Estados Unidos e Israel discutiram a possibilidade de Washington liderar uma administração temporária após o fim da guerra na Faixa de Gaza, segundo cinco pessoas familiarizadas com o assunto.
As consultas se centraram na criação de um governo de transição, liderado por um funcionário americano. Ele supervisionaria Gaza até que a região fosse desmilitarizada e estabilizada — e até que surgisse uma administração palestina viável, disseram as fontes.
Segundo as discussões, ainda em estágio preliminar, não haveria um prazo definido para a duração da administração liderada pelos EUA — o tempo dependeria da situação no território, disseram as cinco fontes.
As fontes, que falaram sob condição de anonimato, compararam a proposta à Autoridade Provisória da Coalizão no Iraque que Washington estabeleceu em 2003, logo após a invasão liderada pelos EUA que derrubou Saddam Hussein.
A autoridade foi percebida por muitos iraquianos como uma força de ocupação e transferiu o poder para um governo interino iraquiano em 2004 após não conseguir conter uma insurgência crescente.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
Outros países seriam convidados a participar da autoridade liderada pelos EUA em Gaza, disseram os informantes, sem identificar quais. Eles afirmaram que a administração contaria com tecnocratas palestinos, mas excluiria a Autoridade Palestina, que detém autoridade limitada na Cisjordânia ocupada, e o Hamas.
O grupo terrorista, que governa Gaza desde 2007, desencadeou a guerra atual quando seus militantes invadiram comunidades do sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e capturando outras 251.
Segundo os informantes, não há clareza sobre a possibilidade de um acordo. As discussões seguem em estágio inicial, sem definição de nomes para cargos-chave.
Questionado pela Reuters, o Departamento de Estado dos EUA não confirmou negociações com Israel sobre uma autoridade provisória em Gaza. Disse apenas que busca a paz, a libertação dos reféns e segue firme no apoio a Israel. O gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu não comentou.
Em abril, o chanceler israelense Gideon Saar defendeu que no pós-guerra Gaza seja administrada por um conselho internacional com países árabes moderados e supervisão sobre a participação palestina. Ele afirmou que o único interesse de Israel é a segurança. O governo não deu mais declarações.
Ismail Al-Thawabta, diretor do escritório de mídia do governo de Gaza, regido pelo Hamas, rejeitou a ideia de uma administração liderada pelos EUA ou qualquer governo estrangeiro, dizendo que o povo palestino de Gaza deveria escolher seus próprios governantes. A Autoridade Palestina não respondeu.
A criação de uma autoridade provisória liderada pelos EUA em Gaza aprofundaria o envolvimento de Washington no conflito israelense-palestino e representaria sua maior intervenção no Oriente Médio desde a invasão do Iraque.
Segundo duas fontes, a medida envolveria riscos significativos de reação negativa por parte de aliados e adversários na região, caso os EUA fossem vistos como força ocupante em Gaza.
Os Emirados Árabes Unidos propuseram aos EUA e a Israel uma coalizão internacional para administrar Gaza após a guerra, com a condição de incluir a Autoridade Palestina e um plano viável para a criação de um Estado palestino. Abu Dhabi não comentou.
Israel, sob liderança de Netanyahu, rejeita qualquer papel da Autoridade Palestina em Gaza e se opõe à soberania palestina. O premiê anunciou a ampliação dos ataques e novos deslocamentos, enquanto aliados defendem a “migração voluntária” de palestinos e a retomada de assentamentos. A ofensiva já deixou mais de 52 mil mortos.
Nos bastidores, autoridades israelenses também discutem cenários para o pós-guerra em Gaza que não envolvem um êxodo em massa. Entre as ideias avaliadas estão restringir a reconstrução a zonas de segurança, dividir o território e instalar bases militares permanentes, segundo fontes diplomáticas e ex-funcionários israelenses.
Fonte.:Folha de S.Paulo