12:07 PM
15 de agosto de 2025

vídeo de Felca gera comoção social e política

vídeo de Felca gera comoção social e política

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Um vídeo impactante de 50 minutos sobre o fenômeno da “adultização” de menores nas redes sociais, publicado na quarta-feira passada (6) pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, já tem quase 30 milhões de visualizações no YouTube em apenas cinco dias. A repercussão já chegou ao Congresso Nacional.

Felca expõe casos graves de exploração e sexualização de menores em redes sociais. Com farta documentação audiovisual, ele explica como pais e produtores de conteúdo estão expondo crianças em situações inadequadas para sua idade em busca de engajamento e monetização em plataformas como Instagram e Kwai.

O youtuber denuncia o papel ativo dos algoritmos das redes sociais na difusão desse material, por permitirem a formação de um ambiente que facilita a atuação de predadores sexuais.

A repercussão da denúncia fez com que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se comprometesse a pautar, nesta semana, projetos sobre o assunto. “Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade”, disse Motta.

O que mostra o vídeo de Felca sobre a “adultização”

O vídeo, cujo título é “adultização”, revela uma série de casos concretos que ilustram como crianças e adolescentes aparecem nas redes emulando comportamentos de adultos, muitas vezes por incentivo direto dos pais ou de influenciadores adultos. A sexualização precoce é a face mais perversa dessa tendência.

Felca mostra o caso do influenciador Hytalo Santos, que promovia uma espécie de reality show para as redes sociais recrutando crianças e adolescentes. Em alguns casos, os menores se envolviam em relacionamentos, e o programa explorava dinâmicas com conotação sexual. Gradualmente, o público das postagens deixou de se restringir a adolescentes e crianças e passou a contar também com homens adultos.

Um dos casos dentro das dinâmicas criadas por Hytalo envolve a figura de uma adolescente que, segundo Felca, começou a ser explorada pelo influenciador aos 12 anos de idade. Ao longo dos anos, ficou cada vez mais comum a jovem aparecer em contextos de sexualização, ser exposta com roupas provocativas e ter seus relacionamentos com rapazes explorados em busca de engajamento. Ela chegou a ser levada para dançar em eventos com plateia adulta e, mais recentemente, fez um procedimento de implante de silicone, que foi exposto ao público em vídeos e redes sociais.

Felca também mostra a história de uma menina que teve sua imagem explorada pela própria mãe. Segundo o influenciador, as postagens começaram com vídeos considerados inocentes em busca de engajamento e monetização.

“E aos poucos ela foi recebendo comentários de homens adultos que queriam que mais fosse mostrado. O que uma mãe poderia fazer? Ela poderia denunciar, remover o comentário, bloquear para resguardar a criança. O que essa mãe fez? Ela atendeu. Conforme [a menina] foi crescendo, ela foi produzindo conteúdos cada vez mais sugestivos”, relata o influenciador.

Segundo ele, as imagens eram vendidas para grupos pagos que exibiam conteúdo explícito da menina. Parte desse conteúdo, conforme Felca, alimenta redes de troca de pornografia infantil.

A denúncia também mostrou como o algoritmo das redes sociais facilita o acesso a esse tipo de conteúdo. Felca criou uma conta nova do zero, deu alguns likes em vídeos de crianças em poses consideradas sugestivas, e em poucos minutos o feed estava tomado por material do mesmo tipo.

O youtuber mostrou ainda mensagens de pedófilos usando códigos como “trade” (“troca” em inglês) e links para grupos com conteúdo ilegal. Os materiais teriam sido comercializados por meio de perfis públicos em plataformas amplamente acessíveis. Felca acusa as plataformas de saberem do problema e fazerem vista grossa, já que o engajamento gera lucro.

Comportamentos de adultos são emulados por crianças

Além das situações de sexualização, Felca também aborda casos como o do canal “Bel para Meninas”, que gerou forte mobilização em 2019 e chegou a ser investigado por suspeita de trabalho infantil e exploração emocional da criança protagonista. Na ocasião, houve tentativa de retirada da guarda da mãe. A adolescente Bel, já mais velha, relatou em vídeos posteriores o trauma vivido.

