A medicina atravessa um momento de revolução dos remédios para o tratamento da obesidade — não se pode negar. No entanto, a busca desenfreada por esse tipo de medicação pode ser perigosa.
Os problemas vão desde o uso indiscriminado dos fármacos sem indicação médica à venda de versões falsificadas e manipuladas dos produtos.
E pode piorar. A encrenca da vez envolve a circulação nas redes sociais de anúncios vendendo retatrutida, um medicamento experimental, que ainda não foi lançado. O composto sequer concluiu a fase de estudos e muito menos conta com aprovação de agências reguladoras para uso.
A molécula, ainda em desenvolvimento pela farmacêutica Lilly, está atualmente na fase 3 dos ensaios clínicos, a última antes da liberação. É justamente nessa etapa que são confirmados quesitos como eficácia e segurança.
“A fase 3 é o momento em que se pesquisa um número maior de pacientes com uma patologia específica. Nesse caso, há estudos para diabetes e obesidade, que seriam as duas grandes indicações”, contextualiza o médico Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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O que é a retatrutida
Com aplicação semanal, a nova molécula funciona de maneira semelhante à de compostos como semaglutida e tirzepatida, mas com maior potência.
A retatrutida é composta por três versões sintéticas de hormônios que agem no tratamento da obesidade — semaglutida e tirzepatida usam, respectivamente, um e dois análogos de hormônios — reduzindo o apetite e aumentando a queima de gordura. Vale destacar que o composto se mostra promissor (só não deve ser comprado ilegalmente).
Em estudos de fase 2 divulgados pela Lilly, a retatrutida levou à perda de até 24% do peso corporal em um prazo de 48 semanas de tratamento. Os achados foram publicados no renomado New England Journal of Medicine. É um resultado ainda mais expressivo do que o da tirzepatida, o mais potente medicamento aprovado para este fim até agora.
A previsão é de que os estudos sejam concluídos em 2026.
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Propaganda irregular e comércio clandestino
O problema é tão sério que, em junho, a Receita Federal apreendeu 60 unidades do medicamento, chamado Synedica Retatrutide. O material estava sendo contrabandeado para o país por uma brasileira de 31 anos, do Ceará.
De acordo com as autoridades, as canetas estavam coladas ao corpo da passageira, que vinha de Madri com destino a Fortaleza. Na operação, ainda foram apreendidas 30 unidades de Mounjaro. Os produtos têm valor estimado em R$ 400 mil, embora o custo de aquisição tenha sido de R$ 50 mil, de acordo com a mulher.
Proibida no Brasil, a retatrutida circula no mercado clandestino. As vendas ocorrem pela internet e os anúncios aparecem até mesmo em redes sociais. Um dos vídeos mostra uma caixa do medicamento, com uma narração que exalta a suposta potência do produto e anuncia que a venda ocorre para todo o país com frete grátis (veja abaixo).
O diretor da SBEM desaconselha o consumo de qualquer versão da medicação antes do lançamento oficial pela farmacêutica. Além disso, alerta que os riscos do uso de retatrutida não são sequer conhecidos nesse momento.
“Ainda não temos bem definidos os dados de efeitos colaterais. Para isso, é necessária a realização de estudos mais amplos, com um número maior de pacientes e de longo prazo”, frisa Macedo.
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Fonte.:Saúde Abril