
Crédito, Adriano Machado/Reuters
- Author, Marina Rossi
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
“Todos sabem que pedi para fazer contato”, afirmou em entrevista ao jornal americano The New York Times publicada nesta quarta-feira (30/07). “O que está impedindo é que ninguém quer conversar.”
Na entrevista publicada, Lula não diz que tentou falar diretamente com seu homólogo americano, Donald Trump.
As tentativas de diálogo estão sendo realizadas, segundo a secretaria da Presidência informou à BBC News Brasil, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT).
Logo depois de ter anunciado a nova tarifa, no dia 9 de julho, Trump disse a repórteres que poderia conversar com Lula, “em algum momento, mas não agora”. Isso ocorreu em 11 de julho.
Na entrevista ao jornal americano, Lula disse que está tratando a questão das tarifas com “máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”.
Trump impôs as novas taxações alegando que as acusações de tentativa de golpe de Estado que recaem sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) equivale a uma “caça às bruxas”.
“Talvez ele não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente”, afirmou Lula, que diz que Trump está infringindo a soberania do Brasil.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, afirmou o petista ao jornal americano.
“Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos assusta. Nos preocupa.”
O jornalista Jack Nicas, autor da entrevista, afirma que “talvez não haja líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto Lula”, e que o petista está “indignado”.
A ofensiva de Trump de sobretaxar o Brasil causou uma resposta do governo brasileiro, que criou uma campanha com o slogan “O Brasil é dos brasileiros“.
O governo Lula também anunciou que estuda tarifas retaliatórias, mas ainda não há nenhum anúncio oficial. Para Lula, todos saem perdendo com as taxações.
“Nem o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso”, disse ele. “Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde.”
Na terça-feira (29/07), o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que as importações de alguns produtos que não são produzidos nos Estados Unidos poderiam ser isentas de tarifas, como o cacau, café e a manga, mas ele não mencionou o Brasil.
‘Não vamos resolver isso até o dia 1º’, diz Jaques Wagner
Em missão oficial realizada por senadores brasileiros a Washington, Jaques Wagner, líder da bancada petista no Senado, afirmou nesta quarta-feira (30/07) que um possível encontro de Lula com Trump pode demorar para acontecer, ultrapassando o prazo de 1º de agosto, quando as tarifas começarão a valer.
“Não vamos resolver isso até o dia 1º. É sexta-feira. O encontro de dois presidentes da República não se prepara da noite para o dia”, afirmou a jornalistas.
Os senadores brasileiros estão em Washington desde o início da semana para fazer reuniões e tentar negociar. Um dos principais focos é a tentativa de ampliar o prazo para a entrada em vigor das tarifas sobre produtos brasileiros.
“Todos os países tiveram 60, 90 dias; em 20 dias, como é que os empresários se organizam?”, questionou Wagner.
Por outra frente, Alckmin, que tem liderado conversas com empresários e representantes do governo americano, afirmou nesta quarta-feira que o governo trabalha para que a tarifa seja reduzida, assim como ocorreu com a União Europeia, que passou a ser de 15% após negociações.
“Nós estamos trabalhando para que a diminuição da alíquota seja para todos. Não tem justificativa você ter uma alíquota de 50% para um país que é um grande comprador. Você tem uma balança comercial superavitária”, afirmou.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL