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“Precisamos marcar para nos vermos!”
Esta parece ser uma frase quase universal entre amigos adultos. Um texto que provavelmente já enviamos e recebemos.
Naquele momento, temos a melhor das intenções e realmente queremos nos encontrar com nossos amigos. Mas, com o trabalho, a família e a interminável lista de afazeres, uma simples reunião pode se transformar em um pesadelo logístico.
Sim, precisamos nos encontrar. Mas raramente fazemos isso.
Isso explica por que as pesquisas indicam que perdemos cerca da metade dos nossos amigos a cada sete anos.
Seja porque passamos a morar com parceiros, nos casamos, nos concentramos na carreira ou formamos família, as amizades se tornam “o lugar mais fácil para danos colaterais” entre homens e mulheres, explica a escritora Dolly Alderton.
A questão passa a ser como manter a mesma proximidade com menos tempo juntos.
A especialista em relacionamentos Claire Cohen é a autora do livro BFF? The Truth about Female Friendship (“Melhores amigas para sempre? A verdade sobre a amizade feminina”, em tradução livre). Recentemente, ela teve um filho e está vivenciando diretamente esta situação.
Cohen se viu em um “limbo de identidade” entre seus velhos amigos e o novo grupo de mães que ela conheceu nos cursos para pais. Ela afirma que quer um grupo completo, não apenas de pessoas que conhecem a “nova eu”.
Para isso, ela se tornou mais transparente, vulnerável e criativa na forma de tratar suas amizades, durante essa desafiadora transição na vida.
Recentemente, Cohen descobriu que não havia sido convidada para um determinado evento social. Ela se manifestou gentilmente, explicando que ainda adoraria continuar a receber convites, embora estivesse ocupada com a maternidade.

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Sua honestidade induziu conversas.
Cohen conta que sua amiga foi “tranquilizadora”. Ela explicou que pensava estar “sendo gentil” por dar espaço, sem saber do dano que havia causado.
A amizade se fortaleceu, e elas reservaram tempo para se encontrar, ainda que por uma “conexão mundana”, cumprindo tarefas juntas. Mas sua experiência mostra como a comunicação honesta é fundamental.
A ciência destaca a importância das amizades. Acredita-se que um amplo círculo social tenha o mesmo impacto sobre a longevidade que a alimentação e o exercício, juntos.
A amizade combate o que Franco chama de “solidão relacional”, a perda de laços platônicos mais profundos, necessários para a conexão humana saudável.
“Mesmo se você estiver com uma pessoa e realmente gostar dela, você ainda pode se sentir sozinho se não tiver amigos”, explica a psicóloga.
Abra os braços para a desordem
Abrir espaço para as amizades à medida que a nossa vida muda exige de nós aceitar a alteração das circunstâncias e vivenciar o desconforto.
Isso significa receber nossos amigos em meio à nossa vida bagunçada, em vez de esperar por momentos perfeitos, afirma a psicóloga Julia Samuels.
Você vai para a ginástica, está cumprindo tarefas ou vai comprar comida com um novo bebê? Leve um amigo com você.
Para que as amizades existam, precisamos abrir espaço para elas, não importando se o ambiente será pequeno ou incomum.
“Se eles não puderem, eles não podem. Mas coloque na agenda”, orienta Samuels.
Fazer isso nos oferece o encontro pessoal, que, segundo os especialistas, deve ser a prioridade, ainda mais na nossa era de mensagens instantâneas.

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Cohen concorda, principalmente depois que se tornou mãe.
É claro que a troca de mensagens pelo WhatsApp nos ajuda a manter o contato e a dizer às pessoas que estamos pensando nelas. Mas ela acha que este é um substituto totalmente “insatisfatório” durante o início da maternidade.
E muitos de nós caímos nesta armadilha desde a pandemia, segundo Franco. Os lockdowns normalizaram a “solidão consciente”, ou seja, considerar o isolamento como um padrão aceitável, aliado à dependência excessiva da comunicação virtual.
Para evitar isso, segundo ela, precisamos nos lembrar de que a socialização é como um músculo: quanto mais praticamos, mais fácil ela fica.
Para as pessoas que precisam ser empurradas para sair pela porta, Franco aconselha a tentar reenquadrar o nosso pensamento, imaginando como seremos felizes no futuro, sem nos concentrarmos nos temores antes das reuniões.
“Quando o assunto é a conexão social, nós simplesmente subestimamos como ela nos fará felizes e quanto valor ela traz”, explica ela.
Melhores amigos para sempre?
Então, o que fazer para reacender um relacionamento?
Marisa Franco sugere uma mensagem de texto ou voz como um primeiro ramo de oliveira, talvez destacando uma lembrança específica para reviver a conexão.
Ela orienta que é importante relembrar o liking gap (algo como “lacuna de simpatia”, em português), a disparidade entre como nós pensamos que os outros nos percebem e a sua opinião real.
Precisamos pensar nas nossas amizades como “flexíveis e não frágeis” — e confiar que os sentimentos não se reduzem em tempos difíceis ou atribulados.
Em relação aos encontros em si, Claire Cohen afirma que a “diversão organizada”, como clubes de livros ou aulas de cerâmica, podem aliviar a tensão e transformar a ocasião em um evento comunitário.
Por fim, precisamos acreditar que podemos realmente contar com nossos amigos. Ou, nas palavras de Julia Samuels:
“Confie que as pessoas gostam mais de você do que você pensa e assuma o risco.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


