As reservas de férias para o Japão provenientes de mercados asiáticos despencaram antes da movimentada temporada de verão. O motivo: rumores de um terremoto profetizado em um mangá.

Redes sociais e publicações virais têm inquietado viajantes e renovado a atenção para a previsão da artista de mangá Ryo Tatsuki sobre um enorme terremoto que inundaria o Japão com um tsunami. Tatsuki, que alguns afirmam ter previsto o terremoto japonês de 2011, indica julho de 2025 como a data do evento iminente em sua obra, publicado originalmente em 1999.

O mangá foi republicado em 2021 com conteúdo adicional, fazendo com que a especulação sobre o terremoto ganhasse nova vida nas redes sociais, com vídeos no YouTube e publicações no Facebook alertando as pessoas sobre viagens ao Japão, atraindo milhões de visualizações.

Embora cientistas afirmem que o momento exato dos terremotos não pode ser previsto, as vendas de voos de Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong caíram desde abril —com reservas deste último despencando em média 50% em comparação ao ano anterior, de acordo com uma análise da Bloomberg Intelligence baseada em dados da ForwardKeys. As reservas semanais de chegadas para o final de junho e início de julho também caíram até 83%.

A Greater Bay Airlines e a Hong Kong Airlines reduziram alguns voos para o Japão neste mês, enquanto autoridades imploram ao público que não deem crédito aos rumores.

Yoshihiro Murai, governador da região de Miyagi, disse no mês passado que os rumores estavam começando a afetar o turismo e solicitou às pessoas que não levassem as especulações a sério. O site da Agência Meteorológica do Japão lembrou que a ciência atualmente não pode prever tremores com alta precisão.

A localização do Japão no chamado Círculo de Fogo, uma região de intensa atividade tectônica que circunda o Oceano Pacífico, torna-o um dos países mais propensos a terremotos do mundo. O último grande terremoto do Japão foi em 2011, que causou um devastador tsunami e desastre nuclear em Fukushima.

Mesmo assim, o turismo geral para o Japão permanece vigoroso. Em abril, o Japão registrou um recorde de 3,9 milhões de visitantes estrangeiros, atraídos pelo iene desvalorizado.

“As especulações sobre o terremoto estão definitivamente tendo um impacto negativo no turismo japonês e vão desacelerar temporariamente o boom”, disse Eric Zhu, analista da Bloomberg Intelligence para aviação e defesa. “Os viajantes estão adotando uma abordagem avessa ao risco, dada a abundância de outras opções de curta distância na região.”

Zhu espera que mais companhias aéreas sintam algum prejuízo nos próximos meses com base nos padrões atuais de reservas e cargas de voo previstas.

A Cathay Pacific pode estar particularmente em risco devido à sua alta exposição ao mercado de turismo japonês. O grupo, que inclui a Hong Kong Express, planeja dedicar quase um quinto de seus assentos programados ao Japão até o outono, tornando-o o maior mercado internacional para as companhias aéreas, disse Zhu em uma nota.

O trabalho de Tatsuki — “O futuro que Vi” — é baseado em um sonho no qual um tsunami inunda o arquipélago japonês e impacta Hong Kong, Taiwan e Filipinas. Os rumores também foram alimentados por um proeminente mestre de feng shui de Hong Kong que distribui previsões para um grande público online e alertou os que buscam férias a evitar o Japão.

Outros estão se baseando em um relatório de fevereiro, publicado pela força-tarefa governamental japonesa sobre terremotos, que monitora há muito tempo a atividade sísmica ao longo da fossa de Nankai. O relatório aponta que, nos próximos 30 anos, há 80% de chances de que um mega terremoto por ali desencadeie tsunamis de até 30 metros.

Por sua vez, Tatsuki, agora aposentada e ainda vivendo no Japão, disse que o alto nível de interesse reflete a crescente conscientização sobre preparação para desastres.

“Eu mesma gostaria de tomar precauções como estocar suprimentos e confirmar rotas de evacuação ao sair”, disse ela em uma declaração à Bloomberg. “Pretendo permanecer vigilante diariamente à medida que nos aproximamos de julho de 2025.”