Tenho à vista nesta semana três livros que defendem o liberalismo. Eles refutam três posições que permitiram aos progressistas e conservadores roubarem: anti-imperialismo, religião e igualdade.
Um é “Violent Saviors: The West’s Conquest of the Rest” [salvadores violentos: a conquista pelo ocidente do restante], de William Easterly. O autor defende a tese esmagadoramente convincente de que a “missão de civilizar” o “Restante” foi profundamente, e até estupidamente, antiliberal.
Os missionários católicos nas Nações Originais, os imperialistas do século 19 e os especialistas em “desenvolvimento” dos últimos 80 anos exibiram todos a arrogância da expertise (sobre a qual Easterly escreveu e vivenciou: ele trabalhou muito tempo no Banco Mundial). Ele indica que o tratamento das mulheres como crianças tem a mesma metáfora no trabalho: ah, coitada, deixe-me ajudá-la —impedindo, por exemplo, que você estudasse medicina.
Os marxistas e outros esquerdistas roubaram o anti-imperialismo. Afirmaram que os impérios europeus recentes foram a consequência do… liberalismo. J. A. Hobson (1858-1940), Lênin (1870-1924) e muitos outros achavam que o “capitalismo tardio” exigia a exploração do Terceiro Mundo. Você ainda escuta essa afirmação feita confiantemente por acadêmicos marxistas que dominam as universidades brasileiras e americanas. A afirmação nunca teve sentido.
A maioria dos liberais clássicos foi de anti-imperialistas empedernidos, como o escocês Adam Smith e o americano Henry David Thoreau (1817-1862). Apesar de ter havido o “império” do Brasil, Pedro 1° foi na verdade o Libertado do império de Portugal, e Pedro 2°, um governante liberal modelo, libertador dos escravos.
O segundo livro, a ser lançado em fevereiro, é “No Compulsion in Religion – No Exceptions: Islamic Arguments for Religious Freedom” [Sem compulsão na religião – sem exceções: os argumentos islâmicos para a liberdade religiosa], editado por meu colega no Cato Mustafa Akyol. Assim como Easterly contra o imperialismo, Akyol há anos leva o pensamento liberal ao confronto com a minoria de países muçulmanos consumidos pelo ódio à liberdade.
Ele diz que o Islã não precisa ser antiliberal —assim como a cristandade também não precisa ser, embora muitos teóricos cristãos antiliberais recentes, como Patrick Deneen, tenham dito que sim, precisa.
Mil anos atrás, o Islã era decididamente mais liberal que os miseráveis cristãos. Sobre a recente reimposição de uma louca tirania no Afeganistão, Akyol escreve: “Mas essa era realmente a coisa islâmica a ser feita? O Taleban estava certo, religiosamente?”. Ele e outros destacados acadêmicos islâmicos incluídos no livro dizem não, e citam o Alcorão (2:256) como apoio: “Não há compulsão na religião”.
O terceiro livro é meu: “Equality of Permission”, a ser lançado em setembro. Assim como os outros, ele nega o absurdo antiliberal. Easterly nega a afirmação absurda de que o liberalismo causou o imperialismo e Akyol nega a afirmação absurda de que o Islã tem de ser antiliberal. Eu nego a afirmação absurda de que a permissão leva à desigualdade.
Chega de absurdos. O liberalismo não é um “neoliberalismo” cruel, antipobres, anti-Terceiro Mundo. Tampouco é o inimigo da verdadeira religião. É a vida natural de adultos liberados.
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Fonte.:Folha de S.Paulo


