
Crédito, Embaixada do Brasil em Washington
- Author, Alessandra Corrêa
- Role, De Washington para a BBC News Brasil
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram por cerca de uma hora nesta quinta-feira (13/11), na sede do Departamento de Estado, em Washington, para discutir as negociações sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Inicialmente, os dois chanceleres se reuniram privadamente. Depois, diplomatas de ambos os lados também participaram das conversas.
“Discutimos todos os temas da relação bilateral neste momento”, disse Vieira em conversa com jornalistas após o encontro, sem detalhar os pontos abordados.
Segundo Vieira, a conversa foi sobre um “marco geral” para abrir as portas para um acordo, não sobre questões específicas.
O chanceler também disse ser possível chegar a um acordo provisório até o final deste mês ou início de dezembro, que levaria a negociações mais amplas nos próximos meses.
“[Um acordo] que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação, que poderia durar dois ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países”, disse.
O ministro brasileiro disse que, em 4 de novembro, em uma reunião virtual em nível técnico, foi apresentada uma proposta aos americanos, que seria “uma resposta à primeira proposta que eles apresentaram, em 16 de outubro”.
“É uma resposta à primeira lista de temas que eles [os americanos] nos apresentaram quando eu estive aqui em 16 de outubro”, disse, ressaltando que uma resposta dos EUA pode vir nos próximos dias.
“Estamos esperando que eles nos respondam. O secretário de Estado disse que estão examinando com toda atenção, que querem resolver rapidamente as questões bilaterais com o Brasil, e que a resposta virá muito proximamente, amanhã ou na próxima semana”, afirmou.
“O importante é dizer que é uma demonstração de interesse do governo americano de solucionar as questões ainda pendentes na relação com o Brasil”, disse o chanceler.
“Um sinal de desejo de solucionar, de dar a volta nessa página e de se aproximar com o Brasil.”
Segundo Vieira, Rubio disse que, antes do encontro, comentou com Trump sobre a reunião, e que o presidente americano reforçou que havia “gostado muito” do encontro que teve com Lula na Malásia.
Nesta quinta, a Casa Branca anunciou acordos de comércio com quatro países latino-americanos: Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala.
Na terça, Trump havia mencionado em entrevista à Fox News uma possível redução em tarifas sobre o café, sem citar o Brasil ou quais países seriam beneficiados.
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, e um terço é importado do Brasil. Trump já havia dito a Lula, durante o telefonema em outubro, que os americanos sentiam falta do café brasileiro.
Este foi o segundo contato presencial entre os dois chanceleres nesta semana. Na quarta-feira (12/11), Vieira e Rubio conversaram brevemente em Niágara, no Canadá, à margem da reunião do G7 (grupo dos países mais desenvolvidos do mundo).

Crédito, Embaixada do Brasil em Washington
Anteriormente, em 16 de outubro, ambos já haviam se reunido na Casa Branca para dar início ao processo de negociação, no qual o Brasil busca reverter medidas adotadas pelo governo americano contra o país desde julho, entre elas tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros exportados aos EUA.
Os contatos desta semana ocorrem após um encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Donald Trump, no fim de outubro, na Malásia, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Na ocasião, Lula entregou a Trump um documento com reivindicações do Brasil, incluindo a retirada das tarifas e de punições aplicadas contra autoridades brasileiras.
Após aquele encontro, Lula disse que a expectativa era de uma solução “em poucos dias”.
Chegou a cogitar-se que uma equipe brasileira, formada por Vieira, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pudesse viajar aos EUA já na semana seguinte para negociações de alto nível com os americanos.
No entanto, desde então as negociações entre os dois países sobre o tema haviam sido somente em nível técnico. Enquanto isso, as medidas contra o Brasil continuam em vigor.
Idas e vindas na relação bilateral
O encontro entre Lula e Trump na Malásia ocorreu após meses de tensão entre os dois países.
A crise foi desencadeada a partir de julho, quando os EUA começaram a anunciar medidas contra o Brasil em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico do presidente americano.
Além das tarifas sobre produtos brasileiros, anunciadas em julho e em vigor desde 6 de agosto, também foram aplicadas restrições de vistos a autoridades brasileiras e sanções financeiras pela Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua mulher, Viviane Barci de Moraes.
Ainda em julho, em paralelo ao anúncio das tarifas, o escritório do representante de comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) abriu uma investigação contra o Brasil por supostas práticas desleais de comércio.
Foi somente no fim de setembro que se abriu uma oportunidade de destravar as negociações, após uma breve interação de menos de um minuto entre Lula e Trump nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Ambos trocaram algumas palavras e até um abraço e, alguns dias depois, em 6 de outubro, conversaram por 30 minutos por videoconferência.
Nessa conversa, e novamente no encontro na Malásia, Lula pediu a Trump a retirada da sobretaxa a produtos brasileiros e das medidas restritivas contra autoridades do Brasil.
O presidente brasileiro argumentou que as tarifas foram aplicadas com base em informações equivocadas, já que os EUA têm superávit comercial com o Brasil.
No entanto, em diversas ocasiões ao longo dos últimos meses, o governo Trump deixou claro que as medidas contra o Brasil tinham natureza política.

Crédito, Embaixada do Brasil em Washington
O governo brasileiro, por sua vez, sempre salientou que a questão política não era negociável e que o julgamento e condenação de Bolsonaro são temas de responsabilidade do Judiciário, não do Executivo.
Bolsonaro foi condenado em setembro pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado após perder a eleição de 2022.
Há uma série de temas de interesse dos EUA que poderiam levar a um acordo, entre eles a abertura do mercado brasileiro para o etanol americano, o acesso à exploração de minerais críticos e a regulação das big techs no Brasil, que é alvo de críticas e preocupação por parte do governo Trump.
Além da questão comercial, outro tema importante neste momento é a Venezuela. Os Estados Unidos vêm aumentando sua presença naval e militar na região e atacando embarcações sob a acusação de tráfico de drogas.
No mês passado, no encontro na Malásia, Lula chegou a se oferecer para ser um “interlocutor” entre EUA e Venezuela. No entanto, Vieira não informou se o tema foi discutido na reunião desta quinta.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


