O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou nos últimos dias intensificar o diálogo com autoridades americanas para evitar ou adiar o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil, mas chocou-se com a falta de interlocução de alto nível na Casa Branca.
Nos últimos dias, a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tentou contatos com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e teve conversas com técnicos do departamento. Em outra frente, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, realizou nos últimos dias duas conversas virtuais com o secretário de Comércio de Trump, Howard Lutnick.
Na terça-feira (29), William Kimmit, um dos principais conselheiros de Lutnick, acompanhou uma reunião de Alckmin com os representantes de grandes empresas de tecnologia dos EUA, as chamadas big techs.
E, no contato mais recente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, realizou nesta quinta (31) uma viagem fora da agenda a Washington para se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
Apesar dos contatos com os departamentos responsáveis pelo comércio exterior e relações internacionais dos EUA, a avaliação entre auxiliares de Lula é que nunca houve abertura na Casa Branca —responsável pela decisão final do tarifaço e das sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A leitura é que a atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) junto a auxiliares de Trump na defesa de sanções contra Moraes praticamente fechou todas as portas para o governo Lula no centro do poder dos EUA.
Eduardo se licenciou do mandato e se mudou para os Estados Unidos para pressionar pelas sanções impostas contra Moraes e contra a economia brasileira. Ele vinculou qualquer alívio na ofensiva de Trump a uma anistia a seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —algo que tanto o governo Lula como o STF rejeitam.
Haddad e Bessent chegaram a se encontrar em maio, na Califórnia. Na ocasião, o ministro brasileiro apresentou, entre outros temas, argumentos contra a sobretaxação de produtos brasileiros —à época, o país era alvo de tarifas nos setores do aço e do alumínio, além de uma linear de 10%.
Haddad pediu nova conversa com Bessent há cerca de dez dias, mas a equipe do americano justificou que ele estava em intensa agenda internacional. O Tesouro não fechou as portas para agendar uma conversa futura, o que foi visto como um sinal positivo pela Fazenda.
A participação de Kimmit na agenda de Alckmin com as big techs também foi lida como uma sinalização de que existe alguma flexibilidade por parte de Washington.
Mas, no final, o fato de Trump ter anunciado no mesmo dia sanções contra Moraes e confirmado o tarifaço contra o Brasil mostra que a decisão na Casa Branca já estava tomada, segundo interlocutores do governo brasileiro ouvidos pela Folha.
Após Moraes ter sido incluído na Lei Magnitsky, auxiliares de Lula avaliaram que a medida reforçava o caráter político da sobretaxa de 50% imposta em produtos brasileiros.
A medida também mostrava, na avaliação de auxiliares de Lula, que praticamente não havia disposição por parte dos EUA em negociar o tarifaço com o Brasil.
Fonte.:Folha de S.Paulo