10:52 PM
25 de novembro de 2025

Eutanásia em animais: quando é necessária e como é feita

Eutanásia em animais: quando é necessária e como é feita

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A decisão de realizar ou não a eutanásia em um animal é, sem dúvida, uma das mais difíceis para qualquer tutor. A ideia de encerrar a trajetória de um companheiro costuma vir acompanhada de culpa, medo e dúvidas. Mas, em muitos casos, o avanço de uma doença sem cura e o sofrimento contínuo colocam o responsável diante dessa possibilidade.

Por esse motivo, a eutanásia pode representar um ato de cuidado, amor e dignidade quando o pet já não possui qualidade de vida.

O tema, porém, é alvo de debates no meio veterinário e entre quem cuida de animais, envolvendo questões éticas, emocionais, legais e clínicas. Nesse cenário difícil, compreender em quais situações o procedimento é cogitado, como funciona e quais as alternativas, é muito importante para que os tutores tomem decisões informados.

O que é a eutanásia e quando é indicada

Etimologicamente, “eutanásia” significa “morte boa” ou “morte sem sofrimentos” (eu = bom/boa; thánatos = morte). No Brasil, o procedimento é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e pode ser adotado em situações específicas, devendo seguir protocolos técnicos.

Em geral, a eutanásia é associada a casos em que o animal apresenta doença incurável e sofrimento intenso. Portanto, pode ser indicada em quadros como os de quadros terminais sem resposta ao tratamento; dor persistente, refratária a medicamentos; falência de órgãos ou perda grave de funções fisiológicas.

No entanto, as diretrizes do CFMV delimitam outras situações em que o procedimento pode ser recomendado, especialmente entre animais que não são domésticos. Assim, segundo a entidade, a eutanásia pode ser uma opção quando:

  • O bem-estar estiver comprometido de forma irreversível e não houver possibilidade de controlar dor ou sofrimento com analgésicos, sedativos ou outros tratamentos.
  • O animal representar ameaça à saúde pública, especialmente em casos de zoonoses de alto risco.
  • Houver risco à fauna nativa ou ao meio ambiente, como no caso de espécies invasoras ou transmissores de doenças.
  • O animal for utilizado em ensino ou pesquisa, dentro de protocolos éticos estabelecidos.
  • O tratamento for incompatível com a atividade produtiva a que o animal se destina ou exceder os recursos financeiros do responsável, situação mais comum em animais de produção.
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“É importante ressaltar que a indicação para eutanásia deve ser sempre justificadas no prontuário e sempre baseadas na avaliação clínica e nos princípios de bem-estar animal”, alega Virgínia Emerich, médica-veterinária e conselheira do CFMV.

Como saber se o animal já não tem qualidade de vida?

Quando se trata de animais domésticos, o procedimento só costuma ser considerado em casos onde não há mais como o pet viver com conforto e bem-estar. Nesse contexto, a grande questão para muitos tutores é justamente identificar quando esse ponto foi atingido.

E não é fácil. “Decidir a hora certa gera medo de antecipar a morte ou prolongar o sofrimento, e sentimentos como culpa, dúvida e a sensação de ‘estar desistindo’ do animal são muito comuns”, avalia Virgínia. Também pesa lidar com a despedida e até decidir se quer estar presente durante o processo, por exemplo.

Para tomar essa decisão, a médica aponta que o responsável pelo animal pode perceber a perda de qualidade de vida observando mudanças claras no seu dia a dia. Sinais como dor evidente, dificuldade para levantar ou andar, recusa persistente de comida e água e problemas de higiene, como urinar onde está deitado são indicativos importantes.

Também chamam atenção a apatia, o isolamento, a perda de peso e episódios neurológicos, como convulsões frequentes e em pequenos intervalos que não respondem a tratamento.

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“De forma simples, quando o animal passa a ter mais dias ruins do que bons, com sofrimento visível, isso sugere que sua qualidade de vida está seriamente comprometida”, resume.

Vale dizer que a escolha final deve ser sempre tomada de forma compartilhada entre o responsável e o médico veterinário. E deve ser feita com base em critérios técnicos, incluindo avaliação clínica, resultados de exames, resposta aos tratamentos e análise do comportamento e do bem-estar do bichinho.

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E quando o cuidado paliativo pode ser uma opção?

Os cuidados paliativos são uma abordagem voltada à prevenir e aliviar o sofrimento de pets com doenças graves, limitantes ou incuráveis. O foco não é apenas tratar o quadro clínico, mas promover conforto e bem-estar.

“Ela é indicado quando sabemos que a doença é incurável, mas ainda é possível controlar a dor e oferecer conforto ao animal“, explica Virgínia. Isso inclui um controle da dor, manejo nutricional e suporte hídrico, tratamento de sintomas como náuseas, dificuldade respiratória ou ansiedade, além de adaptações no ambiente para facilitar a rotina do animal.

