
Quem não gostaria de ostentar um corpo bonito, manter o pique lá no alto e desfrutar de sexo e outros prazeres da vida sem empecilhos? Uns mais, outros menos, todos sonhamos em chegar lá, por mais difícil que seja definir objetivamente esse “lá”. Um desejo, convenhamos, legítimo.
Só que ele abre brechas a dois problemas. O primeiro é conceitual. O que é um corpo bonito? É a escultura musculosa com abdômen trincado postada nas redes sociais?
O que é manter o pique lá no alto? É se matar de treinar na academia e de trabalhar, inclusive aos finais de semana? O que é uma vida sexual ideal? É ser uma máquina pronta para a ação?
Enquanto refletimos a respeito, passo ao problema do ponto de vista prático. Como ficar sarado, cheio de energia e com a libido nas alturas?
A resposta mais confiável seria levando um estilo de vida saudável, consciente de que a gente envelhece e está sujeito a altos e baixos físicos e emocionais. Mas há quem aposte em um atalho, uma alternativa que seduz um público cada vez maior: a administração ou reposição de hormônios sintéticos, com destaque absoluto para a testosterona e seus derivados.
Especialmente na forma de implantes — ainda que a oferta contemple de géis a injeções —, essas substâncias caíram nas graças de homens e mulheres, extrapolando de longe a antiga (e sempre presente) tribo dos marombados.
São pessoas jovens, na meia-idade ou até na maturidade que vislumbram em um suposto “hormônio da vitalidade” a senha para se sentir melhor — inclusive na frente do espelho.
De novo: um sonho mais do que legítimo. Só que investir em doses de testosterona para realizá-lo não é uma medida trivial ou inofensiva.
Hormônios funcionam como uma orquestra — se novos músicos entrarem em cena e mudarem o ritmo da melodia, a sinfonia pode desafinar. E a grande questão envolvendo a testosterona é que a maioria dos brasileiros que partem para os implantes e afins não se enquadra nas indicações estabelecidas por estudos e contempladas nas diretrizes médicas oficiais.
São mulheres e homens que aderem à onda de amigos ou influencers ou sob a supervisão de profissionais que, no mínimo, não dispõem de provas robustas, inclusive em termos de segurança, para receitar o hormônio a torto e a direito — e que lucram muito, mas muito, com isso.
Quem toma até pode se sentir forte, disposto ou atraente, mas é preciso ter em mente que o uso é capaz de bagunçar o organismo, implicando sérios riscos — um perigo que não se restringe a ratos de academia e fisiculturistas.
Daí o serviço de utilidade pública prestado pela rigorosa e minuciosa reportagem de capa assinada pela jornalista Ingrid Luisa.
Não queremos podar sonhos. Queremos que os brasileiros tomem decisões com a devida ciência para não encarar pesadelos depois.
Fonte.:Saúde Abril


