Nem só de silêncio contemplativo vivem os amantes do vinho. Para além dos aromas de frutas e da elegância dos taninos, há líquidos que parecem nascer em meio a riffs de guitarra, vocais rasgados e bateria pulsante. Será que é possível chamá-los de vinhos com pegada rock’n’roll?
Rótulos que esbanjam atitude, intensidade e rebeldia. Mas o que faria um vinho ser “rock’n’roll”? Não é só colocar uma caveira ou uma guitarra na etiqueta. É sobre personalidade, sobre vinhos que não pedem licença e chegam marcando território.
Pode ser um tinto encorpado que soa como um solo de Jimmy Page, um espumante anárquico como uma faixa dos Ramones ou até um branco insinuante, digno de uma canção da Rita Lee. O espírito do gênero musical está na ousadia da vinificação, na ruptura com padrões, no caráter autoral. Algumas castas parecem nascer para isso.
A primitivo, também conhecida como zinfandel, é puro rock: intensa, alcoólica, cheia de fruta escura, pimenta e drama. Não é à toa que a banda Kiss lançou um zinfandel com sua marca. Outras castas que entram bem nessa playlist sensorial: syrah (potente como um riff do Black Sabbath), nebbiolo (complexo como um álbum do Pink Floyd) e garnacha (quente e vibrante como o Queen ao vivo em Wembley).
Aliás, não faltam bandas e artistas que levaram essa paixão às garrafas e lançaram seus próprios vinhos ou licenciaram suas marcas. Exemplos incluem o Rolling Stones Forty Licks Merlot, o AC/DC Highway to Hell Cabernet Sauvignon, o Iron Maiden Eddie’s Evil Brew e até o The Dark Side of the Moon Cabernet Sauvignon, licenciado em homenagem ao Pink Floyd.
Há também músicos que foram além do marketing: Sting cultiva vinhedos biodinâmicos na Toscana e assina vinhos; Jon Bon Jovi criou o rosé Hampton Water. São opções com identidade, feitos por quem vive e respira música — e agora também fermentação.
Bandas clássicas inspiram vinhos clássicos: os Stones e seus riffs sujos podem ecoar em um tinto espanhol selvagem; Led Zeppelin pede um bordeaux com peso e estrutura; The Who seria um chianti explosivo; David Bowie merece algo andrógino, mutante — talvez um vinho laranja; e o Velvet Underground… algo minimalista, cerebral, talvez um pinot noir cru e honesto.
A harmonização também entra na dança. Esqueça jantares de gala: esses vinhos pedem hambúrguer, pizza, churrasco — ou mesmo uma noite solitária com um vinil. São vinhos que combinam mais com um bar em Berlim do que com um salão francês.
Não é sobre o que você deve beber, mas o que te move. Porque, no fim, o vinho rock’n’roll é isto: atitude. É para quem escolhe seus rótulos como escolhe sua trilha sonora — pelo impacto, pela emoção, pela memória que deixará. Em vez de buscar a perfeição, esses vinhos querem causar, provocar, vibrar.

Apothic Dark Red Blend 2020. Tinto californiano elaborado com um blend incomum e expressivo no qual predominam petite sirah e teroldego. Estagia parcialmente em carvalho. Cor rubi muito escura. no nariz, mostra frutas negras bem maduras, especiarias, chocolate e toques defumados. Em boca, é encorpado, de textura macia, taninos polidos e final levemente adocicado. R$ 109,90, na Wine.
San Marzano Sessantanni Primitivo Di Manduria 2018. Da vinícola san Marzano, da Puglia, 100% primitivo, com doze meses em barrica de carvalho. Cor muito escura, violácea. Aroma de madeira nova, especiarias, frutas negras bem maduras, amora, baunilha, cravo. Paladar encorpado, acidez média-baixa, 14% de álcool, bom volume de taninos doces, aveludados. R$ 459,90, na Grand Cru.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957.
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Fonte.: Veja SP Abril