Ao longo das décadas, diversos temas que envolvem o comportamento e a saúde humana foram abordados em novelas. Alguns de maneira superficial, outros com mais profundidade. Quando ganham mais espaço dentro das tramas, os assuntos recebem o rótulo de merchandising social.
Quem não se lembra da cena em que a personagem Camila, de Laços de Família (2000), interpretada pela atriz Carolina Dieckmann, raspa os cabelos em frente à tela apenas com a música tema Love by Grace, de Lara Fabian, após ser diagnosticada com câncer?
E os recortes vão além do binômio saúde-doença. Em Mulheres Apaixonadas (2003), Dóris (Regiane Alves) ficou marcada na memória dos brasileiros como a neta que maltratava os avós. O assunto ganhou tamanha proporção que a artista chegou a vivenciar situações um tanto quanto inusitadas, como apanhar com um jornal de uma senhora dentro de um elevador.
Vale Tudo, uma releitura de um dos clássicos da teledramaturgia exibido originalmente pela TV Globo em 1988, tem apresentado uma série de temas – alguns atemporais, outros bem relacionados aos tempos atuais.
Sob a tutela da roteirista Manuela Dias, a trama adaptada deve permanecer no ar até o mês de outubro. Vamos aos destaques:
+ Leia também: Vinagre de maçã: alimento milagroso ou mais um hype da internet?
1. Heleninha e o alcoolismo
Um dos pontos mais marcantes da versão original de Vale Tudo, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas chegou a ser exibido em diversas outras novelas, como Por Amor (1997), Celebridade (2003), A Favorita (2008) e Viver a Vida (2009).
Na pele de Renata Sorrah, a personagem Heleninha Roitman de 1988 trouxe diversas cenas memoráveis. Algumas até mesmo com um tom cômico, que viraram meme, como um momento em uma boate em que ela grita bêbada para o DJ: “Toca um mambo aí, poxa. Um mambo bem caliente, bem louco!”.
Desta vez, Paolla Oliveira dá vida à filha da grande vilã da história, Odete Roitman (Débora Bloch).
A narrativa da doença acontece em meio a sessões de terapia, momentos de recuperação e recaídas — pontos bastante comuns ao longo do processo de tratamento. Ademais, é dado destaque para fragilidades da saúde mental, que são apenas um dos diversos gatilhos que levam ao desenvolvimento do problema.
Estima-se que 400 milhões de pessoas, ou 7% da população mundial com 15 anos ou mais, vivam com transtornos relacionados ao uso de álcool. Desse total, 209 milhões sofrem com a dependência, de acordo com um estudo de 2019.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que qualquer nível de consumo de álcool oferece riscos, mas reforça os danos ainda mais nocivos da ingestão excessiva e contínua para o corpo.
Em apenas um ano, o abuso de bebidas alcoólicas levou à morte de 2,6 milhões de pessoas no mundo, de acordo com um relatório da OMS.
Por vezes, o tema é visto e tratado em tom de piada, principalmente devido às atitudes pitorescas ou engraçadas que pessoas bêbadas têm em consequência dos efeitos gerados pela substância no cérebro, incluindo a perda da inibição.
Contudo, não se trata de um mero pileque. O alcoolismo é considerado um transtorno e deve ser encarado com seriedade. Existem diversas opções de tratamento, que devem ser avaliadas caso a caso pelo médico.
As linhas de cuidado incluem psicoterapia, uso de medicamentos, participação em grupos de ajuda mútua e incentivo à prática de atividade física.
Nesse contexto, a parceria com a família é crucial para o sucesso do tratamento. Deve-se evitar qualquer postura de julgamento do dependente, compreendendo que trata-se de uma condição de saúde grave e não de falta de vontade ou de preguiça.
Outro ponto importante é remover as bebidas de casa, um gesto simples que pode fazer grande diferença, sobretudo em momentos de crise.
Para quem sofre com o uso abusivo do álcool, é recomendado ainda evitar ambientes com acesso fácil à bebida, como bares, festas e até mesmo comemorações familiares. Saiba mais sobre como parar de beber e os principais benefícios para a saúde.
+ Leia também: Por que misturar álcool e remédio é um veneno para sua saúde

2. Diabetes de Solange Duprat
Temática pouco abordada no audiovisual, o diabetes tipo 1 afeta cerca de 600 mil pessoas no Brasil, de acordo com a sociedade brasileira vinculada ao assunto.
O agravo é consequência da produção insuficiente ou pela baixa absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue e fornece energia para o corpo..
A forma crônica da doença é influenciada por questões genéticas e afeta entre 5% e 10% do total de diabéticos no Brasil, segundo estimativas do Ministério da Saúde.
O tratamento é realizado a partir do uso diário de insulina e outros remédios que ajudam a controlar a glicose no sangue.
Em Vale Tudo, a visibilidade para o tópico surgiu com a personagem Solange Duprat (Alice Wegmann), que fala abertamente sobre o diagnóstico e aparece em cena realizando a aplicação de insulina. Nesse caso, trata-se uma inovação no roteiro atual, uma vez que a questão não chegou a ser discutida na versão da década de 1980.
O descuido com o diabetes pode levar a problemas arteriais e vasculares, como a redução do fluxo de sangue que aumenta o risco de amputações, principalmente dos pés.
As complicações ainda incluem doença renal, pele sensível, alteração de humor, transtornos mentais, disfunções sexuais e problemas nos olhos, como glaucoma, catarata e danos à retina.

