A touriga nacional é, por excelência, a casta tinta mais emblemática de Portugal, e sua história remonta ao fim do século XVIII, tendo sido formalmente identificada por Lacerda Lobo em 1790 nas subregiões do Douro e das Beiras.
É provável que tenha se originado na aldeia de Tourigo, no Dão, onde se observa maior variabilidade genética, reforçando essa hipótese. Por muitos anos, permaneceu confinada ao Dão e ao Douro — quase reduzida a uma minoria, especialmente após a devastação da praga filoxera no século XIX, quando seu baixo rendimento a tornou menos atrativa.
Nos anos 1980, graças a esforços intensivos de reestruturação, seleção de clones e microvinificação, foi recuperada e reposicionada como protagonista nos vinhos portugueses.
Atualmente, a touriga nacional ocupa uma posição de enorme destaque: é mais conhecida e valorizada de Portugal, considerada por muitos a “rainha” das uvas tintas portuguesa.
Representa cerca de 13 000 hectares, tornando-se a terceira mais cultivada no país — com liderança no Douro, seguida pelo Dão e Alentejo.
A sua expansão internacional é notável: encontrou solos e climas adaptáveis na Espanha (em especial no Priorat), África do Sul, Austrália, Califórnia e até no Brasil.
Em Bordeaux, foi selecionada como uma das castas autorizadas para plantio, destinada a estudar a adaptação às mudanças climáticas.
Essa autorização, de junho de 2019, permite seu uso em denominações como Bordeaux e Bordeaux Supérieur, limitada a até 5 % da área de vinhedo e até 10 % do blend — um marco simbólico para uma região tradicionalmente conservadora.
Um touriga nacional bem feito — seja do Douro ou do Dão — revela um perfil aromático vibrante e complexo: destacam-se violetas, frutas negras (amora, ameixa, cereja), ervas aromáticas, especiarias como pimenta preta e cravo, além de notas balsâmicas, chá, cacau, bergamota e alcaçuz.
No Douro, a bebida é geralmente estruturada, com taninos firmes e acidez presente — ideal para envelhecimento.
Aromas intensos de fruta madura, violetas, especiarias e até notas defumadas são típicos.
No Dão, em clima mais ameno e solo granítico, o estilo tende a ser mais elegante e fresco, com acidez equilibrada, taninos mais delicados e perfil floral mais pronunciado.
A touriga nacional é sinônimo de intensidade e, mesmo com taninos robustos, sua acidez e concentração cromática propor- cionam vinhos elegantes e longevos.
Fonte.: Veja SP Abril