É um só equipamento, que funciona como liquidificador, batedeira, processador, balança, masseira, sorveteira, termocirculador para cozimento em sous-vide, descascador, fatiador, cocção a vapor e panela comum —e custa R$ 9.999.
Apesar do preço salgado, brasileiros já adquiriram 35 mil unidades do robô de fabricação alemã Thermomix ao longo de 15 anos. O equipamento começou a ser importado em 2010 e promete substituir 20 eletrodomésticos. Mas, ao contrário do que se imagina, os profissionais de cozinha não são os principais clientes. Segundo Luis Fernando Palomares, presidente da Thermomix Brasil, 60% dos compradores são pessoas físicas.
Alguns são aficionados por cozinha, como o empresário Ugo Rosso, que não perde um curso no showroom da marca, em Moema. “Uso menos o fogão e já aposentei o liquidificador. Mas só eu uso. Cuido como se fosse alguém da família”, diz.
Outros assumem pouca intimidade com a culinária e apelam para a Thermomix por ser praticamente um robô autônomo. É o caso da produtora rural Natália Dias, que adquiriu a máquina há uma década. “Clara em neve e polenta, só sei cozinhar nela. O que mais faço é sopa. Jogo os ingredientes cortados grosseiramente e ela faz o resto.”
Fabricado pela alemã Vorwerk, fundada em 1883, com sede em Wuppertal, a Thermomix nasceu na Primeira Guerra Mundial —a primeira versão era um liquidificador capaz de aquecer os alimentos, criado para aliviar as dificuldades dos soldados na frente de batalha.
O modelo TM6, à venda no momento, é o décimo desde então e vem com painel digital, que acessa 100 mil receitas, sendo 14 mil em português. Só na Europa, a Vorwerk comercializa 300 mil máquinas por ano, ao preço de € 1.599 (cerca de R$ 10 mil), fora os impostos de cada país.
Entrar no mercado brasileiro foi desafiador, diz Palomares. Os primeiros modelos DM31, 100% analógicos, foram enviados às redes Fast Shop e Polishop —mas a estratégia não funcionou, mesmo tendo o chef Alex Atala como garoto-propaganda. “Não vendia. Era um produto caro e faltava alguém, nos pontos de venda, explicando por que custava tanto”, lembra o empresário.
Em 2014, a Thermomix adotou as vendas diretas, e o projeto decolou. A marca tem lojas e quiosques em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e pretende chegar a Salvador e Brasília até setembro. Quem se interessa pelo equipamento é atendido por consultores, que fazem demonstrações detalhadas —e vão à casa do cliente, se ele preferir.
Cozinheiros profissionais elogiam a alta performance. Chef dos restaurantes Teus e Votre, Francisco Farah se diz fã do resultado com as emulsões. “As pastas ficam lisinhas e uniformes, o que me permite desenvolver bases que não encontro no Brasil.”
Ad Yamashina, chef do Song Qi, menciona a precisão dos cortes e do controle de temperatura. “Dá para manter cozimento longo e constante sem necessidade de mexer. O corte ajustável alcança a textura exata dos recheios: grosseira para guiozas, fina para wontons. E o cozimento a vapor é uniforme, sem variação de temperatura —peixes saem macios e suculentos.”
Não é diferente nos bares. Sócio do The Door, Sylas Rocha elabora xaropes como o de cevada, ingrediente do coquetel red door. “A receita exige controle rigoroso: 65ºC por 30 minutos, depois 70ºC por mais 30 minutos. Impossível conseguir tamanha precisão na panela ou no liquidificador.”
Para Diego Porto, do Beefbar, o equipamento já está alterando o mercado de trabalho. “Agiliza tantos preparos que pode substituir um funcionário. Em contrapartida, algumas técnicas clássicas estão sendo apagadas. É comum encontrar cozinheiros que só sabem fazer molho bechamel ou bérnaise na Thermomix.”
A falta de concorrentes ajuda no marketing. Segundo Paula Rizkallah, fundadora da escola Atelier Gourmand, o único equipamento parecido é o Robot Coupe, de fabricação francesa. “Não os considero concorrentes. O Robot Coupe é um processador de motor robusto e padrão industrial, ainda mais caro, que não trabalha com aquecimento e não tem outras funções”, compara.
O Brasil conta com apenas um técnico habilitado a consertar a Thermomix, mas enguiços são raros, garante Palomares. Rizkallah confirma: “Tenho três na escola, a mais antiga tem dez anos e nunca precisei de assistência técnica”.
No entanto, ela aponta um ponto frágil. As lâminas afiadas, diz, costumam danificar a espátula plástica, embora o fabricante informe que o acessório pode ser usado com a máquina em funcionamento. A original custa R$ 163,99, enquanto versões genéricas podem ser encontradas por menos de R$ 20.
O próximo modelo Thermomix, o TM7, lançado em fevereiro, em Berlim, deve estar disponível no Brasil a partir de 2026 —com chance de chegar alguns meses antes, adianta o presidente da empresa.
Inteiramente digital, terá copo com isolamento térmico, que evita queimaduras, e espaço 45% maior para cozimento a vapor. Mas é bom que os fãs preparem o bolso: a novidade vai custar R$ 12.499.
Thermomix
Preço: a partir de R$ 9.999 em brazil.vorwerk-thermomix.com
Tel. (11) 5102-2835, @thermomixbrasil
Fonte.:Folha de São Paulo