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20 de dezembro de 2025

Vilanismo reflete sobre como proteger pessoas negros – 20/12/2025 – Ilustrada

Vilanismo reflete sobre como proteger pessoas negros – 20/12/2025 – Ilustrada

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O tecido que cobre a fachada da galeria Zielinsky, na capital paulista, se move de um lado para outro com o vento. Mais do que uma tela de proteção, a peça é uma das principais obras da mostra “Guarda-Corpo”, projeto que reúne 21 trabalhos do coletivo Vilanismo, como vídeos, pinturas, fotografias e esculturas.

“O título da exposição significa algo que é essencial para a gente, que é o direito do homem negro à vida e à terra”, diz Renan Teles, um dos dez integrantes do grupo.

O artista diz que o guarda-corpo, dispositivo de segurança da construção civil, é usado na mostra como metáfora para a necessidade de proteger corpos negros. “É uma analogia para a ideia de pensar em como a gente se une para criar mecanismos de proteção da nossa vida.”

A ideia de proteção, aliás, permeia a mostra. Isso se faz sentir, por exemplo, no trabalho “Sàngó sobre Pérgamo”, em que Teles pintou adinkras —símbolos de proteção do povo akan, de Gana— e um machado de Xangô, o orixá da justiça.

“É um trabalho que questiona para quem a gente quer justiça e de que maneira ela acontece”, diz Teles. “Além disso, o machado simboliza a necessidade de construir uma sociedade mais justa.”

A busca por um país mais igualitário, inclusive, está na gênese do coletivo. Fundado no final de 2021, o Vilanismo questiona a marginalização de corpos negros tanto na arte quanto na sociedade. “O nome do grupo vem da palavra vilão, ou seja, o homem que habita a vila”, diz Teles. “A população negra foi sempre jogada para as margens. Nós nunca fomos o centro.”

Mais do que um coletivo, eles se identificam como uma irmandade, lembrando as associações formadas por pessoas negras para resistir à brutalidade do regime escravocrata.

Além de exposições, os membros do Vilanismo realizam festas, cuidam dos filhos uns dos outros e até têm uma conta bancária conjunta para emprestar dinheiro caso alguém precise. Essa parceria tem rendido bons frutos.

Prova disso é a participação deles na Bienal de São Paulo, a exposição de arte mais importante do Brasil. Na mostra, eles apresentam “Os Meninos Não Sei que Juras Fraternas Fizeram”, instalação formada por diferentes trabalhos de artistas do grupo.

“Essa irmandade vai para além da questão artística. É algo que tem a ver com fortalecimento coletivo e com o desejo de nos aproximarmos uns dos outros”, diz Rodrigo Zaim, outro integrante.

Na exposição, ele apresenta uma obra da série “Capelinha Seu Santo É Exu”, espécie de santuário construído dentro de um bloco de tijolo. No interior do material, há uma vela vermelha; na parte de cima, é possível ver notas de dinheiro; nas laterais, vemos uma imagem de Exu, o orixá mensageiro que conecta os deuses aos humanos.

“Falo nesse trabalho sobre três elementos fundamentais para mim, que são a fé, a rua e a raiva”, diz Zaim. “Não que eu seja uma pessoa raivosa, mas, enquanto homem preto, a gente sente raiva de muitas coisas. Entendi que, se bem direcionada, esse sentimento pode dar origem a coisas muito potentes.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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