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16 de agosto de 2025

Turismo para observação de céu e estrelas cresce no Brasil – 13/08/2025 – Turismo

Turismo para observação de céu e estrelas cresce no Brasil – 13/08/2025 – Turismo

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É bem provável que, em sua próxima viagem, você tope com algum programa turístico que envolva observação de estrelas. É o chamado astroturismo, que se vale de lugares na natureza onde há pouca luz artificial para oferecer experiências de contemplação do céu noturno.

A ideia não é nova para os aficionados no assunto, que chegam a reservar viagens com meses de antecedência para avistar eclipses solares, por exemplo. Mas, depois da pandemia, a observação astronômica passou a ser apontada como uma tendência, com ofertas cada vez maiores.

Um estudo divulgado na semana passada analisou o potencial astroturístico dos 75 parques nacionais brasileiros. A lista também inclui um parque estadual, o do Desengano, no Rio de Janeiro, que em 2023 se tornou o primeiro “parque de céu escuro” da América Latina, reconhecido pela baixa poluição luminosa.

Os pesquisadores criaram um índice batizado de Iastro, que considera a qualidade do céu à noite, a chance de haver céu aberto e o nível de infraestrutura turística.

  • Olhar o céu nunca mais será a mesma coisa depois de uma noite no Atacama

“A qualidade do céu é o parâmetro mais importante, pois indica o quanto o céu do parque é escuro, ou seja, o quanto o local é menos afetado pelo excesso de luzes artificiais das cidades”, diz Daniel Mello, astrônomo do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do projeto Astroturismo nos Parques Brasileiros.

Publicado na Revista Brasileira de Ecoturismo, o trabalho aponta também os benefícios do astroturismo para a saúde e o bem-estar.

“O potencial do astroturismo no Brasil é atestado por dados robustos”, diz o estudo. “O atlas mundial de luminosidade artificial do céu noturno indica o Brasil como um dos países do G20 com os menores níveis de poluição luminosa.”

O acesso aos parques nacionais brasileiros tem crescido seguidamente —o total de visitas chegou no ano passado a 12,5 milhões, segundo dados do governo federal Pelos critérios do Iastro, oito deles foram considerados excelentes para o astroturismo, e 25, com nota ligeiramente inferior,

estão classificados como ótimos.

Um dos lugares classificados como ótimo pelo Iastro é o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. “Nele é possível observar uma gama de objetos e fenômenos que incluem as chuvas de meteoros, a Via Láctea, as Nuvens de Magalhães, nebulosas e dezenas de constelações, a olho nu, sem o uso de instrumentos”, diz Daniel, um dos autores do índice.

O passeio noturno a partir do vilarejo de Atins custa R$ 800 (para duas pessoas, na Gaivota Eco Tur Hub) e também inclui a observação do plâncton bioluminescente na foz do rio Preguiças.

É preciso torcer para a lua estar o mais escondida possível. Aí entra-se na parte rasa do rio e chacoalha-se a água para desencadear o fenômeno da bioluminescência, causada por uma reação química provocada por um gene.

Em seguida, o passeio, que é feito com guia e dura cerca de duas horas, segue para o topo de uma duna, para a observação do céu, que pode ser feita sem nenhum instrumento —mas aplicativos no celular podem ser úteis para ajudar a localizar as estrelas. Vinho e queijos, inclusos no passeio, também têm bastante utilidade neste momento.

Apesar do calor, o vento pode incomodar um pouco, então é bom levar algum agasalho leve.

Entre a água e o céu, impressiona a tranquilidade do parque à noite, só quebrada por algum raro veículo que passe perto e por um ou outro bovino que esteja circulando pela área.

O céu límpido impressiona mesmo quem não entende quase nada das estrelas. Nem o Cruzeiro do Sul parece o mesmo quando visualizado nos Lençóis.

No Paraná, o Parque Nacional do Iguaçu, classificado como muito bom pelo estudo, passou a vender a atividade chamada Céu das Cataratas. Ela acontece aos sábados, às 19h, em um dos mirantes que levam às quedas d’água.

O projeto é fruto de uma parceria com o Cosmos Iguassu, que já oferecia a experiência aos hóspedes do Hotel das Cataratas, que opera dentro do parque, e agora ampliou o acesso para o público geral —para não dispersar muito a aula, a atividade é indicada para quem tem a partir dos 12 anos. Custa R$ 550 e deve ser agendada no site cataratasdoiguacu.com.br.

O passeio começa um pouco depois do pôr do sol, no centro de visitantes. Assim como na visita diurna, o grupo embarca num ônibus que leva até o hotel, de onde parte uma pequena trilha em direção a um mirante. Ali, espreguiçadeiras com travesseiro e manta aguardam os visitantes.

Tão logo vinho e água são servidos, o astrônomo e guia estrelar Janer Vilaça começa a falar. Ele explica o que há no céu tanto a partir da perspectiva científica quanto na visão dos indígenas guarani, que habitavam a região antes da chegada dos europeus e têm a sua própria cosmologia.

Vilaça conta que foi há 5.000 anos que os humanos começaram a usar o céu para medir o tempo e marcar datas a partir dos ciclos do sol e da lua. Em 1929, a União Astronômica Internacional padronizou as nomenclaturas, batizando as constelações com base na mitologia grega, as estrelas com nomes da cultura árabe e os planetas com nome de deuses romanos.

Também se aprende que, ao longo da história, os ciclos das constelações foram ganhando significados. No Hemisfério Norte, por exemplo, o surgimento da constelação de Escorpião marcava o ápice do calor, do qual os escorpiões fogem se escondendo na areia.

Já os guarani viam essa mesma constelação como uma ema, em referência à ave que sempre surge no inverno devorando tudo o que vê pela frente. Quando a ema aparecia no céu, se agachando para beber as águas das cataratas, era sinal de que a estiagem estava chegando. Já a cultura polinésia chama a mesma constelação de anzol, pois quando ela surge no horizonte, é sinal de que a época de pesca esta para começar.

Uma foto da ema feita pelo astrofotógrafo Rodrigo Guerra, da equipe do Cosmos Iguassu, aliás, ganhou medalha de ouro no concurso Brasília Photo Show e, nesta quarta (13), ficou em segundo lugar na votação popular do concurso Dark Sky, uma das principais competições internacionais de fotografia astronômica.

As explicações do professor seguem por cerca de uma hora, sempre apontando as estrelas com um laser e conectando interpretações científicas, históricas e místicas sobre elas.

Ao contrário do que fazem parecer as fotos, em geral clicadas usando a técnica de longa exposição (que mantém o obturador aberto por mais tempo, para captar mais luz), não é possível enxergar galáxias brilhando. Ainda assim, a experiência tem um quê de especial —principalmente por ser à prova de Instagram, já que os celulares não conseguem registrar nada em meio ao breu.

Ao final, todos são convidados a observar a lua a partir de um grande telescópio, que revela o astro com todos os seus relevos, luzes e sombras, como se estivesse na palma da mão. É uma visão fascinante para quem costuma ver o satélite apenas a olho nu.

“É uma atividade que reconecta as pessoas às suas próprias histórias, que é a história do cosmos, de como diferentes civilizações interpretavam o céu. E também com o meio ambiente preservado”, afirma Marcel Bonfada, fundador do Cosmos Iguassu. “Muitas pessoas também lembram de como era a relação dos seus avós com o céu, que é bem diferente da que temos hoje.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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