Felca fala também sobre casos de “adultização” de menores em contextos de mercado de trabalho, como o de crianças promovidas como “empreendedoras mirins” ou influencers de marketing digital. Ele cita meninos e meninas que fazem discursos sobre produtividade, metas financeiras e vendas de infoprodutos. Em um trecho, um garoto conta como ganhou R$ 6 mil em um dia enquanto estava na igreja. Em outro, adolescentes dizem que estudar não vale a pena e que preferem aprender tráfego pago.

O vídeo também traz uma análise da psicóloga Ana Beatriz Chamat, especialista em infância, que afirma que o excesso de exposição à internet pode comprometer a formação da personalidade da criança, tornando-a um adulto inseguro, com baixa autoestima e problemas graves de relacionamento. A psicóloga alerta que a exposição a abusos, sobretudo vindos de figuras de confiança como os próprios pais, compromete a estrutura emocional da criança, podendo gerar traumas que perduram por toda a vida adulta.

Repercussão do vídeo “adultização” une direita e esquerda

O vídeo de Felca provocou uma rara convergência entre vozes da direita e da esquerda.

“Felca mexeu no vespeiro. Na época da ilha do Marajó fiz um vídeo, arrecadamos muito pra ajudar e a mídia ficou literalmente calada sobre. Que Deus abençoe ele nessa jornada. Não será fácil”, afirmou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).

“ATENÇÃO! O vídeo do Felca precisa ser assistido por todos. É a denúncia de uma nojeira infinita. Vocês precisam saber para PROTEGEREM AS CRIANÇAS! Hytalo Santos está sendo investigado. E espero, do fundo da alma, que pague por tudo. Mas não só ele”, disse o influenciador Felipe Neto.

No Congresso, além da promessa de Hugo Motta de pautar o tema, outras iniciativas surgiram. O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) protocolou requerimento para a realização de audiência pública na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.

“Estamos diante de acusações gravíssimas, que revelam um cenário de abuso, exploração e conivência inaceitáveis. É urgente que autoridades expliquem o que estão fazendo para identificar e punir quem se vale da internet para praticar crimes contra crianças e adolescentes, bem como que empresas de tecnologia esclareçam a política interna para a mitigação desses riscos às nossas crianças e aos nossos adolescentes. O Brasil não pode tolerar a impunidade nesses casos”, disse van Hattem.

Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República, elogiou a decisão de Hugo Motta de pautar projetos de lei relacionados ao tema e aproveitou para defender a regulação das redes imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “A denúncia do Felca, com enorme repercussão, ressalta também o acerto do STF ao responsabilizar as plataformas que permitem a ação desses criminosos, sem necessidade de prévia notificação judicial”, disse.

As críticas ao Supremo, contudo, nunca foram sobre a regulação contra crimes óbvios, como abuso infantil, mas justamente sobre usar esses casos extremos como pretexto para promover a censura em temas vagos, como “conduta antidemocrática” – e fazer isso legislando no lugar do Congresso.

“Felca faz um documentário primoroso, revelando como agem os criminosos. E o que a esquerda propõe? Ir atrás deles? Não. Regulamentar as redes sociais”, criticou via X o professor de filosofia Francisco Razzo, colunista da Gazeta do Povo.

O termo “adultização” e o nome de Felca passaram a figurar entre os assuntos mais comentados das redes sociais e explodiram em buscas do Google, de acordo com a ferramenta Google Trends. Personalidades de diversas áreas repercutiram a denúncia.

O Ministério Público da Paraíba disse que já havia instaurado, em 2024, duas frentes de investigação contra o influenciador Hytalo Santos, com base em denúncias recebidas.

Nas plataformas digitais, também já houve impacto direto: o perfil de Hytalo Santos no Instagram, que tinha mais de 17 milhões de seguidores, foi desativado em poucos dias após a repercussão das denúncias. Perfis de menores envolvidos nos casos mencionados no vídeo também já caíram.



Fonte. Gazeta do Povo

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