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11 de setembro de 2025

Turismo na Rússia: o que fazer em Moscou e São Petersburgo – 10/09/2025 – Turismo

Turismo na Rússia: o que fazer em Moscou e São Petersburgo – 10/09/2025 – Turismo

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Viajar para Moscou e São Petersburgo em 2025 pode parecer, à primeira vista, uma escolha fora do padrão, especialmente diante do cenário político atual. Mas basta chegar e caminhar pelas ruas dessas duas cidades para entender por que tanta gente continua vindo. Elas não são só extremamente limpas, belas e seguras. São vivas, densas, carregadas de história. E oferecem uma experiência cultural que simplesmente não se encontra em Paris, Roma ou Berlim.

São Petersburgo, conhecida como a Veneza do Norte, parece saída de um romance. A luz muda a cada hora, refletindo nos canais e nas fachadas de seu passado imperial, que resiste. O Palácio de Inverno, as igrejas ortodoxas com cúpulas douradas, a Fortaleza de São Pedro e São Paulo —tudo carrega uma solenidade difícil de explicar. O Hermitage é parada obrigatória: seu acervo é ainda maior que o do Louvre, e a extensão da área de exposição é comparável.

Você se vê em silêncio diante de um ícone ortodoxo ou ouvindo os sinos de uma catedral sem entender exatamente por que aquilo comove. Talvez seja a alma eslava —uma combinação de tragédia e beleza.

Moscou, por sua vez, é mais dura. Mais grandiosa. Uma metrópole mesmo. É o centro do poder russo, sim, mas também pulsa com cafés alternativos, jovens artistas e espaços de criação. O metrô, concebido nos anos 1930 como um “palácio para o povo”, continua refletindo a ambição monumental do regime soviético. A Praça Vermelha ao entardecer tem algo de cinematográfico.

Mas o que talvez mais surpreenda o visitante não sejam os monumentos, e sim as pessoas. O povo russo, moldado por séculos de adversidades, é ao mesmo tempo reservado e profundamente caloroso. A hospitalidade pode parecer discreta no início, mas logo revela uma generosidade que parece sincera. Os brasileiros são vistos com simpatia: um povo alegre, espontâneo, de bem com a vida, ainda que estereotipado. Duas vezes, ao dizer que era brasileiro, ouvi: “We are friends, Brics friends!” (“Nos somos amigos, amigos de Brics!”)

A culinária russa, por si só, já justificaria a viagem. Antes de chegar ao país, eu imaginava algo austero e simples, com uma gama reduzida de ingredientes, como frequentemente ocorre nas cozinhas inglesa e escandinava, muito devido às condições climáticas destes países. No entanto, ao contrário delas, a gastronomia russa se desenvolveu de forma surpreendente diversificada. Blinis com caviar, pelmeni, estrogonofe, sopas intensas como borsch e solianka, o clássico medovik (bolo de mel). Tudo é servido em ambientes que vão de tavernas rústicas a restaurantes de alto padrão.

Para além dos sabores, o visitante atento nota transformações marcantes. Algumas estátuas de Stálin voltaram a ocupar espaços públicos; nem sempre como símbolos oficiais, mas muitas vezes impulsionadas por iniciativas locais ou ligadas à propaganda do governo atual, que reforça um sentimento de orgulho histórico e de vitória militar.

Ao mesmo tempo, as ruas revelam uma substituição evidente: marcas chinesas como Geely, Chery, Haval e BYD tomaram o lugar das tradicionais europeias Audi, BMW, Mercedes —que deixaram o país após as sanções econômicas decorrentes do conflito na Ucrânia. O mesmo vale para o setor de fast food: o McDonald’s foi substituído pela rede russa Vkusno & Tochka (“Saboroso e ponto final”), que manteve um cardápio quase idêntico. Experimentei. Os hambúrgueres e até o molho parecem ter o mesmo sabor daqueles da rede americana. O Starbucks virou Stars Coffee —com ambientação e bebidas familiares.

Para acessar Google Maps, Instagram ou WhatsApp, o uso de VPN se tornou comum e altamente recomendado para o turista. Apple Pay deixou de operar, mas soluções locais como Mir Pay e pagamentos em dinheiro funcionam bem.

É verdade que há também desafios logísticos: as sanções dificultam o uso de cartões internacionais, e alguns serviços ocidentais estão ausentes, sem falar que voos geralmente exigem conexões em países como Turquia, Sérvia ou Emirados Árabes Unidos. Além disso, há o risco de atrasos. Por questões de segurança e ameaça de drones em áreas próximas à capital, o espaço aéreo de Moscou tem sido fechado com relativa frequência nos últimos três anos, embora quase sempre por poucas horas. Também não há registros de incidentes com voos comerciais.

Mesmo com a guerra, o número de visitantes cresceu nos últimos dois anos. Em 2023, cerca de 8,2 milhões de turistas internacionais visitaram a Rússia. Em 2024, esse número ultrapassou os 10 milhões. A maioria se concentrou em Moscou e São Petersburgo.

É importante destacar: visitar a Rússia não significa ser indiferente à guerra. Pelo contrário, é possível e necessário distinguir entre as decisões de um Estado e a riqueza de um povo e sua cultura.

Os russos são, em geral, nacionalistas e valorizam sua história e identidade, mas não chegam a ser ufanistas. São orgulhosos de sua literatura, de sua fé, de seus mártires e de seus poetas e, ao mesmo tempo, são receptivos ao olhar estrangeiro que chega com respeito e curiosidade.

Viajar para a Rússia hoje é uma escolha que confronta certezas, que incomoda e revela. Estar ali, ouvindo, observando, conversando permite enxergar nuances que não cabem em narrativas simplificadas. E isso, por si só, já transforma o próprio viajante. Em tempos de tanta polarização e desinformação, ver com os próprios olhos continua sendo uma das formas mais honestas de entender o mundo.

Dicas práticas

Dinheiro

Bandeiras americanas como Visa, Mastercard não operam por ali. Só funcionam cartões de bandeiras locais, como o Mir. Como também não se saca dinheiro, o jeito é trazer boa quantidade de euros ou dólares em espécie e trocar em casa de câmbio.

Viagens aéreas

Não há voos ligando a Rússia aos EUA ou à maioria da União Europeia. A alternativa, de quem parte do Brasil, é fazer escala em países como Turquia. Qatar ou Emirados Árabes Unidos.

Sites e apps

WhatsApp e Instagram são alguns dos aplicativos que não funcionam na Rússia por causa das sanções; para usá-los o turista vai precisar do auxílio de um VPN.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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