o seu composto ativo chamado curcumina, é reconhecida por suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e de proteção ao fígado.

“Ela pode auxiliar na redução de inflamações sistêmicas, melhorar o perfil lipídico e oferecer benefícios para saúde intestinal e hepática”, afirma Soriano.

Suplementos de cúrcuma são vendidos com a promessa de promoverem muitos benefícios, mas ainda há pouca comprovação do efeito da suplementação no organismo.

De todo modo, ela pode ser consumida como tempero na alimentação, em cápsulas ou extratos padronizados que garantem uma maior disponibilidade da curcumina.

“Para potencializar sua absorção, recomenda-se consumir a cúrcuma junto com pimenta-do-reino, que contém piperina ou com fontes de gordura”, diz a médica.

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Mas a diretora da Abran enfatiza que apesar dos efeitos benéficos para o organismo, a ideia de detox é um mito.

“A cúrcuma pode contribuir para a saúde do fígado e do corpo como um todo, mas o processo de desintoxicação é realizado naturalmente pelo fígado e rins, não por um único suplemento ou planta”, frisa.

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Fonte.:Saúde Abril

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