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7 de junho de 2025

Sua próxima uva favorita ainda é um mistério; são 12.250 opções – 23/05/2025 – Isabelle Moreira Lima

Sua próxima uva favorita ainda é um mistério; são 12.250 opções – 23/05/2025 – Isabelle Moreira Lima

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Estamos vivendo uma mesmice generalizada. A cada semana surge uma nova tendência na moda e, ainda assim, nos vestimos iguais uns aos outros, seja aqui, seja em Kuala Lumpur. Lemos os mesmos livros, ouvimos as mesmas músicas, decoramos a casa do mesmo jeito (estilo escandinavo, plantas mil, alô “As Perfeições“!).

Na cozinha, a globalização dos ingredientes, o intercâmbio de chefs, a chamada “gentrificação da comida” e as redes sociais nos levam a crudos e chili oils que não acabam mais. E essa mesmice vale também para o vinho.

Pense nas últimas garrafas que você abriu. Quais uvas estavam ali? Segundo estimativas da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), das mais de 20 mil variedades identificadas e das 12.250 catalogadas, apenas dez dominam as plantações e chegam às taças com frequência. É muito provável que sua resposta à pergunta acima tenha incluído cabernet sauvignon, merlot, tempranillo, chardonnay, syrah, sauvignon blanc e pinot noir, uvas que ficaram mais conhecidas porque fizeram grandes vinhos em seus lugares de origem e, com boa capacidade de adaptação, foram levadas a outros cantos do planeta.

Mas não precisamos ficar só nelas. A quem topar o desafio, aposto que poderia passar uma década inteira sem repetir uva. Agora, como escolhê-las?

Um caminho é provar as uvas nativas de cada lugar. Itália e Portugal são dois ótimos exemplos de países que souberam valorizar seu material genético.

Para quem gosta de cabernet, a aglianico pode fazer a festa, com alta acidez e taninos presentes. É uma uva da região da Campânia que envelhece bem e é conhecida também como “barolo do sul”.

Já os fãs de chardonnay devem curtir a encruzado, da região do Dão, em Portugal, que mostra complexidade, mineralidade e untuosidade. Da Espanha, nada me dá mais prazer, ultimamente, que a godello, rica, complexa e salgadinha.

Mas mesmo os países que ficaram conhecidos por uma uva principal têm muito a apresentar. A Argentina tem feito um grande esforço para mostrar do que é capaz de fazer além da malbec, com vinhos produzidos com suas criollas e outras castas esquecidas, como a bequignol e a cereza.

O Chile, que ficou famoso pela cabernet, mostra uma diversidade linda, de norte a sul, com opções tintas como a carignan, para quem é da turma dos intensos, e cinsault, para quem gosta de beber fácil. E há ainda um certo resgate histórico que, além da país, nos trouxe de volta a san francisco, que desembarcou no continente com os exploradores espanhóis.

O Brasil, curiosamente, nunca foi um país de uma uva só, apesar de certa predominância da merlot nos nossos vinhos ícones. Mas entre as tintas temos também ancelota, marselan, teroldego. E, se por aqui brilhamos nos espumantes, vemos possibilidade de variação de castas também neles, da riesling à moscatel.

Quando você começar a pesquisar esse rico e maravilhoso universo da ampelografia (nome que se dá ao estudo, descrição e identificação da vinha), o risco é cultivar grande ansiedade de não conseguir provar tudo o que interessa numa vida só. Ou mais: encontrar uma nova favorita e querer tomar só ela até o fim dos tempos.

Vai uma taça? Adorei o Vinosìa Neromora Aglianico DOC (R$ 129 na World Wine), que é a cara do inverno, complexo, com notas de fruta preta, cravo-da-índia e tabaco. Para quem quer tintos mais levinhos, o Cara Sucia Cereza (R$ 109 na Curavino) e o Aqui Estamos Todos Locos Bequignol (R$ 144 na Vino Mundi) são duas ótimas opções argentinas. O Ponto Nero Live Celebration Moscatel Rosé (R$ 36 na Super Adega) é feito com 15% moscato de Hamburgo e 85% moscato branco e é perfeito para uma sobremesa com frutas tropicais.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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