Teuda Bara nunca aceitou ser enquadrada em rótulos ou convenções, uma postura que ficou eternizada quando ela recusou o convite para ser uma das chacretes de José Abelardo Barbosa, o Chacrinha, por se considerar “comunista demais” para o papel.
Esse espírito indomável e profundamente político guiou a trajetória da atriz e dramaturga, morta nesta quinta-feira (25), aos 84 anos, em sua terra natal, Belo Horizonte.
Filha de um major-bombeiro trombonista e uma enfermeira cantora, Bara herdou o talento para a performance e o riso como ferramenta de expressão. Sua iniciação no teatro se deu de forma atípica, aos 30 anos, no teatro-jornal do Diretório Acadêmico da UFMG.
Incomodada com a rigidez ideológica da esquerda universitária, abandonou o curso de ciências sociais no terceiro ano para viver a liberdade do movimento hippie e do artesanato.
Sua história se funde com a do próprio teatro brasileiro a partir de 1982, quando cofundou o Grupo Galpão. No coletivo, ela se tornou a alma de espetáculos emblemáticos como “A Rua da Amargura” e “Um Molière Imaginário”, ajudando a levar a arte para as praças públicas e democratizar o acesso à cultura.
O Galpão redefiniu o teatro de grupo no Brasil ao fundir circo, música e dramaturgia clássica em ocupações democráticas.
Mesmo quando alcançou o ápice do prestígio internacional ao integrar o elenco do Cirque du Soleil em Las Vegas, entre 2004 e 2007, Teuda escolheu retornar ao Brasil. Ela sentia que a perfeição técnica da companhia canadense, no espetáculo “KÀ”, não substituía a vitalidade e o diálogo humano que encontrava nos palcos nacionais e no calor do teatro de rua.
Ativa até o fim, celebrou em 13 de dezembro de 2025 os dez anos da peça “Doida“, adaptação de um conto de Carlos Drummond de Andrade que encenava ao lado do filho, Admar Fernandes –sua última apresentação pública. Durante a pandemia, demonstrou resiliência ao realizar o espetáculo virtual “Queria Teatro”, também com o filho, aprendendo a usar novas tecnologias para seguir declamando.
Sua morte encerra o capítulo de uma vida inteiramente dedicada ao teatro como ofício, encantamento e ferramenta de transformação social. Teuda Bara deixa os filhos André e Admar, além de uma legião de admiradores que viam nela a síntese perfeita entre a disciplina artística e a alegria da boemia mineira.
Em sua despedida, a nota oficial do Grupo Galpão resumiu a magnitude de sua existência, definindo sua partida como uma “perda imensurável” e exaltando a “luz raríssima” que Teuda Bara espalhou ao longo de décadas de dedicação absoluta ao ofício de encantar. Seu legado permanece vivo em cada praça ocupada e em cada riso provocado pela força de sua presença cênica.
Fonte.:Folha de S.Paulo


