(FOLHAPRESS) – Enquanto defende a saída do PP do governo Lula (PT) e se articula para tentar ser o vice do candidato da direita ao Planalto nas próximas eleições, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), mantém há mais de um ano um aliado como assessor da presidência da Caixa.
O piauiense José Trabulo Junior é consultor do presidente do banco, Carlos Antônio Vieira, desde 25 de setembro de 2024. Ele foi um dos coordenadores da última campanha de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência, após indicação do senador, seu amigo.
Publicitário, Trabulo Junior também chefiou a comunicação do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), entre março e novembro de 2023, em um movimento de aproximação com o PP para a campanha à reeleição em 2024.
Homem de confiança de Ciro Nogueira, Trabulo integrou ainda o Conselho Fiscal da Caixa Corretora, uma das subsidiárias do banco, e foi diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no governo Bolsonaro.
Segundo funcionários da Caixa, consultores da presidência recebem quase R$ 40 mil por mês. A reportagem perguntou ao banco o valor do salário, mas não houve resposta.
Ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira tem feito duras críticas ao governo Lula e trabalhado por um nome da direita para enfrentar o petista nas eleições de 2026.
Durante a cerimônia de formalização da recém-criada federação do PP com o União Brasil, o que fará com que os partidos atuem juntos nas próximas eleições, Ciro afirmou que era “constrangedor” estar no governo e acrescentou que, por ele, o ministro do Esporte, André Fufuca (PP), não teria nem entrado.
Nesta quarta-feira (8), afirmou que o PP “não faz e não fará parte do atual governo, com o qual não nutre qualquer identificação ideológica ou programática”, ao anunciar que Fufuca será penalizado por desobedecer a orientação do partido.
A nomeação de Trabulo consta na lista de assessores do presidente da Caixa obtida pela reportagem a partir de um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação) enviado em 9 de maio. A escolha era mantida sob sigilo, e a resposta só foi entregue em 22 de setembro após determinação da CGU (Controladoria-Geral da União).
Ciro não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a indicação de Trabulo.
Questionada, a Caixa afirmou que “a designação de consultores obedece às normas internas e aos ritos de governança, compliance e integridade da instituição”. “O banco adota rígidos mecanismos para identificar possíveis conflitos de interesse entre seus empregados e colaboradores, assegurando a conformidade com as normas e valores que regem a organização”, acrescentou em nota.
Para manter o discurso de oposição a Lula mesmo com o controle da Caixa, PP e União Brasil definiram que integrantes do governo que tivessem mandato eletivo por esses partidos deveriam entregar os cargos até o fim de setembro -o que não ocorreu.
Publicamente, hoje a principal pressão recai sobre Fufuca e o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), que resistem a pedir demissão.
Na segunda (6), Fufuca reafirmou o apoio a Lula nas eleições do ano que vem. Nesta quarta, Sabino também comunicou à federação que prefere enfrentar o processo de expulsão movido pelo União Brasil a deixar o Ministério do Turismo.
Desde a indicação de Vieira para a presidência da Caixa pelo deputado federal Arthur Lira (PP-AL), no fim de 2023, as principais posições do banco têm sido divididas entre partidos do centrão e da direita, como o PP, o União Brasil, o Republicanos e o PL.
A decisão de Ciro e do presidente do União Brasil, Antônio Rueda, de determinar a saída dos filiados com mandato, mas preservar as demais pessoas indicadas por políticos dos dois partidos, manterá a Caixa sob o controle de parlamentares da federação.
Os dois partidos também têm indicados em outros cargos nos ministérios e estatais, como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), a Telebras e diretorias dos Correios.
Em entrevista ao jornal O Globo no domingo (5), Ciro disse que Bolsonaro já escolheu quem vai substituí-lo e que só há duas opções: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou o do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).
A fala provocou reações no bolsonarismo. “Eu não vi até agora nenhuma procuração que o Bolsonaro passou para o Ciro Nogueira para ele falar quem pode ser o candidato da direita, o vice Todo mundo sabe que ele quer ser o vice”, criticou o ruralista Nabham Garcia.
No fim de setembro, o senador disse que “a falta de bom senso na direita” já estava passando de todos os limites: “Ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez. Por mais que tenhamos divergências, não podemos ser cabo eleitoral de Lula, do PT e do PSOL”.

Levantamento Genial/Quaest mostra que Lula lidera todos os cenários da eleição de 2026, tanto no primeiro quanto no segundo turno. O presidente ampliou sua vantagem sobre Tarcísio de Freitas, principal nome da oposição, e venceria também Ciro Gomes, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite
Estadao Conteudo | 08:00 – 09/10/2025
Fonte. Noticias ao minuto