Não há governo que se sustente no passo de desconexão total com a instância de representação da sociedade. Se a essa ausência de sintonia com o Congresso é acrescentada uma persistente insatisfação popular, o quadro tende a se desenhar como um beco sem saída.
O presidente Luiz Inácio da Silva (PT), sua equipe no Executivo e lideranças no Legislativo demonstram que não entenderam a fragilidade em que se encontram e a gravidade da cena. Ou pior, optam por ignorar a situação.
Só esse alheamento da realidade explica a surpresa com que o Palácio do Planalto e adjacências receberam a decisão do presidente da Câmara de pautar o mérito do projeto de decreto legislativo para a derrubada do aumento do IOF.
Uma semana antes o aviso havia sido dado na forma dos 346 votos a favor da urgência do PDL. Hugo Motta (Republicanos-PB) segurou o ímpeto da oposição de votar de imediato o mérito, forneceu uma trégua de alguns dias, mas o governo preferiu dar interpretação alongada àquele tempo e não se preparou.
Lula mais preocupado em insistir na aposta da antecipação do embate eleitoral, qualificando todos os potenciais adversários como representantes da “extrema direita”, o ministro da Fazenda parecendo confiante num trânsito congressual nessa altura perdido e os líderes petistas atordoados, reclamando por terem sido surpreendidos.
Os governistas reagiram como se tivessem sido traídos, indiferentes ao fato de que não havia acordo firmado diante de um recado dado com clareza: o aumento do imposto não passa e as medidas alternativas não serão aceitas em contrapartida do corte de gastos.
Mais ou menos o que tem dito o STF, na figura do ministro Flávio Dino, a respeito da transparência no uso das emendas parlamentares. Na comparação, depreende-se que para mau entendedor nem as palavras completas bastam.
Os espaços de negociação não estão fechados, é verdade, mas os termos das tratativas são dados por quem tem a força e dita o ritmo do jogo.
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Fonte.:Folha de S.Paulo