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- Author, Mark Savage
- Role, Da BBC News
Todo conto de fadas precisa de um final feliz, e depois de 11 álbuns sobre amor, coração partido, e sonhos despedaçados, Taylor Swift encontrou seu príncipe encantado.
Mas, depois de anunciar seu noivado com o jogador de futebol americano Travis Kelce, o que isso pode significar para sua música?
E, desde o início, a vida amorosa da cantora tem sido o fio condutor da sua composição.
Seu single de estreia, Tim McGraw, escrito durante uma aula de matemática na escola, falava sobre seu então namorado, Drew Dunlap.
Acreditando que eles terminariam antes que ele fosse para a faculdade — o que se tornou realidade —, ela escreveu uma música para celebrar as vezes em que eles dançaram lentamente à luz do luar ao som do rádio do carro: “Quando você pensar em Tim McGraw, espero que pense em mim”.
É uma história atemporal — destinada a se repetir nas semanas de recepção de calouros por todo os Estados Unidos neste outono — e que deu início a uma narrativa que permeia toda a carreira de Taylor Swift sobre suas tribulações amorosas.
Ela já escreveu sobre homens emocionalmente indisponíveis (All Too Well), se apaixonar por um “bad boy” (I Knew You Were Trouble) e romances para superação (Getaway Car).
Durante todo esse tempo, ela sempre esteve ciente do nível obsessivo de debate em torno de seus relacionamentos. Em Shake It Off, ela ironizou o discurso da mídia: “Vou a muitos encontros, mas não consigo fazê-los funcionar, pelo menos é isso que as pessoas dizem”.

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Blank Space foi além, pegando todos os rumores horríveis sobre sua vida amorosa e os ampliando com um tom satírico.
“Nos últimos anos, a mídia teve uma fixação maravilhosa em me pintar como uma garota psicopata que namora em série”, ela disse ao Grammy Museum.
“Toda reportagem era assim: ‘Aqui está Taylor Swift perto de algum cara. Cuidado, cara!’. Minha primeira reação foi pensar: ‘Que droga, isso não tem graça pra mim.'”, contou.
“Mas minha segunda reação foi: ‘Na verdade, essa é uma personagem muito interessante que eles estão criando: ela viaja o mundo colecionando homens, pode ter qualquer um deles, mas é tão grudenta que eles a deixam e ela chora em sua banheira de mármore cercada de pérolas’. Então eu pensei que podia usar isso.”
É um assunto que ela voltou a falar em suas músicas no ano passado. Em But Daddy I Love Him, ela comparou as críticas online ao seu relacionamento com Matty Healy, do The 1975, a uma vila cheia de puritanos armados com forquilhas.
Confrontando seu público, ela repreendeu: “Vou te dizer algo sobre meu bom nome, só a mim cabe desonrá-lo. Eu não cedo a todas essas víboras vestidas de roupas empáticas.”
‘Contentamento é um assassino da criatividade’
É reducionista transformar todo o catálogo de Swift — suas 274 músicas até o momento — em uma novela sobre sua vida amorosa.
Ela já escreveu letras perspicazes e afiadas sobre a mídia (Who’s Afraid of Little Old Me?), sobre os laços da amizade (22), e até sobre sair impune de um assassinato (No Body No Crime).
Mas não é à toa que ela foi chamada de “a maior diarista do pop” e “a mestre da memória”.
Então, o que pode acontecer quando ela se casar?
Como sua amiga e colaboradora Florence Welch, do Florence and the Machine, uma vez apontou: “O contentamento é um assassino da criatividade”.
“A felicidade conjugal e o tédio doméstico tendem a gerar canções de rock menos interessantes do que a busca pelo amor”, concorda a jornalista e autora Hadley Freeman, em entrevista ao programa Today, da BBC Raio 4.
Como prova, basta olhar para Bruce Springsteen. Em 1991, ele se casou com sua colega de banda Patti Scialfa, dissolveu a E Street Band e se mudou para a Califórnia.
Springsteen celebrou sua recém-descoberta serenidade em dois álbuns — Human Touch e Lucky Town — mas eles são regularmente classificados como os piores da sua carreira.

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Artistas mulheres têm usado, com frequência, seus momentos ruins como fontes de inspiração.
Ray Of Light, de Madonna, escrito depois do nascimento de sua filha Lourdes, deixou de lado sua persona ousada dos anos 1980 em favor de um som mais espiritual e psicodélico.
Em meio a uma concorrência acirrada, continua sendo seu melhor álbum — e eu discutiria com quem dissesse o contrário.
Quando Beyoncé revelou que estava grávida, no palco do MTV Awards de 2011, os colunistas se atropelaram em especulações sobre o que isso significaria para sua música.
Mas seu álbum seguinte, Beyoncé (2013), foi um ponto de virada — um trabalho disruptivo, experimental e futurista que estabeleceu o modelo para o terceiro ato de sua carreira.
Taylor Swift já provou que consegue escrever canções emocionantes e comoventes a partir de um lugar de felicidade. Seu relacionamento de seis anos com Joe Alwyn gerou músicas como Delicate e Lover, que estão entre as melhores de sua carreira.
Ela já escreveu duas músicas sobre Kelce, ambas lançadas no álbum do ano passado, The Tortured Poets Department.
Em So High School, ela descreveu como o cavalheirismo do namorado restaurou sua fé nos homens, enquanto em The Alchemy, ela exaltou o momento em que ele venceu o Super Bowl e ignorou o troféu para “correr direto até mim”.
A cantora confirmou recentemente que seu próximo álbum (o 12°), The Life of a Showgirl, é “mais animado” do que o restante do material de Tortured Poets Department — que tratava, em grande parte, de sua separação de Alwyn e do relacionamento turbulento com Healy.
Falando no podcast New Heights, ela contou que Showgirl foi gravado durante a etapa europeia de sua história Eras Tour — no início de seu relacionamento com Kelce.
“Vem de um lugar mais contagiante de alegria, selvagem e dramático que eu já estive em minha vida. E essa efervescência se refletiu nesse álbum”, ela disse.
De forma sucinta, Kelce resumiu o álbum como “12 hinos”.

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De volta à pergunta inicial deste texto: a música de Taylor Swift vai refletir sua nova fase de felicidade?
Seria estranho se não refletisse.
Mas não podemos esquecer que seu último período de felicidade doméstica, durante o relacionamento como Alwyn, também levou a uma mudança em relação às letras de suas músicas, em estilo diário.
Os álbuns da era da pandemia, Folklore e Evermore, abraçaram narrativas ficcionais e fantásticas, ambientadas em paisagens sonoras orgânicas e acústicas.
Eles marcaram um ponto de virada no prestígio cultural de Swift, rejuvenescendo sua carreira após o mal recebido Lover.
Se o casamento provocar outra mudança, isso pode abrir um capítulo totalmente novo em sua carreira.
“Existe todo um outro campo de material quando você é casada ou está estabilizada”, disse a autora Olivia Petter ao programa Woman’s Hour, da Radio 4.
“É um tipo diferente de conto de fadas, um tipo diferente de fantasia, no qual ela está entrando agora.”
Alguns fãs já destacaram que o número da sorte da estrela é 13 — e que seu 13° álbum será o primeiro a falar do seu casamento.
Para os Swifties mais inclinados às teorias da conspiração, quase parece que ela planejou tudo desde o começo.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL