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31 de julho de 2025

Utensílios de plástico preto causam câncer? Entenda estudo que gerou polêmica

Utensílios de plástico preto causam câncer? Entenda estudo que gerou polêmica

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Um estudo publicado no final do ano passado deu muito o que falar e talvez tenha passado também pela sua linha do tempo nas redes sociais: pesquisadores holandeses e norte-americanos teriam demonstrado que utensílios de plástico preto fariam mal à saúde, tendo potencial de liberar compostos químicos tóxicos associados ao câncer. Só que… não era bem assim.

A pesquisa repercutiu globalmente e despertou preocupação generalizada. Afinal, esse tipo de plástico está muito presente em itens corriqueiros de espátulas de cozinha a barcas de sushi. O problema é que os pesquisadores cometeram um erro crasso de matemática, erraram a posição de um zero, e superestimaram os riscos envolvidos.

Na prática, os produtos testados ficavam bem longe de qualquer limiar considerado danoso à saúde. Um desmentido foi publicado, mas, como costuma ocorrer em casos assim, a história mal contada original permanece bem mais conhecida do que a correção publicada depois.

Entenda melhor essa história.

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O que dizia o estudo

A pesquisa foi publicada em outubro de 2024 pelo periódico Chemosphere, uma revista científica especializada em química ambiental.

O foco do estudo era avaliar como alguns produtos químicos usados como retardantes de chama (para prevenir incêndios), que aparecem tipicamente em eletrônicos, também começaram a se fazer presentes em utensílios culinários, após o plástico ser reciclado.

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Essa parte não mudou: esse ciclo de reutilização do plástico realmente tem ocorrido. O problema é que, segundo o estudo, o aquecimento ao qual esse plástico é submetido na cozinha acabaria liberando compostos tóxicos perigosos, em níveis muito próximos do limite tolerável e com alto potencial de gerar câncer.

Justamente nesse ponto os pesquisadores erraram as contasduas vezes.

Após a correção, o que se sabe sobre o plástico preto?

Os números utilizados pelos autores no artigo original diziam que os utensílios de plástico preto liberam uma média de 34,7 mil nanogramas por dia de BDE-209, o retardante de incêndios com potencial carcinogênico e associado a alterações hormonais.

Isso estaria muito perto do limite de 42 mil ng/dia indicado como “seguro” para um adulto de 60 kg. Mas tanto a estimativa quanto o limite utilizados no cálculo estavam totalmente errados.

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Uma primeira correção foi publicada na mesma revista em dezembro: os autores admitiram que esqueceram de um zero e, na verdade, o limite seguro é dez vezes maior do que o utilizado no cálculo. Em vez de 42 mil ng/dia, o limiar é 420 mil ng/dia. Ou seja: os 34,7 mil nanogramas de BDE-209 ficam bem abaixo.

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Em outra correção posterior, eles revelaram mais um erro na fórmula utilizada: na verdade, a quantidade de BDE-209 liberado com o aquecimento também era bem abaixo dos 34,7 mil estimados originalmente, ficando na casa de 7,9 mil ng/dia.

Os pesquisadores argumentam que o achado central do estudo não muda: os utensílios de cozinha feitos de plástico preto reciclado, usando os retardantes de incêndio, de fato, liberam um composto com potencial tóxico quando aquecidos.

Mas todos os alertas que ganharam manchetes pelo mundo acabaram se provando extremamente exagerados e, ao menos até o momento, não há indícios de que a substância é liberada em quantidade capaz de gerar algum impacto nocivo à saúde.

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Fonte.:Saúde Abril

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