Taiwan é mundialmente famosa pela fabricação de semicondutores e eletrônicos. As fábricas taiwanesas dominaram o trabalho intrincado de gravar circuitos em silício, e se tornaram responsáveis pela maior parte do fornecimento mundial de chips de computador avançados.

A ilha também é uma importante fonte de outro componente essencial e muitas vezes invisível de objetos cotidianos: os parafusos. E a maioria vai para os Estados Unidos, onde são usados para construir aeroportos, decks de quintal e armários de banheiro.

Agora, as tarifas de 50% do presidente Donald Trump sobre aço e alumínio, que entraram em vigor em junho, deixaram os fabricantes de parafusos taiwaneses se perguntando como seus negócios sobreviverão nos próximos meses. Para os EUA, Taiwan tem sido a principal fonte de parafusos e fixadores metálicos como porcas e cavilhas por mais de três décadas, com a China ganhando terreno como a segunda maior.

No sul da ilha, as fábricas de parafusos de Taiwan espalham-se por distritos industriais como Lujhu e Gangshan, onde os sons de maquinário em funcionamento ecoam ininterruptamente.

A área abriga cerca de 1.500 empresas fabricantes de parafusos, e aproximadamente 1 em cada 8 pessoas trabalha na indústria, segundo Chiu Chih-Wei, legislador de Kaohsiung. A estrada está repleta de tantos parafusos e peças metálicas soltas que os motoristas frequentemente precisam substituir seus pneus.

O avô de Kent Chen fundou a Sheh Fung Screws Co. em 1973. Suas fábricas operam dia e noite fabricando mais de 1.000 tipos de parafusos. A maioria deles é vendida sob as marcas de seus clientes nos EUA em lojas como a Home Depot.

Chen, 48, assumiu a gestão da Sheh Fung em 2010. Ele investiu em novos equipamentos e sistemas para atrair clientes estrangeiros, e trabalhou com uma empresa americana que fabrica tinta para carros para combinar as cores dos parafusos com a madeira. Os negócios prosperaram.

A empresa desenvolveu centenas de tipos de parafusos para fixação em madeira e concreto. Alguns foram usados para construir shopping centers, outros para varandas frontais e prateleiras de escritório.

Mas desde que as tarifas sobre o aço entraram em vigor, os pedidos da Sheh Fung caíram quase 20% em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Tudo está em modo de pausa”, disse Chen. “Muitos de nossos clientes disseram: ‘Vamos ver’, mas depois não recebemos muitos pedidos.”

No mês passado, as exportações de produtos tecnológicos de Taiwan, como chips e servidores de inteligência artificial, aumentaram mais de 50% em relação ao ano passado, à medida que as empresas anteciparam remessas antes de possíveis aumentos de preços. Mas as exportações não tecnológicas, como parafusos, caíram quase 6%.

Além das tarifas de Trump, um problema para exportadores como a Sheh Fung é a valorização da moeda de Taiwan. Ela se valorizou fortemente em relação ao dólar americano este ano, uma desvantagem para uma economia orientada para exportação.

“Nunca temos prejuízos. Mas este ano, no segundo trimestre, realmente tivemos um grande prejuízo por causa da situação cambial”, afirmou Chen.

Autoridades em Taiwan disseram que monitorarão a taxa de câmbio, mas não tomaram nenhuma medida para ajustá-la. Qualquer movimento do governo taiwanês para conter a valorização da moeda poderia atrair a ira da administração Trump. Taiwan é um dos nove principais parceiros comerciais que o Departamento do Tesouro dos EUA está monitorando por potencial manipulação cambial.

Os fabricantes taiwaneses também enfrentam intensa competição dos fabricantes de parafusos da China.

A Lu Chu Shin Yee, uma das maiores empresas de parafusos de Taiwan, fabrica produtos de aço desde 1965. Hoje, a empresa fabrica parafusos usados em aplicações especializadas como vagões de metrô, trens de alta velocidade e ventiladores de exaustão em data centers.

As empresas chinesas frequentemente cotam preços que são 30% a 50% mais baixos do que as de Taiwan, disse Karl Tsai, 61, gerente geral da Lu Chu Shin Yee e filho do fundador da empresa.

Os taiwaneses enfrentam pressão crescente dos concorrentes chineses há mais de uma década. Mas a combinação das tarifas de Trump e a valorização da moeda levaram a indústria a um ponto crítico. As margens de lucro são menores para os fabricantes de parafusos do que para os fabricantes de chips de computador. E os donos de fábricas disseram que também competem com o setor de chips de Taiwan por apoio governamental e trabalhadores.

Chiu, o legislador de Kaohsiung, disse que estimava que cerca de uma dúzia de fábricas em seu distrito haviam fechado desde que a moeda começou a se valorizar e as tarifas entraram em vigor.

Bairros inteiros entre Tainan e Kaohsiung são dedicados à indústria de parafusos. Caminhões transportam bobinas de aço extrudado por ruas onde algumas fábricas formam os parafusos, outras reparam maquinário e outras ainda aplicam revestimentos.

Na Eternal Golden Plating, que reveste parafusos usados em carros e motocicletas, os negócios estavam tão bons no ano passado que a fábrica planejava contratar pessoas suficientes para operar um segundo turno de produção, disse Gino Yang, 42, presidente da empresa desde 2021. Mas por causa das tarifas e da pressão da taxa de câmbio, ele contratou apenas dois novos trabalhadores.

Algumas grandes empresas como Lu Chu Shin Yee e Sheh Fung têm fábricas na China, Filipinas e Vietnã, para onde podem transferir a produção para ajudar a reduzir custos. Mas fabricantes menores não têm essa flexibilidade, afirmou Yang. “Pequenas empresas como a nossa não sobrevivem sem pedidos.”

O CEO da Home Depot, Ted Decker, prometeu que até o próximo ano, nenhum país fora dos EUA representará mais de 10% de todas as compras da empresa. Ele disse em uma teleconferência de resultados em maio que mais da metade de suas compras já eram de fabricantes americanos.

Mas os fabricantes de parafusos taiwaneses disseram que os EUA não tinham o tipo de fábricas necessárias para substituir as importações da ilha.

Os americanos não estariam dispostos a trabalhar em tais fábricas pelos salários que as empresas pagam em Taiwan, disse Tsai da Lu Chu Shin Yee.

Mesmo o fabricante de chips mais avançado de Taiwan, a Taiwan Semiconductor Manufacturing, teve problemas para recrutar um número suficiente de trabalhadores qualificados para sua fábrica no Arizona, observou Tsai. E manusear aço inoxidável quente é ainda mais extenuante do que trabalhar em uma fábrica de chips.

“Como esse tipo de trabalho poderia acontecer nos Estados Unidos?”, perguntou Tsai. “Não poderia.”