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17 de agosto de 2025

Vinho austríaco vira meme antes de chegar ao Brasil – 31/07/2025 – Isabelle Moreira Lima

Vinho austríaco vira meme antes de chegar ao Brasil – 31/07/2025 – Isabelle Moreira Lima

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Além de “expressão superior de arte”, como bem apontou Fernanda Torres, o meme fala muito do nosso tempo e é uma ótima bússola de tendências. Foi um deles que me levou aos vinhos da vinícola austríaca Meinklang, cujo rótulo Prosa é o alvo mais recorrente dessa tal forma artística.

O vinho é delicioso: um pét-nat rosado. Isto é, um borbulhante natural feito com método ancestral (a segunda fermentação ocorre naturalmente na garrafa, que é fechada com tampa de metal, daquelas de cerveja), com as uvas pinot noir, zweigelt e blaufränkisch. Os aromas e sabores lembram morango bem fresco e geleia de framboesa, mas também levedura, panificação, levain. Também impressiona no visual, com uma cor rosada bem viva.

Então, se é tão bom assim, por que é motivo de piada? — você deve se perguntar. Meu palpite é porque virou febre lá fora a tal ponto que, para alguns, ficou insuportável: aquele tipo de figurinha desgastada que está em todas as mesas, todas as cartas, todos os lugares.

Por aqui, o Meinklang Prosa ainda circula discreto. Ele é trazido pela importadora Uva Vinhos, assim como outros três vinhos da vinícola, todos igualmente interessantes: o branco feito com grüner veltliner, a uva mais famosa do país, que tem uma nota de pera bem marcada, alto frescor e muita pureza; o Meinklang Burgenland Weiss, que mistura a grüner (50%) com welschriesling (ou riesling itálico, 40%) e muscat (10%), num conjunto mais aromático e muito harmonioso; e o laranja Weisser Mulatschak, uma bênção para harmonizar com qualquer coisa, mas de perfil mais funky. Nenhum deles tem mais que 11% de álcool.

A Meinklang está localizada na região de Burgenland, já próxima à fronteira com a Hungria. É uma fazenda mista, onde há gado, produção de cereais antigos e autóctones e os vinhedos. Ali, a prática é a biodinâmica e os vinhos são feitos também no sistema de baixa intervenção e escala humana. Ou seja, é um pacote perfeito para quem compra o vinho também pela sua história. Quem ficar curioso e for pesquisar o site vai babar ao ver imagens idílicas com campos verdes e muito sol, fator que junto ao vento forte afeta bastante o perfil dos vinhos, feitos com uvas que conseguem chegar a uma maturação perfeita (graças ao sol) sem perder a acidez (graças ao vento).

Como já deu para perceber, os vinhos da Áustria têm muito mais potencial que memes. Por muitos anos, a produção do país era de brancos leves, feitos com uvas como a müller thurgau, porque o país era gélido. Hoje, ainda brilham a gruner veltliner e a riesling, mas as coisas (e as temperaturas) mudaram e já vemos tintos expressivos. A produtora Dorli Muhr, por exemplo, que no Brasil é conhecida pelos vinhos que fez com o então companheiro Dirk Niepoort, hoje foca sua produção em apenas variedades tintas. “Parei com os brancos em 2019 e me concentro completamente na blaufränkisch, que, na minha opinião, é a uva tinta mais interessante não apenas na Áustria, mas em toda a Europa Central”, afirma.

Ela explica que, mesmo quando o clima fica mais quente, as noites em clima continental são bastante frias. “Isso torna nossos vinhos refrescantes e muito aromáticos”, diz ela. O mercado mundial parece concordar: nos últimos 30 anos, o país passou de uma região praticamente desconhecida para uma das mais celebradas por sommeliers e crítica especializada.

A explicação pode ser geracional: os vinhos, leves, cheios de acidez, são tidos como perfeitos para pratos com vegetais e peixes, ideal para os jovens que pensam cada vez menos em comer carne vermelha.

Vai uma taça?

Para quem ficou curioso sobre os tintos austríacos, o Zantho Zweigelt (R$ 98 na Toque de Vinho), feito com zweigelt, é leve e fresco. Há também a versão rosada, pelo mesmo valor. Quem nunca provou a grüner veltliner pode experimentar o Zero-G (R$ 149 na SuperAdega), que é bem típico. Agora, uma das grandes descobertas do ano foi o Heiderer Mayer Gruner Veltliner Selektion Wagram DAC (R$ 129 no Viva Vinho), que traz muita pera e é fresco e redondo. Para quem gosta de vinhos evoluídos, vale guardar: provei uma garrafa 2017 e estava interessante, com notas de amêndoas e mel (e fechado com rosca!). A quem se animar, a dica de serviço popular na Áustria é misturar os vinhos à água com gás para compor o chamado Weisser Spritzer.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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