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“O acompanhamento é contínuo para identificar qualquer piora do quadro ou quando os sintomas não podem mais ser controlados, mesmo com todos os recursos disponíveis”, explica a médica.

Como o procedimento é realizado?

Existem diferentes métodos utilizados para a realização da eutanásia em animais que são aprovados pelo CFMV. A escolha de qual será utilizado depende de vários fatores, como a espécie, a idade, o estado clínico do animal e a capacidade de contenção. Para cães, gatos e outros animais domésticos, o método mais indicado é a aplicação intravenosa de barbitúricos, medicações sedativas e hipnóticas que deprimem o sistema nervoso central.

Assim, o protocolo envolve duas etapas: primeiro, é aplicada a sedação profunda (o animal é colocado em sono profundo, sem dor ou consciência), depois a medicação eutanásica (um fármaco é administrado para interromper funções cardíacas e respiratórias).

Segundo Virgínia, essa técnica permite que o animal adormeça sem dor ou estresse, perdendo a consciência em poucos segundos e evoluindo de forma tranquila para a parada cardiorrespiratória.

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Quando a eutanásia pode ser considerada ilegal?

De acordo com o Código de Ética do Médico Veterinário e normas e manuais do CFMV, ela só pode ser realizada quando há indicação técnica clara. Por isso, é proibido fazer eutanásia por conveniência do responsável, como falta de interesse, mudança de cidade ou dificuldade financeira, bem como em animais saudáveis e com doenças tratáveis.

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Também é irregular quando não se sigam as normas de saúde pública, especialmente em casos de zoonoses de notificação compulsória.

Ainda, é ilegal realizar o procedimento sem registro adequado no prontuário, com métodos cruéis ou não aprovados, ou utilizando substâncias inadequadas. “Quando esses critérios não são respeitados, o profissional e o responsável podem incorrer em infrações éticas, civis, administrativas e até criminais”, destaca a conselheira do CFMV.

Cuidados após a despedida

Após a despedida, as recomendações técnicas orientam que o encaminhamento do animal siga normas de biossegurança e a legislação local. Entre as opções formalmente indicadas estão a cremação e o sepultamento em cemitérios pet regulamentados; em algumas regiões, também há a possibilidade de envio para aterro sanitário licenciado.

Algumas prefeituras oferecem serviços de retirada e encaminhamento adequado de animais falecidos. Vale consultar órgãos como o Centro de Controle de Zoonoses ou secretarias municipais de meio ambiente e saneamento para saber como proceder.

O médico veterinário também pode orientar sobre as alternativas disponíveis na região. Assim, cada tutor pode escolher a opção que considerar mais respeitosa e possível nesse momento tão delicado.

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Medidas de conforto

Perder um animal é uma experiência dolorosa e que deve ser levada a sério, como qualquer outro tipo de luto. Segundo Virgínia, no caso da partida por eutanásia, é importante ter em mente que, quando indicada, ela representa um ato de respeito e amor. “Amor ao bem-estar do animal e respeito ao vínculo que ele construiu com a família”, diz a médica veterinária.

“E o que muitas pessoas não sabem é que, para o médico veterinário, esse também é um dos procedimentos mais dolorosos. Ele foi formado para salvar vidas e aliviar a dor, não para realizá-la”, comenta.

Nesse cenário difícil, quando a dor permanece por muito tempo ou começa a afetar o dia a dia, buscar apoio psicológico é um importante gesto de autocuidado. “Assim como cuidamos do nosso animal com amor, também precisamos cuidar de nós mesmos quando ele se vai”, comenta.

Pensando nisso, este ano, profissionais da saúde publicaram o primeiro livro brasileiro a abordar como a morte de animais de estimação afeta o estado mental dos tutores e dos próprios trabalhadores da área animal.

A seguir, confira algumas recomendações dos autores, ouvidos em reportagem de VEJA SAÚDE:

1. Quando a tristeza vai passar? 

O luto não é um processo linear e a perda de um animal não dói menos do que a de outro ser. Cada pessoa tem o seu tempo.

2. Como ajudar meu filho a superar? 

A morte de um pet pode ser o primeiro contato da criança com a finitude. Fazer rituais de despedida irá ajudá-la a processar o fato.

3. Devo comprar ou adotar um novo? 

Tentar substituir um animal pode ser frustrante. Nenhum bicho é igual ao outro; portanto, não coloque expectativas sobre ele.

4. Tenho direito a licença no trabalho? 

Algumas empresas dão um ou dois dias de afastamento para que o funcionário possa se reorganizar, mas ainda é raro de acontecer.

5. Os veterinários se abalam? 

É um tabu na profissão, mas, sim, também é preciso preservar a saúde mental daqueles que se conectam aos pacientes peludos.

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Fonte.:Saúde Abril

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