3. Renato e o mal do século: a síndrome de burnout
De dono de uma revista de moda na trama original, o personagem Renato (João Vicente de Castro) passou a ocupar o mesmo cargo na adaptação, desta vez, à frente da Tomorrow Lab, considerada no folhetim uma das maiores agências de marketing e conteúdo do país.
Nesse cenário, a rotina atribulada do mundo corporativo é reproduzida no mundo da ficção, incluindo seus ônus, como a síndrome de burnout. Caracterizado pelo esgotamento profissional, o distúrbio emocional é resultado de situações desgastantes, ambiente tóxico e excesso de trabalho.
Como espectadores, poderíamos esperar que essa narrativa se encaixaria na trajetória de Solange Duprat, chamada de workaholic mais de uma vez por outros personagens.
Porém, a autora direcionou o argumento ao chefe da empresa, de modo a reforçar a importância do cuidado da saúde mental entre os homens, que tende a ser mais negligenciado em comparação com as mulheres.
Chegar a um diagnóstico de burnout pode levar tempo, especialmente pela tendência em minimizar sintomas de desgaste da saúde da mente. Aproveite e confira os principais sinais da condição.
Em geral, o tratamento envolve psicoterapia, uso de antidepressivos ou ansiolíticos, e mudanças na relação com o próprio trabalho.

4. A vida sexual após os 60
Odete Roitman é de longe um dos nomes mais conhecidos da ficção televisiva brasileira. A megera lembrada há décadas pela interpretação de Beatriz Segall (1926-2018) ganha novos contornos nas mãos de Débora Bloch.
Há quase 40 anos, chamava atenção o caso da vilã com César (Carlos Alberto Riccelli), um homem mais jovem e golpista de primeira. Desta vez, a matriarca da família Roitman mostra nuances ainda mais provocativas, surgindo em cena com diferentes rapazes ao longo dos capítulos.
A autora da adaptação avalia que, na primeira versão, a vida sexual ativa da antagonista reforçava um tom de perversidade de Roitman. Em entrevistas à imprensa, Manuela Dias aponta que, com evoluções da sociedade, a sexualidade de uma mulher aos 60 anos deixou de ser vista com tamanho estigma.
De fato, as relações sexuais entre pessoas maduras têm se tornado cada vez menos um tabu, embora haja um bom caminho a percorrer. Falar abertamente sobre o assunto na própria família é uma questão de saúde pública.
Esse movimento ajuda, inclusive, na conscientização sobre a importância da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), em especial o HIV, que tem aumentado entre os mais longevos.
No contexto feminino, a manutenção do prazer sexual na longevidade torna-se ainda mais complexo. Com a menopausa e a chegada do climatério, o corpo da mulher atravessa uma série de mudanças que podem mexer com a libido. Entre os diversos sintomas incômodos estão as ondas de calor ou fogachos, alterações no humor, ganho de peso e cansaço.
Além disso, é comum o ressecamento vaginal devido à redução dos níveis de estrogênio nessa fase da vida. Para contornar o problema, podem ser utilizados hidratantes vaginais, lubrificantes à base de água durante as relações e realizar a terapia de reposição hormonal, quando indicada pelo médico.
+ Leia também: Prazer sem idade: não é preciso se aposentar do sexo

5. O infarto de Rubinho
Boêmio, sonhador e sempre com um cigarro na mão. Essa poderia ser a descrição de Rubinho, o pai da vilã Maria de Fátima. O papel compartilhado por Daniel Filho e Julio Andrade carrega uma das cenas mais dramáticas da trama.
No momento em que consegue a tão esperada chance de brilhar como pianista nos Estados Unidos, o ex-marido de Raquel (Regina Duarte/Tais Araújo) sofre um infarto dentro de um jato, antes mesmo da decolagem, morrendo pouco tempo depois.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Os fatores de risco incluem tabagismo, colesterol alto, hipertensão, obesidade, estresse, depressão e diabetes.
Um ataque cardíaco pode aparecer de maneira inesperada. Por isso, é importante observar sinais de alerta, como dor ou desconforto no peito e em partes do corpo como braços, ombro esquerdo, cotovelos, mandíbulas ou costas. Outras manifestações são dificuldade para respirar ou falta de ar, sensações de enjoo, vômito, desmaio ou tontura, suor frio e palidez.
Diante da suspeita, é importante buscar socorro ou encaminhar a vítima para um serviço de saúde de emergência.
Compartilhe essa matéria via:
Fonte.:Saúde Abril