
Crédito, Atlantic Productions/Magellan
- Author, Rebecca Morelle e Alison Francis
- Role, Editora e repórter de Ciência da BBC
A réplica 3D exata mostra com clareza a violência como navio se partiu ao meio enquanto afundava, após colidir com um iceberg em 1912 — 1,5 mil pessoas perderam a vida na tragédia.
O escaneamento oferece uma nova visão de uma das salas de caldeiras, confirmando relatos de testemunhas de que os engenheiros trabalharam até o último momento para manter as luzes acesas.
Uma simulação por computador também sugere que perfurações no casco — do tamanho de folhas A4 — contribuíram para a destruição do navio.

Crédito, Atlantic Productions/Magellan
“O Titanic é a última testemunha ocular sobrevivente do desastre — e ainda tem histórias a contar”, disse Parks Stephenson, um pesquisador especializado no navio.
O escaneamento foi estudado para um novo documentário da National Geographic em parceria com a Atlantic Productions, intitulado Titanic: The Digital Resurrection (Titanic: A Ressurreição Digital, em tradução livre).
O naufrágio, a 3,8 mil metros de profundidade nas águas geladas do oceano Atlântico, foi mapeado com o uso de robôs subaquáticos.
Mais de 700 mil imagens, capturadas de todos os ângulos, foram utilizadas para criar o “gêmeo digital”, revelado com exclusividade ao mundo pela BBC News em 2023.
Como o navio é imenso e está envolto na escuridão das profundezas, explorá-lo com submersíveis revela apenas fragmentos intrigantes. O escaneamento, no entanto, oferece a primeira visão completa do Titanic.
A imensa proa repousa em pé no leito marinho, quase como se o navio ainda estivesse em viagem.
Mas, a 600 metros dali, a popa é um amontoado de metal retorcido — resultado do impacto violento contra o fundo do oceano após a embarcação se partir ao meio.

Crédito, Atlantic Productions/Magellan
A nova tecnologia de mapeamento oferece uma forma diferente de estudar o navio.
“É como uma cena de crime: você precisa ver as evidências no contexto em que estão”, disse Parks Stephenson.
“Ter uma visão completa de todo o local do naufrágio é fundamental para entender o que aconteceu aqui.”
O escaneamento revela novos detalhes de perto, incluindo uma escotilha que provavelmente foi quebrada pelo iceberg — o que coincide com relatos de sobreviventes de que o gelo invadiu algumas cabines no momento da colisão.

Crédito, Atlantic Productions/Magellan
Esforços até o fim
Especialistas vêm estudando uma das enormes salas de caldeiras do Titanic — ela é fácil de identificar no escaneamento porque fica na parte traseira da seção da proa, no ponto onde o navio se partiu ao meio.
Passageiros disseram que as luzes ainda estavam acesas quando o navio afundou.
A réplica digital mostra que algumas caldeiras estão côncavas, o que sugere que ainda estavam em funcionamento quando entraram na água.
No deck da popa, uma válvula foi encontrada aberta, indicando que o vapor ainda fluía para o sistema de geração de energia elétrica.
Isso teria sido possível graças a uma equipe de engenheiros liderada por Joseph Bell, que permaneceu a bordo alimentando as fornalhas com carvão para manter as luzes acesas.
Todos morreram no desastre, mas suas ações heroicas salvaram muitas vidas, disse Parks Stephenson.
“Eles mantiveram as luzes e a energia funcionando até o fim, para dar à tripulação tempo de lançar os botes salva-vidas com alguma luz, em vez de na escuridão total”, disse ele à BBC.
“Eles contiveram o caos o máximo possível, e tudo isso está, de certa forma, simbolizado por essa válvula de vapor aberta ainda ali, na popa.”

Crédito, Atlantic Productions/Magellan
Uma nova simulação também trouxe mais informações sobre o naufrágio.
Ela usa um modelo estrutural detalhado do navio, baseado nas plantas do Titanic, além de dados sobre sua velocidade, direção e posição, para prever os danos causados pela colisão com o iceberg.
“Utilizamos algoritmos numéricos avançados, modelagem computacional e supercomputadores para reconstruir o naufrágio do Titanic”, disse o professor Jeom-Kee Paik, da Universidade College London, que liderou a pesquisa.
A simulação mostra que, ao atingir o iceberg de raspão, o navio sofreu uma série de perfurações alinhadas ao longo de uma faixa estreita do casco.

Crédito, Jeom Kee-Paik/ University College London
O Titanic era considerado inafundável, projetado para continuar na superfície da água mesmo que quatro de seus compartimentos isolados fossem inundados.
Mas a simulação calcula que os danos causados pelo iceberg se espalharam por seis compartimentos.
“A diferença entre o Titanic afundar ou não está nos mínimos detalhes — furos do tamanho de uma folha de papel”, disse Simon Benson, professor associado de arquitetura naval na Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
“Mas o problema é que esses pequenos furos se estendem por uma longa parte do navio, então a água entra lentamente, mas de forma constante, por todos eles, e eventualmente os compartimentos são inundados por cima, e o Titanic afunda.”
Infelizmente, os danos não podem ser vistos no escaneamento, já que a parte inferior da proa está coberta por sedimentos.

Crédito, Atlantic Productions/Magellan
A tragédia humana do Titanic ainda é muito visível.
Pertences pessoais dos passageiros estão espalhados pelo fundo do mar.
O escaneamento está revelando novas pistas sobre aquela noite fria de 1912, mas os especialistas levarão anos para examinar minuciosamente cada detalhe da réplica 3D.
“Ela só nos conta suas histórias aos poucos”, disse Parks Stephenson.
“Cada vez, ela nos deixa querendo mais.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL