Quando falei que meu amigo Giuliano era napolitano raiz, nascido e criado em Nápoles, o obreiro da paróquia San Gennaro abriu um sorriso do tamanho do estádio da rua Javari.
Havíamos atravessado a pé o viaduto da rua da Mooca e paramos na porta da igreja para perguntar o caminho da festa, cuja música já escutávamos. San Gennaro –ou São Januário, para ti que não fala italiano– é o padroeiro que há séculos vem impedindo o Vesúvio de calcinar Nápoles, na visão dos devotos.
O dia do santo é celebrado nesta sexta-feira (19). Na Mooca, zona leste de São Paulo, a festa em sua homenagem se estende por todos os fins de semana de setembro. Neste ano, a última quermesse está marcada para domingo, 5 de outubro.
A Mooca tem uma igreja dedicada a San Gennaro porque o bairro recebeu imigrantes napolitanos nos séculos 19 e 20.
Muitos de seus descendentes, mesmo miscigenados, ainda se enxergam
como italianos. Eis uma característica folclórica do mooquense, o paulistano cujo sotaque todo carioca adora espinafrar. Fui com o italiano de verdade –residente da Mooca, por sinal– à festa dos
napolitanos da várzea do Tamanduateí.
O sujeito da paróquia nos conduziu pelo salão da igreja, passando ao largo do altar e atravessando o centro comunitário de onde saía a comida e a bebida. Chegávamos à festa de San Gennaro pela porta dos fundos.
Giuliano, o amigo napolitano, divertia-se ao som da tarantela. Também se divertiam as pessoas na fila da fogazza. Eu, com algumas cervejas na cachola, pus-me a reconsiderar algumas opiniões amargas que já expressei sobre essas festas ítalo-paulistanas –desanquei o macarrão mole da Achiropita, o que não me rendeu o título de cidadão honorário do Bexiga.
Depois de um funiculi e um funiculá, perguntei a Giuliano se a comida desse tipo de festa é boa na Itália. A resposta foi um decidido “não”. Deixa então o povo da Mooca se acabar na fogazza.
Mais tarde, fui pesquisar as comidas de San Gennaro em Nápoles. Encontrei a receita de um espaguete muito, muito simples, com pão velho, alho e anchovas, presumidamente um favorito do comediante Totò.
Você pode também acrescentar tomatinhos amarelos –amarelo é a cor de San Gennaro.
É um macarrão muito bom para improvisar uma refeição rápida, então vai aqui em porção individual.
SPAGHETTI ALLA GENNARO
Rendimento: 1 porção
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 20 a 25 minutos
Ingredientes
- 2 dentes de alho
- 1 fatia de pão italiano amanhecido
- 100 g de espaguete
- 4 colheres (sopa) de azeite extravirgem
- 1 colher (sopa) de orégano
- 1 ou 2 filés de anchova (aliche)
- 6 tomatinhos amarelos (opcional)
- 1 colher (sopa) de manjericão fresco picado
Preparo
- Ponha para ferver água com sal para cozinhar a massa. Pique 1 dente de alho e deixe o outro inteiro. Pique o pão em cubinhos.
- Quando a água ferver, ponha o espaguete para cozinhar.
- Em outra panela, aqueça metade do azeite com o dente de alho inteiro.
- Aqueça até dourar o alho. Frite o pão picado até dourar.
- Reserve o pão e descarte o alho.
- Refogue no azeite restante o alho picado, o orégano e as anchovas triturando-as com a colher de pau.
- Se for usar os tomatinhos, refogue-os brevemente, sem desfazê-los.
- Escorra o macarrão sobre este refogado e misture bem. Misture o pão reservado e salpique manjericão sobre o prato. Esta receita não pede queijo ralado para servir.
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Fonte.:Folha de S.Paulo