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A medida, parte de uma agenda protecionista vendida desde a campanha do republicano à Casa Branca, foi mais agressiva e abrangente do que o esperado.
O dólar recuou em relação a uma ampla cesta de moedas, como o euro (-2%), o iene japonês (-1,5%), o dólar australiano (-1,2%), o peso mexicano (-1,2%) e o real (-1,23%).
As bolsas americanas também despencaram. O S&P 500, índice que reúne as ações das maiores companhias dos Estados Unidos, recuou 4,1%.
O da Nasdaq, que concentra empresas de tecnologia, retraiu 5,2%.
São as maiores quedas desde setembro de 2022.
Também sofreram tombos significativos papéis de empresas como Apple (-9,3%), Amazon (-8,1%), Meta (-7,3%), Tesla (-4,8%), Nvidia (-6,2%) e Nike (-13,1%).
Os mercados registraram ainda perdas na Europa — com queda de 1,5% no FTSE 100 do Reino Unido; de 1,9% no índice Dax, da Alemanha; e de 2,6% no Cac 40, da França — e na Ásia.
O Nikkei do Japão fechou em queda de quase 3% e o Hang Seng de Hong Kong, de 1,5%.
O Brasil conseguiu, de certa forma, escapar da sangria. O Ibovespa registrou alta durante parte do dia e fechou em relativa estabilidade, com leve queda de 0,04%.

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As ações ligadas a commodities foram as que mais puxaram o índice para baixo, refletindo o temor de que o tarifaço possa levar a uma desaceleração da economia global e, por consequência, a uma menor demanda por matérias-primas.
A Petrobras e petrolíferas menores com ações listadas na bolsa brasileira amargaram quedas significativas, ecoando a retração na cotação do petróleo que também marcou esta quinta-feira.
Tanto o barril do tipo Brent, referência mundial, quanto o WTI, referência nos EUA, acumulavam perdas de quase 7% no fim do pregão. Nesse caso, os analistas também creditaram parte do recuo ao anúncio pela Opep+ de que seus membros elevariam a produção nos próximos meses.
Enquanto os mercados derretiam pelo mundo, o preço do ouro, considerado um ativo mais seguro em tempos de turbulência, chegou a atingir máxima histórica, de US$ 3.167,57 a onça.
O que foi anunciado
Investidores têm expressado preocupação com os possíveis impactos globais das tarifas de Trump, temendo que elas possam desatar uma guerra comercial e esfriar o comércio mundial.
Economistas têm reiterado a expectativa de que a política protecionista americana eleve a inflação nos EUA e desacelere a economia do país, com consequências para além do seu território.
Na quarta-feira (2/4), Trump anunciou a imposição de uma tarifa universal de 10% sobre os produtos que entrarem nos EUA vindos de dezenas de países, além de tarifas adicionais àqueles considerados como “piores infratores”, como União Europeia (20%) e China (34%) — que já havia sido tarifada em 20% algumas semanas antes.
O Brasil foi tarifado em 10%, com algumas exceções que miram, por exemplo, os dois principais produtos brasileiros vendidos aos americanos: o petróleo, que ficará isento do novo imposto, e o aço, que continua taxado em 25%, medida adotada por Trump em março.

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Recessão?
“Este é o pior cenário”, avaliou Jay Hatfield, diretor-executivo da Infrastructure Capital Advisors, que presta consultoria na área de investimentos.
“O suficiente para potencialmente levar os Estados Unidos a uma recessão”, acrescentou ele, ecoando a apreensão que tomou conta dos mercados após o anúncio.
George Saravelos, chefe da área de câmbio do Deutsche Bank Research, afirmou que as novas tarifas foram uma reação “altamente mecânica” aos déficits que os EUA têm com seus parceiros comerciais, e não a “avaliação sofisticada” que a Casa Branca havia prometido.
Saravelos alertou que a medida “corre o risco de reduzir a credibilidade política do governo Trump”.
“O mercado pode questionar até que ponto há um processo de planejamento suficientemente estruturado para a tomada de decisões econômicas importantes. Afinal, esta é a maior mudança na política comercial dos EUA em um século”, opinou.
*Com informações de Tom Espiner, repórter de negócios da BBC.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL