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31 de outubro de 2025

Um véu de leveduras cobre o vinho andaluz – 30/10/2025 – Isabelle Moreira Lima

Um véu de leveduras cobre o vinho andaluz – 30/10/2025 – Isabelle Moreira Lima

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Tem um detalhe na produção dos vinhos fortificados de Jerez, na Andaluzia, sul da Espanha, que me encanta. Alguns deles, depois que a fermentação ocorre, ficam protegidos por algo chamado de véu, flor ou ainda véu de flor. É uma camada de leveduras nativas que se desenvolve na superfície dos vinhos devido à umidade da região e que protege bebida do oxigênio. A esse processo, em espanhol, dá-se o nome de “crianza biológica”.

O engraçado é que essa “flor” era vista até o começo do século 19 como defeito. Foi só a partir de 1820, quando os estilos manzanilla e fino —mais salgadinhos, pálidos e bem secos— passaram a ser produzidos, que se entendeu que aquele véu era uma dádiva.

Há vinhos de Jerez com um perfil diferente. Os oxidativos ficam em contato mais direto com o oxigênio, inimigo para muitas bebidas, mas que neles é agente formador de personalidade. Viram amontillados, com notas de amêndoas e cor âmbar, ou olorosos, de cor castanha e mais concentrados e alcoólicos.

Há ainda a famosa solera, regra para todos os estilos. É um método de envelhecimento dinâmico que tem como objetivo dar consistência à bebida e faz com que todos os anos seja possível comprar uma garrafa de Jerez com o mesmo perfil. No caso de Jerez (e da solera), um conjunto de barris é empilhado de forma que os vinhos mais antigos fiquem embaixo e os mais novos no topo. Ao longo das safras, uma porção de vinho do barril mais antigo é removida e engarrafada e a parte utilizada é reposta com vinho do penúltimo barril, seguindo até que o primeiro deles seja completado com novo.

Fico espantada ao ver que, entre 2010 e 2024, as vendas destes vinhos caíram quase à metade (48%). O mundo se desinteressou por Jerez, é isso? Como pode?

Sim, os produtores estão lutando e organizam ações como as previstas para este fim de semana, quando começam os festejos da Sherry Week pelo mundo. Há dez anos, os eventos eram voltados a seis gatos pingados, todos sommeliers. Já no ano passado, as feiras reuniram centenas de apaixonados por esses vinhos ora salgados, ora amendoados, ora dulcíssimos.

Os eventos deste ano incluem masterclasses, jantares harmonizados e bate-papos em bares. A organização é feita por embaixadores formais da região, mas também por gente que foi mordida pelo bichinho de Jerez. Ou, talvez mais correto dizer, encobertos pelo véu de flor.

Anote na agenda

No sábado (1º), é possível provar 35 rótulos de 7 produtores em uma feira na Galeria F28, em Pinheiros. As garrafas serão vendidas a preços especiais. Na quarta (5), o expert Jorge Lucki conduz harmonização com comida japonesa no Makoto; na quinta (6), é dia de tapas com Gabi Frizon, também conhecida como A Louca do Jerez, no Elevado Bar; e na sexta (7), Paulo Brammer, certificado pelo Consejo Regulador de Jerez, conduz a degustação no Plou.

Vai uma taça?

Hoje, para beber Jerez, não se gasta menos que R$ 100. O Fino e o Manzanilla Barbadillo (R$ 174 na World Wine) são uma boa porta de entrada, assim como o Viva la Pepa (R$ 202 na Belle Cave). Para algo mais complexo, o Valdespino Inocente Fino (R$ 416 na Blend Wines) traz uma bebida de vinhedo único e envelhecida. Com uma pontuação alta da Wine Spectator, o Amontillado Napoleon (R$ 505 na Mistral) é a dica para quem pode gastar mais.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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