
Crédito, Aviant
- Author, MaryLou Costa
- Role, Repórter de tecnologia, BBC News
O delivery de alimentos é um luxo que deixou os moradores das cidades acostumados. Mas estão surgindo mais opções para pessoas que moram fora da zona urbana.
Com cerca de 700 mil ilhas, a Suécia, a Noruega e a Finlândia abrigam a maior quantidade de ilhas do mundo. Seu litoral é pontilhado de arquipélagos, que formaram sua história e cultura.
Diversas dessas ilhas são acessíveis por balsas e pontes para os moradores das cidades da região. Mas existe algo que os moradores locais, muitas vezes, não têm: delivery de comida quente na porta de casa, um serviço que seus primos da cidade provavelmente usam com frequência.
Mas a start-up norueguesa Aviant quer mudar esta situação, com o primeiro serviço de delivery de comida por drones da região, começando pela ilha de Värmdö, na Suécia.
Värmdö fica a apenas 13 km em linha reta da capital sueca, Estocolmo. A ilha tem acesso de carro, ônibus e balsa.
Mas sua população de cerca de 46 mil habitantes (que chega a 100 mil, no verão) tem poucas opções de delivery de comida.
Em uma chamada de vídeo, o CEO (diretor-executivo) e um dos fundadores da Aviant, Lars Erik Fagernæs, mostra um mapa das ilhas mais próximas a Estocolmo.
“Todos os quadrados azuis e brancos são onde [os serviços de delivery] Foodora e Wolt mantêm atendimento e todos os quadrados pretos são onde eles não estão”, explica Fagernæs. Ele mora na cidade norueguesa de Trondheim, a 500 km da capital, Oslo.
“Você pode ver no mapa que existem 87 mil pessoas sem acesso a um serviço de delivery. Essas pessoas moram no que você chamaria de subúrbios e gostariam de pedir comida para entrega, mas simplesmente não têm opções.”
Mas, desde fevereiro, os moradores de Gustavsberg — a maior cidade de Värmdö — e regiões vizinhas podem pedir hambúrgueres quentes da cadeia escandinava Bastard Burgers diretamente para sua casa por drone, usando a tecnologia da Aviant.
O custo da entrega é comparável aos serviços de carro ou moto, pois os drones eliminam o custo do motorista.
No momento, a Aviant está em “fase beta”. Ela entrega apenas 10 itens por semana, para verificar se tudo funciona.
Mas o plano é aumentar a escala com o passar do ano.
‘Óvni entregando a comida’
A Aviant deve lançar um serviço similar na península de Nesodden, na Noruega. Ela fica a apenas 6,5 km de distância em linha reta de Oslo, mas a viagem rodoviária é de 47 km. Fagernæs mostra novamente a localização no mapa.
“Toda a parte branca é o local onde, atualmente, não há um serviço de delivery de comida”, explica ele. “Por isso, cerca de 100 mil pessoas, agora, terão acesso ao delivery, o que não tinham antes.”
Fagernæs reconhece que este não foi um processo fácil de se aperfeiçoar. Foram necessárias diversas tentativas para garantir que a comida permanecesse quente e fresca durante o tempo máximo de voo de até 10 minutos, em um raio de até 10 km.
“Testamos isso por três anos”, relembra ele. “No começo, muitas batatas ficavam encharcadas.”
“Mas melhoramos o recipiente isolado onde vai o hambúrguer. Agora, sabemos que ele chega quente, mesmo no inverno.”
“As pessoas ficam malucas com isso”, conta Fagernæs. “Eles chamam seus vizinhos e a vovó. Eles acham que é um óvni entregando a comida.”

