11:34 AM
23 de junho de 2025

Ainda raras, missas ganham espaço em universidades públicas

Ainda raras, missas ganham espaço em universidades públicas

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Universidades públicas, tanto federais quanto estaduais, que disponibilizam suas estruturas para cerimônias religiosas ainda são exceção, mas algumas das principais instituições do país já mantêm calendários com missas e outras celebrações recorrentes em suas dependências.

A Gazeta do Povo questionou as 69 universidades federais no Brasil e as cinco maiores instituições estaduais de ensino superior. De todas, sete informaram que há um calendário fixo de missas – entre elas, a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Várias outras afirmaram que, embora não haja uma programação fixa, não há restrições à realização de atividades religiosas dentro das instituições.

A organização das missas não parte da gestão universitária, mas de estudantes e servidores. Um detalhe é que o período pós-pandemia impulsionou as celebrações. Esse é o caso da Unicamp, que recebe missas no campus principal, em Campinas, há mais de 30 anos, mas só a partir de 2022 passou a ter uma celebração fixa semanal.

Um grupo de estudantes que forma a Pastoral Universitária Unicamp cuida de todos os detalhes – desde o contato com os três padres que se revezam para celebrar as missas até a escala de acólitos e músicos.

“Sempre foi muito difícil manter a regularidade, já que todos que ajudam são voluntários. Por isso houve momentos de pausa, mas desde 2022 testemunhamos um crescimento enorme na frequência das missas, de modo que, graças a Deus, conseguimos mantê-las semanalmente”, diz André Líbero Garcia, aluno de Farmácia e coordenador da Pastoral Universitária.

De lá para cá, todas as quintas-feiras às 12h15 as missas são celebradas em uma sala de aula, que minutos antes é adaptada e recebe todos os itens litúrgicos. Com o aumento da participação dos fiéis, neste ano a Pastoral Universitária criou a segunda celebração semanal, nas quartas-feiras às 18h15.

“A missa de quarta é bem rápida e sem músicas. Começamos neste semestre e foi um grande ganho, já que muitos alunos do período noturno passaram a conseguir frequentar”, conta Garcia.

A UFPR passa por um momento semelhante: apesar de a chamada Capela da Reitoria, no centro de Curitiba (PR), existir desde 1958 e já ter sido palco de inúmeras celebrações, foi só em 2023 que as missas passaram a ter um calendário fixo de celebrações. A cada quinze dias, sempre em uma terça-feira às 12h, a capela recebe uma missa. Apesar de aberta ao público, os participantes costumam ser basicamente estudantes universitários, professores e demais funcionários da universidade.

“Quando os estudantes católicos veem que tem a missa dentro da universidade, eles se sentem acolhidos e, digamos, nasce um sadio orgulho dentro deles, no sentido de que podem expressar sua fé também dentro da universidade, onde é um lugar um pouco mais difícil, mais hostil à religião”, diz o padre Alexandre Antosz, da Prelazia do Opus Dei, responsável pelas celebrações.

O sacerdote, que anos atrás estudou História na própria UFPR, também mantém turmas de catecumenato – iniciação católica para adultos – nas dependências da instituição.

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Via de regra, as celebrações ocorrem na transição entre turnos, para receber estudantes que estão saindo ou chegando ao campus, e são de curta duração. As missas na Capela Universitária da UFES, no campus de Vitória (ES), por exemplo, duram no máximo 30 minutos.

Na UFES, as celebrações acontecem todas as terças-feiras às 17 horas – antes e depois da cerimônia, o padre celebrante fica à disposição para confissões.

“Esses momentos são importantes, porque muitos estudantes vêm de fora e ali encontram um espaço onde são acolhidos e têm a oportunidade de conhecer outras pessoas que professam a mesma fé. E os próprios estudantes marcam de se encontrar para conversar e ter outros momentos juntos também”, conta Daniel Cipriano, servidor da UFES.

O espaço também recebe cultos evangélicos e grupos de estudo bíblico. Além disso, consta na programação da Capela Universitária um encontro semanal de muçulmanos.

Outra instituição que mantém um amplo local dedicado a atividades religiosas é a UFSC. O Templo Ecumênico da instituição, em Florianópolis (SC), recebe duas missas semanais, quintas e sextas às 12h.

Para usar o local, alunos ou servidores devem se inscrever em um edital anual, e a atividade proposta fica sujeita à aprovação da universidade. Em 2025 foram aprovados, além das missas, um grupo de oração católico e um evangélico, uma celebração da Igreja Anglicana e um encontro espírita.

Missa na UnicampNa Unicamp, sala de aula é adaptada para celebração da missa (Foto: Davi Antonio Zau de Alvarenga (arquivo pessoal))

Episódios de hostilização são raros

Estudantes, servidores e religiosos ouvidos pela reportagem relataram que hostilizações são bastante raras frente à popularização das missas universitárias. “Pelo contrário, só encontramos o apoio e até a surpresa de muitos alunos. Muitos dizem que não imaginavam que haveria uma missa na universidade e veem isso com muita gratidão e surpresa”, diz o padre Alexandre Antosz.

Mas apesar de raros, episódios de hostilização já ocorreram. Um deles foi na UnB, onde missas são celebradas há décadas, mas só nos últimos anos passaram a ser diárias – de segunda a sexta às 12h15 em um anfiteatro a instituição.

Em um desses casos, uma estudante não cristã tentou receber a comunhão, que segundo a doutrina católica é reservada apenas aos fiéis católicos. Diante da negativa do padre, a jovem passou a ofender o religioso e os demais participantes de forma bastante agressiva, chamando-os de “fascistas”.

“Ela passou a assistir as missas e então um dia entrou na fila de comunhão. O padre negou, desconfiando que não era católica. Nisso ela começou a xingar todos, e os participantes tiveram que intervir para evitar que ela agredisse o padre”, conta Israel Rodrigues, estudante de Farmácia na UnB.

Estudantes da Unicamp iniciam missa em mais um campus nesta semana

Além das duas missas semanais no campus principal da Unicamp, em Campinas (SP), a partir desta semana haverá celebrações as quartas-feiras às 12h15 no campus de Limeira (SP). A cerimônia de inauguração aconteceu nesta quarta (18), em uma sala de aula adaptada.

A iniciativa, que conta com o apoio da Diocese de Limeira, é do Angelus, um grupo universitário católico fundado no ano passado. “A origem desse grupo vem da necessidade que alguns universitários tiveram de viver mais ativamente sua fé, não a deixando fora do campus, mas trazendo-a para cada momento de seu dia”, explica Tobias Bocchi, estudante de Engenharia de Produção e membro do Angelus.

Missas universitárias têm a ver com liberdade religiosa, diz estudante

Para Gustavo Milano, mestrando em Literatura Brasileira na Unicamp, a celebração de missas e demais cerimônias religiosas dentro das universidades é um direito constitucional que deve ser respeitado.

“Embora o Estado seja laico, os cidadãos não o são em sua totalidade. Espaços públicos acolherem eventos religiosos é uma manifestação de respeito ao direito constitucional à liberdade religiosa – cujo desrespeito, aliás, configura crime”, argumenta.

“Também são feitas reservas de salas de aulas e outros espaços da universidade para a realização de atividades muito variadas, desde jogos online em conjunto até assuntos pessoais de alunos e professores. Que a religião da maioria da população brasileira seja celebrada nessas dependências parece-nos inclusive mais justo do que esses outros exemplos citados”, prossegue.



Fonte. Gazeta do Povo

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