São Paulo
Reparação histórica é um pouco do que a nova versão da novela “Vale Tudo” deseja fazer no horário das 21h da Globo. Na história original de 1988, apenas dois atores negros faziam parte do elenco: eram eles uma empregada doméstica vivida por Zeni Pereira, e Gildo, um ladrão interpretado por Fernando Almeida. A partir do dia 31 de março, a autora, Manuela Dias, quer mudar esse contexto e levar a reflexões.
Segundo ela, a dramaturgia em geral não deveria servir apenas para entreter, mas mudar a sociedade. “Em 1988, na primeira versão, até nosso olhar era deformado pelo racismo estrutural. Hoje conseguimos avançar. Para mim, a personagem Raquel sempre foi preta, só era branca pela nossa incapacidade social no momento de dar protagonismo a uma atriz preta”, diz ela em referência ao trabalho de Taís Araújo na nova história. Na primeira versão, o papel era de Regina Duarte.
A própria Taís afirma que quando lê os capítulos, tem a impressão de que a história de fato foi escrita para uma mulher preta. “Tem uma brasilidade grande do dia a dia. A Raquel que eu farei em 2025 é a representação das mulheres que constroem esse país na base da pirâmide e que eu conheço bem, apesar de saber dos meus muitos privilégios”, avalia.
Curiosamente, Taís já havia falado que preferia interpretar uma vilã em um próximo trabalho. Porém, quando recebeu o convite para viver o que ela chama de “maior heroína de todos os tempos”, mudou radicalmente de ideia.
“Quando li o primeiro capítulo, saquei que não poderia perder essa chance. Personagem genial, tem conflitos, escalada. Falei que fui burra e que queria fazer de qualquer jeito. Esqueçam a vilã”, diverte-se.
A atriz Belize Pombal interpretará Consuelo no remake e vibra pelo fato de não precisar viver um papel cujo tema principal seja alguma amargura por conta de preconceito ou questão social. Consuelo é uma mulher casada e mãe de dois filhos.
“Somos uma família pretinha e retinta numa novela das 21h da Globo. Acho ótimo quando existe a chance de trazer artistas negros contando histórias de pessoas em condições socioeconômicas legais e com carreiras bem resolvidas”, destaca.
O remake de “Vale Tudo” também tem como intuito mudar a concepção machista da primeira versão. Segundo Manuela Dias, 100% dos personagens de 1988 diziam que iriam bater em mulher mesmo em forma de brincadeira. “Esse tipo de fala, há 37 anos, era normalizada. Que bom que hoje estranhamos e vemos o que acontece.”
Fonte.:Folha de S.Paulo