Crédito, Aviant
Fagernæs espera que os dois serviços piloto forneçam a “receita”, como ele chama, para iniciar um desdobramento em plena escala por toda a Escandinávia, contemplando comunidades como as de Värmdö e Nessoden, selecionadas pela sua geografia. Ele aponta para o mapa outra vez.
“Não temos cidades enormes, mas estas áreas são viáveis para o delivery por drones”, explica ele. “Elas ficam nos limites entre o urbano e o rural, onde é muito difícil atender de carro. E representam boa parte da população da Escandinávia.”
A Aviant identificou cerca de 40 bases de expansão em toda a Escandinávia para os próximos dois anos. E observa geografia similar no Canadá, com mais de 52 mil ilhas, e na região nordeste dos Estados Unidos, caracterizada por lagos, ilhas e montanhas.
Em relação ao clima, Fagernæs admite que os fortes ventos, ocasionalmente, derrubam os drones, mas espera que o serviço fique operante por 90% do tempo.

Crédito, Getty Images
Em relação aos drones para fornecer comida para regiões realmente remotas, a Aviant é uma dentre várias empresas de drones que verificaram a tendência, mas concluíram que os números não compensavam.
Em 2022, a Aviant começou a fornecer comida tailandesa, italiana e sushi para moradores fora de Trondheim. Mas encerrou o serviço em agosto de 2023.
Paralelamente, em 2022, a empresa britânica Skyports forneceu merenda escolar para crianças nas ilhas Orkney, na Escócia. A ação era financiada pelo conselho local de Argyll e Bute e, temporariamente, forneceu um serviço de delivery de “peixe com batatas fritas às sextas-feiras” para a comunidade estendida.
Da mesma forma, a empresa alemã Wingcopter forneceu produtos de uso diário para moradores rurais, em 2023, como parte de uma parceria com o governo local.
E, na província de Zhejiang, no leste da China, um município está financiando o delivery de refeições quentes por drones para moradores idosos, isolados nas montanhas.
Mas a continuidade destes serviços sem um parceiro privado ou governamental não é comercialmente viável.
As distâncias fazem com que o custo da entrega seja proibitivo para a pessoa que faz o pedido, ou para a loja fornecedora do alimento. E, por serem áreas rurais, a quantidade de moradores não gera pedidos suficientes para iniciar o serviço.

Crédito, Skyports/Royal Mail
Mas a Skyports opera um serviço de delivery por drones em parceria com o correio britânico nas ilhas Orkney, desde 2023. Atualmente, ela busca saber como os drones usados no serviço podem ser redirecionados para retomar o serviço de delivery de refeições — desta vez, para todos os moradores.
“Ainda não abrimos para outras pessoas, além dos usuários do correio, pois, atualmente, este é um serviço exclusivo do correio britânico”, explica o diretor da Skyports, Alex Brown.
“Mas, certamente, podemos observar, quando os drones não estiverem em uso, como poderíamos transportar carga das lojas do continente para as ilhas.”
“Precisaríamos observar qual seria o adicional de preço, pois será importante reduzir os custos”, prossegue Brown. “Hoje, estamos concentrados apenas no bom desempenho do serviço, antes de considerar esta expansão.”
“Certamente poderíamos fazer algo deste tipo funcionar. Quanto mais você utilizar o drone, melhor.”
“Existem modelos em que você tem um cliente âncora, que cobre o custo principal, e, depois, você pode aproveitar cada vez mais novas oportunidades comerciais para trazer mais receita e, então, um novo serviço para que as pessoas possam fazer uso.”
A segurança dos drones
Além de fechar as contas, no Reino Unido, os operadores comerciais de drones precisam trabalhar em conjunto com a Autoridade de Aviação Civil, para designar um espaço aéreo exclusivo onde possam operar, evitando colisões com outras aeronaves e minimizando o risco de acidentes com as pessoas em terra.
A prioridade é a segurança, mas isso dificulta muito a entrada no mercado britânico de drones, em comparação com o continente europeu, a Ásia ou a Austrália, indica Brown.
Ele explica que os operadores rurais podem defender que estão operando em espaço aéreo atípico, ou onde provavelmente não haverá outras aeronaves voando ou muitas pessoas em terra. Eles podem também demonstrar que estão usando tecnologia de navegação e detecção de riscos de alta tecnologia.
Brown afirma que o governo britânico está cada vez mais aberto para estas opções e incentiva os empresários do setor.
“Está ficando mais fácil e, dando crédito ao governo britânico, eles estão fazendo bons progressos”, conclui ele.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL