10:59 PM
21 de setembro de 2025

Tripé corrosivo ameaça governo Macron – 21/09/2025 – Opinião

Tripé corrosivo ameaça governo Macron – 21/09/2025 – Opinião

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Crise política em um cenário de contas públicas em frangalhos e de descontentamento popular formam um tripé corrosivo para qualquer governo. Emmanuel Macron, presidente da França, depara-se com essa situação temerária que ameaça não só a estabilidade econômica e social do país, mas sua permanência no poder até o fim de seu mandato, em 2027.

Convocadas pelas centrais sindicais, a greve e as manifestações de quinta (18) em Paris e nas principais cidades do país expuseram o furor popular contra projeto do governo para o Orçamento de 2026, que prevê o corte de 40 bilhões de euros nos gastos sociais.

Mais de 500 mil franceses clamaram nas ruas pela retomada dos impostos sobre a população mais rica e as grandes corporações da França —uma alternativa fiscal rechaçada por Macron há oito anos. Agregaram ainda pressões pela revisão da reforma previdenciária de 2023, que semeou contrariedade ao aumentar a idade mínima para aposentadoria de 62 anos para 64 anos.

Em apenas um ano, a austeridade orçamentária ceifou três primeiros-ministros, maculados pelo voto de desconfiança da Assembleia Nacional. Tal sucessão expôs a fragilidade do governo, desprovido de base majoritária em um Parlamento no qual as forças de centro, direita e esquerda mantêm-se em permanente estado de colisão —em benefício das alas extremistas.

Neste momento, não há outra alternativa senão o difícil diálogo com a centro-direita e a centro-esquerda em torno de um orçamento razoavelmente austero e socialmente palatável.

Tal fórmula, porém, dificilmente responderá aos desafios de um país com dívida soberana de 114% do PIB e cujo déficit público deve alcançar 5,4% do produto neste ano —bem acima dos 3% recomendados pela União Europeia.

A missão cabe agora ao quinto primeiro-ministro de Macron desde 2017. Em apenas 11 dias no cargo, entretanto, o centrista Sébastian Lecornu enfrentou dois massivos protestos.

Não bastasse, a agência de rating Fitch rebaixou a nota de crédito soberano da país por considerar improvável sua consolidação fiscal em um ambiente de fragmentação política.

A França está em apuros. O cenário, porém, pode agravar-se se não houver um pacto em favor da superação do tripé que a devora. Ouvir os apelos das lideranças radicais da direita e da esquerda por eleições para a Assembleia Nacional e pela renúncia de Macron será útil. Sobretudo para forjar um consenso que impeça tais soluções populistas.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte.:Folha de S.Paulo

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